sábado, 26 de junho de 2010

(Re)descobrir o passado recente



Raramente o país se olha ao espelho e, quando o faz, poucas vezes gosta do reflexo que vê.
Temos medo da memória colectiva, dos "fantasmas" guardados nos armários, de tudo o que possa agitar a nossa "brandura social".
Abordamos a ditadura salazarista com pinças, branqueando-a, tornando-a "suave" quando comparada com outras além fronteiras.
Raramente revisitamos a guerra colonial, as suas consequências numa geração inteira quase não existem na nossa literatura e no cinema.
Temos um medo colectivo de enfrentar a realidade, de analisar as convulsões históricas, de interpretar o presente à luz de acontecimentos passados.
Não gostamos de confrontos ideológicos, de movimentações sociais, de radicalismos políticos, de assumir posições divergentes.
Preferimos a tepidez do silêncio e da negação.

É neste contexto que iniciativas como a do site da Associação Memoriando nos permitem (re)descobrir parte do nosso passado recente, sem receios de falta de distanciação temporal face aos acontecimentos e aos protagonistas.
Criado com o apoio do Instituto Internacional de História Social da Holanda, especializado em lutas sociais, o site documenta a história das Brigadas Revolucionárias (BR) e do Partido Revolucionário do Proletariado (PRP), disponibilizando informação e documentação cedidas pelos próprios intervenientes destes movimentos anti-fascistas.

Um site a explorar, sem preconceitos ideológicos.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Arriba! Avanti! Pop Dell’Arte!



Há bandas assim, peritas em estilhaçar as convenções básicas do mercado musical, especialistas em desbaratar as raras hipóteses de sucesso mediático e exímias em ignorar as exigências de visibilidade da sociedade do espectáculo.

Poucas destas bandas têm carreiras longas. Um número ínfimo consegue manter a relevância estética e fazer-nos ansiar pelo próximo disco. Os Pop Dell’Arte conseguem o pleno em ambas as categorias.

No ano em que completam 25 anos de carreira, várias formações depois (da formação original apenas se mantêm João Peste e José Pedro Moura) e 8 anos depois do último disco de originais, o EP So Goodnight, os Pop Dell’Arte regressam com a edição de Contra Mundum.

O novo álbum não será certamente a pedrada no charco que constituiu o lançamento de Querelle ou de Free Pop, em meados dos anos 80, mas as marcas identitárias da banda mantêm-se imutáveis: a necessidade de experimentação, a transposição de referências extra-musicais para o seu universo sónico, a produção cuidada e a incorporação de novas influências na sua própria identidade musical.

Os ouvidos mais atentos conseguirão certamente detectar, em Contra Mundum, reflexos de outros temas do grupo e pontes para influências musicais e estéticas anteriormente exploradas pela banda de João Peste – os poemas fonéticos, o multilinguismo, a torch song transfigurada e desconstruída, o dadaísmo e o decadentismo, o homo-erotismo, a influência da música de dança e do cabaret, Rimbaud e Genet…

Ritual Transdisco, My Rat Ta-Ta, Eastern Streets, La Nostra Feroce Volontà d’Amore (com a genial inclusão de A Internacional no final da faixa) e Har Megido’s Lullaby impelem-nos a audições consecutivas do álbum e entram directamente para a lista das melhores canções criadas pelos Pop Dell’Arte.

Nada do que se encontra nas 13 faixas do álbum é verdadeiramente novo, dirão alguns. Tudo o que se encontra no disco tem a matriz fundadora do projecto, afirmamo-lo nós. E essa matriz continua a ser das mais estimulantes do panorama musical português.

A espera valeu a pena.

domingo, 20 de junho de 2010

No Vaticano ainda se sentem saudades da Inquisição



Um dia após a morte de José Saramago, o pasquim do Vaticano, L’Osservatore Romano, publicou um artigo em que define o escritor como populista e extremista, considerando-o "um homem e um intelectual de nenhuma admissão metafísica, ancorado até ao final numa confiança arbitrária no materialismo histórico, aliás marxismo".

Registe-se mais esta manifestação da habitual "tolerância" católica, para com todos aqueles que têm a lucidez de resistir e dizer não ao obscurantismo religioso que emana do Vaticano.

No reino de Bento XVI ainda se suspira de saudades pelos tempos da Inquisição...

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Um pouco de vergonha na cara também lhe fazia bem...



O Presidente da República, Cavaco Silva, recordou hoje José Saramago como um "escritor de projecção mundial", sublinhando que o escritor e Nobel português "será sempre uma figura de referência" da cultura nacional.

Como a memória é curta, recorde-se que Cavaco Silva era primeiro-ministro do governo que vetou, em 1992, a candidatura de O Evangelho Segundo Jesus Cristo ao Prémio Literário Europeu.
 
O então subsecretário de Estado da Cultura, Sousa Lara, vetou o livro de uma lista de romances portugueses, alegando que o escritor não representava o pensamento da maioria dos portugueses e sob pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos...
 
Senhor Cavaco, um pouco de vergonha na cara é o mínimo que lhe exigimos...

Levantado do Chão



José Saramago (16 de Novembro de 1922 - 18 de Junho de 2010)

    
Estes homens e estas mulheres nasceram para trabalhar, são gado inteiro ou gado rachado, saem ou tiram-nos das barrigas das mães, põem-nos a crescer de qualquer maneira, tanto faz, preciso é que venham a ter força e destreza de mãos, mesmo que para um gesto só, que importância tem se em poucos anos ficarem pesados e hirtos, são cepos ambulantes que quando chegam ao trabalho a si próprios se sacodem e da rigidez do corpo fazem sair dois braços e duas pernas que vão e vêm, por aqui se vê a que ponto chegaram as bondades e a competência do Criador, obrando tão perfeitos instrumentos de cava e ceifa, de monda e serventia geral.
Tendo nascido para trabalhar, seria uma contradição abusarem do descanso. A melhor máquina é sempre a mais capaz de trabalho contínuo, lubrificada que baste para não emperrar, alimentada sem excesso, e se possível no limite económico da simples manutenção, mas sobretudo de substituição fácil, se avariada está, velha outra, os depósitos desta sucata chamam-se cemitérios, ou então senta-se a máquina nos portais, toda ela ferrujosa e gemente, a ver passar coisa nenhuma, olhando apenas as mãos tristíssimas, quem me viu e quem me vê. No geral do latifúndio, os homens e as mulheres têm seu tempo regateado de vida, espanta-se a gente de como alguns vão a velhos, e muito mais quando, passando, encontramos um que à vista é ancião e ouvimos dizer que tem quarenta anos, ou esta mulher murcha e com a face encorreada, ainda não fez trinta, afinal viver no campo não dá vida acrescentada, são invenções da cidade, é como aquele regradíssimo ditado, Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer, tinha graça vê-los aqui com a mão no cabo da enxada e os olhos no horizonte à espera do sol ou derreados das cruzes ansiando por um anoitecer que nunca mais chega, o sol é um desgraçado, cheio de pressa de sair e com tão pouca de se apagar. Como os homens.

José Saramago in "Levantado do Chão"

terça-feira, 15 de junho de 2010

Um país à jorna



Alargar para três e quatro anos o prazo dos contratos a prazo, quando hoje vão de 18 meses a dois anos, e permitir renovações ilimitadas destes é um dos pilares centrais da proposta de legislação laboral especial, a vigorar durante a aplicação do Programa de Estabilidade e Crescimento (até final de 2013), que o PSD vai apresentar no Parlamento.

O PSD, aliado às confederações patronais, prepara-se para fazer o óbvio: acrescentar precariedade à precariedade.
 
A pretexto da crise que os próprios criaram, o patronato e a direita afiam as facas, ensaiando as medidas legislativas que há muito anseiam - a precarização absoluta dos vínculos laborais e a diminuição efectiva e duradoura dos salários.
 
O sonho húmido desta gente é um país à jorna...

domingo, 13 de junho de 2010

Um bom capricho, que não precisa de outros adjectivos...


Para assinalar o primeiro ano da sua eleição como eurodeputado, na lista do Bloco de Esquerda, Rui Tavares lança um projecto de bolsas financiadas através dos seus próprios rendimentos.


Nesta casa saudamos a iniciativa e louvamos o "capricho" do Rui Tavares.

Mais informações disponíveis em ruitavares.net


Memórias Afectivas

Os dias também se fazem de memórias...



Al Berto (11 de Janeiro de 1948 - 13 de Junho de 1997)




António Variações (03 de Dezembro de 1944 - 13 de Junho de 1984)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

OGM, não obrigado! - Petição Internacional



A petição pedindo a introdução de uma moratória no que respeita à licença de cultivo de transgénicos na Europa, bem como a criação de um organismo científico independente e ético para investigar o impacto das culturas de transgénicos, poderá ser assinada aqui.

O nacionalismo provoca-nos urticária




"Ó Portugal, se fosses só três sílabas / de plástico, que era mais barato!"
Alexandre O'Neill

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Gaza - Petição Internacional


A petição da Avaaz, por uma investigação independente ao ataque à frota humanitária e pelo fim do bloqueio a Gaza, está prestes a atingir as 500.000 assinaturas.

Assine aqui e divulgue!

É sempre a mesma cantiga




Sempre que se fala em educação sexual, o coro dos zeladores da moral e dos bons costumes vêm a terreiro zurzir na APF, utilizando a retórica habitual  de quem apenas defende o obscurantismo religioso no que às questões da sexualidade diz respeito.

Os argumentos da direita conservadora, que até criou uma  Plataforma Resistência Nacional (por momentos julgámos que Portugal estaria prestes a ser invadido por uma potência estrangeira), repetem-se ano após ano, remoendo sempre a mesma cantiga.

A necessidade da Escola Pública ser um veículo de formação para uma sexualidade informada e destituída de preconceitos morais/religiosos é algo que há muito deveria ser uma realidade neste país, por muito que isso custe a todos os que ainda não se habituaram à ideia de que felizmente vivemos num estado laico. 

terça-feira, 8 de junho de 2010

Já percebemos exactamente o que pretendem fazer a seguir...




Depois de nos venderem um discurso hegemónico de que as medidas resultantes do PEC são inevitáveis, como se não existissem outras alternativas e propostas, tornou-se hoje claro que a flexibilização das leis laborais serão a próxima "inevitabilidade" para nos fazer sair da crise.

As declarações do comissário europeu Olli Rehn, que pediu a Portugal e Espanha novas reformas na Segurança Social e no mercado de trabalho, aliadas à receptividade do PS às intenções expressas pelo PSD, ao silêncio conivente do PP e ao rejubilar ruidoso das associações patronais, fazem-nos desde já antever quais as "medidas inevitáveis" que iremos enfrentar num futuro próximo.

Sabemos exactamente o que pretendem. Sabemos exactamente o que querem dizer quando repetem até à exaustão que já não existem empregos para a vida. Sabemos exactamente o que entendem por flexibilização do mercado de trabalho...
Sabemos exactamente que esta nova inevitabilidade, no fundo, apenas nos conduzirá a salários mais baixos, a vínculos contratuais ainda mais precários e a despedimentos em versão simplex.

Já percebemos exactamente o que pretendem fazer a seguir...



segunda-feira, 7 de junho de 2010

As férias portuguesas da Maria do Cavaco



Depois de concretizar o sonho de Maria, levando-a de férias à Capadócia, numa visita de estado paga com os nossos impostos, Cavaco exorta os portugueses a gozarem férias em Portugal...

Se o nacionalismo bacoco se propaga por esse mundo fora, teremos apenas turistas portugueses em terras do sr. Silva...

Com os ordenados que temos, com a taxa de desemprego actual e com as medidas do PEC, a  maioria dos portugueses não passará das areias da Caparica.

Dedicado à Isilda Pegado




Pelas 09:45, de hoje, a conservadora da 7ª Conservatória de Lisboa declarou que em nome da lei e da República Portuguesa, Helena e Teresa estão unidas pelo casamento.
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