domingo, 8 de agosto de 2010

Entre nós e as palavras # 1


Na cidade de Palaguín
o dinheiro corrente eram olhos de crianças.
Em todas as ruas havia um bordel
e uma multidão de prostitutas
que frequentavam aos grupos casas de chá.
Havia dramas e histórias de «era uma vez»...
Havia hospitais repletos
onde à porta o pus escorria para as valetas;
Havia janelas que nunca se abriam
e prisões descomunais sem portas;
Havia gente de bem a vagabundear
com a barba crescida;
Havia cães enormes e famélicos
devorando mortos insepultos e voantes;
Havia três agências funerárias
em todos os locais de turismo da cidade;
Havia gente bebendo sofregamente
a água dos esgotos e das poças;
Havia um corpo de bombeiros
que lançava nas chamas gasolina.

Na cidade de Palaguín
havia crianças sem braços e desnudas
que brincavam em parques de pântanos e abismos;
Havia ardinas que à tarde anunciavam
a falência do jornal que vendiam;
Havia cinemas onde o preço de entrada
era o sexo dum adolescente
(as mães cortavam os sexos dos filhos para verem cinema)
Havia um trust bem organizado
para a exploração do homossexualismo;
Havia leiteiros que ao alvorecer
distribuíam sangue quente ao domicílio;
Havia pobres que somente aceitavam como esmola
sacos de ouro de trezentos e dois quilos;
E havia ricos que pelos passeios
imploravam misericórdia e chicotadas;
Na cidade de Palaguín
Havia bêbados emborcando ácidos
e retorcendo-se em espasmos na valeta;
Havia gatos sedentos
que iam beber leite aos seios das virgens;
Havia uma banda de música
que dava concertos com metralhadoras;
Havia velhas que se suicidavam
atirando-se das paredes para o meio da multidão;
Havia balneários públicos
com duches de vitríolo – quente e frio
– a população banhava-se frequentes vezes...
Na cidade de Palaguín
havia Havia HAVIA

Três vezes nove um milhão!

Carlos Eurico da Costa - "Palaguín"

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