Raramente o país se olha ao espelho e, quando o faz, poucas vezes gosta do reflexo que vê.
Temos medo da memória colectiva, dos "fantasmas" guardados nos armários, de tudo o que possa agitar a nossa "brandura social".
Abordamos a ditadura salazarista com pinças, branqueando-a, tornando-a "suave" quando comparada com outras além fronteiras.
Raramente revisitamos a guerra colonial, as suas consequências numa geração inteira quase não existem na nossa literatura e no cinema.
Temos um medo colectivo de enfrentar a realidade, de analisar as convulsões históricas, de interpretar o presente à luz de acontecimentos passados.
Não gostamos de confrontos ideológicos, de movimentações sociais, de radicalismos políticos, de assumir posições divergentes.
Preferimos a tepidez do silêncio e da negação.
É neste contexto que iniciativas como a do site da Associação Memoriando nos permitem (re)descobrir parte do nosso passado recente, sem receios de falta de distanciação temporal face aos acontecimentos e aos protagonistas.
Criado com o apoio do Instituto Internacional de História Social da Holanda, especializado em lutas sociais, o site documenta a história das Brigadas Revolucionárias (BR) e do Partido Revolucionário do Proletariado (PRP), disponibilizando informação e documentação cedidas pelos próprios intervenientes destes movimentos anti-fascistas.
Há bandas assim, peritas em estilhaçar as convenções básicas do mercado musical, especialistas em desbaratar as raras hipóteses de sucesso mediático e exímias em ignorar as exigências de visibilidade da sociedade do espectáculo.
Poucas destas bandas têm carreiras longas. Um número ínfimo consegue manter a relevância estética e fazer-nos ansiar pelo próximo disco. Os Pop Dell’Arte conseguem o pleno em ambas as categorias.
No ano em que completam 25 anos de carreira, várias formações depois (da formação original apenas se mantêm João Peste e José Pedro Moura) e 8 anos depois do último disco de originais, o EP So Goodnight, os Pop Dell’Arte regressam com a edição de Contra Mundum.
O novo álbum não será certamente a pedrada no charco que constituiu o lançamento de Querelle ou de Free Pop, em meados dos anos 80, mas as marcas identitárias da banda mantêm-se imutáveis: a necessidade de experimentação, a transposição de referências extra-musicais para o seu universo sónico, a produção cuidada e a incorporação de novas influências na sua própria identidade musical.
Os ouvidos mais atentos conseguirão certamente detectar, em Contra Mundum, reflexos de outros temas do grupo e pontes para influências musicais e estéticas anteriormente exploradas pela banda de João Peste – os poemas fonéticos, o multilinguismo, a torch song transfigurada e desconstruída, o dadaísmo e o decadentismo, o homo-erotismo, a influência da música de dança e do cabaret, Rimbaud e Genet…
Ritual Transdisco, My Rat Ta-Ta, Eastern Streets, La Nostra Feroce Volontà d’Amore (com a genial inclusão de A Internacional no final da faixa) e Har Megido’s Lullaby impelem-nos a audições consecutivas do álbum e entram directamente para a lista das melhores canções criadas pelos Pop Dell’Arte.
Nada do que se encontra nas 13 faixas do álbum é verdadeiramente novo, dirão alguns. Tudo o que se encontra no disco tem a matriz fundadora do projecto, afirmamo-lo nós. E essa matriz continua a ser das mais estimulantes do panorama musical português.
Registe-se mais esta manifestação da habitual "tolerância" católica, para com todos aqueles que têm a lucidez de resistir e dizer não ao obscurantismo religioso que emana do Vaticano.
No reino de Bento XVI ainda se suspira de saudades pelos tempos da Inquisição...
Como a memória é curta, recorde-se que Cavaco Silva era primeiro-ministro do governo que vetou, em 1992, a candidatura de O Evangelho Segundo Jesus Cristo ao Prémio Literário Europeu.
O então subsecretário de Estado da Cultura, Sousa Lara, vetou o livro de uma lista de romances portugueses, alegando que o escritor não representava o pensamento da maioria dos portugueses e sob pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos...
Senhor Cavaco, um pouco de vergonha na cara é o mínimo que lhe exigimos...
José Saramago (16 de Novembro de 1922 - 18 de Junho de 2010)
Estes homens e estas mulheres nasceram para trabalhar, são gado inteiro ou gado rachado, saem ou tiram-nos das barrigas das mães, põem-nos a crescer de qualquer maneira, tanto faz, preciso é que venham a ter força e destreza de mãos, mesmo que para um gesto só, que importância tem se em poucos anos ficarem pesados e hirtos, são cepos ambulantes que quando chegam ao trabalho a si próprios se sacodem e da rigidez do corpo fazem sair dois braços e duas pernas que vão e vêm, por aqui se vê a que ponto chegaram as bondades e a competência do Criador, obrando tão perfeitos instrumentos de cava e ceifa, de monda e serventia geral.
Tendo nascido para trabalhar, seria uma contradição abusarem do descanso. A melhor máquina é sempre a mais capaz de trabalho contínuo, lubrificada que baste para não emperrar, alimentada sem excesso, e se possível no limite económico da simples manutenção, mas sobretudo de substituição fácil, se avariada está, velha outra, os depósitos desta sucata chamam-se cemitérios, ou então senta-se a máquina nos portais, toda ela ferrujosa e gemente, a ver passar coisa nenhuma, olhando apenas as mãos tristíssimas, quem me viu e quem me vê. No geral do latifúndio, os homens e as mulheres têm seu tempo regateado de vida, espanta-se a gente de como alguns vão a velhos, e muito mais quando, passando, encontramos um que à vista é ancião e ouvimos dizer que tem quarenta anos, ou esta mulher murcha e com a face encorreada, ainda não fez trinta, afinal viver no campo não dá vida acrescentada, são invenções da cidade, é como aquele regradíssimo ditado, Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer, tinha graça vê-los aqui com a mão no cabo da enxada e os olhos no horizonte à espera do sol ou derreados das cruzes ansiando por um anoitecer que nunca mais chega, o sol é um desgraçado, cheio de pressa de sair e com tão pouca de se apagar. Como os homens.
O PSD, aliado às confederações patronais, prepara-se para fazer o óbvio: acrescentar precariedade à precariedade.
A pretexto da crise que os próprios criaram, o patronato e a direita afiam as facas, ensaiando as medidas legislativas que há muito anseiam - a precarização absoluta dos vínculos laborais e a diminuição efectiva e duradoura dos salários.
Para assinalar o primeiro ano da sua eleição como eurodeputado, na lista do Bloco de Esquerda, Rui Tavares lança um projecto de bolsas financiadas através dos seus próprios rendimentos.
A petição pedindo a introdução de uma moratória no que respeita à licença de cultivo de transgénicos na Europa, bem como a criação de um organismo científico independente e ético para investigar o impacto das culturas de transgénicos, poderá ser assinada aqui.
A petição da Avaaz, por uma investigação independente ao ataque à frota humanitária e pelo fim do bloqueio a Gaza, está prestes a atingir as 500.000 assinaturas.
Sempre que se fala em educação sexual, o coro dos zeladores da moral e dos bons costumes vêm a terreiro zurzir na APF, utilizando a retórica habitual de quem apenas defende o obscurantismo religioso no que às questões da sexualidade diz respeito.
Os argumentos da direita conservadora, que até criou uma Plataforma Resistência Nacional (por momentos julgámos que Portugal estaria prestes a ser invadido por uma potência estrangeira), repetem-se ano após ano, remoendo sempre a mesma cantiga.
A necessidade da Escola Pública ser um veículo de formação para uma sexualidade informada e destituída de preconceitos morais/religiosos é algo que há muito deveria ser uma realidade neste país, por muito que isso custe a todos os que ainda não se habituaram à ideia de que felizmente vivemos num estado laico.
Depois de nos venderem um discurso hegemónico de que as medidas resultantes do PEC são inevitáveis, como se não existissem outras alternativas e propostas, tornou-se hoje claro que a flexibilização das leis laborais serão a próxima "inevitabilidade" para nos fazer sair da crise.
As declarações do comissário europeu Olli Rehn, que pediu a Portugal e Espanha novas reformas na Segurança Social e no mercado de trabalho, aliadas à receptividade do PS às intenções expressas pelo PSD, ao silêncio conivente do PP e ao rejubilar ruidoso das associações patronais, fazem-nos desde já antever quais as "medidas inevitáveis" que iremos enfrentar num futuro próximo.
Sabemos exactamente o que pretendem. Sabemos exactamente o que querem dizer quando repetem até à exaustão que já não existem empregos para a vida. Sabemos exactamente o que entendem por flexibilização do mercado de trabalho...
Sabemos exactamente que esta nova inevitabilidade, no fundo, apenas nos conduzirá a salários mais baixos, a vínculos contratuais ainda mais precários e a despedimentos em versão simplex.
Já percebemos exactamente o que pretendem fazer a seguir...
Depois de concretizar o sonho de Maria, levando-a de férias à Capadócia, numa visita de estado paga com os nossos impostos, Cavaco exorta os portugueses a gozarem férias em Portugal...
Se o nacionalismo bacoco se propaga por esse mundo fora, teremos apenas turistas portugueses em terras do sr. Silva...
Com os ordenados que temos, com a taxa de desemprego actual e com as medidas do PEC, a maioria dos portugueses não passará das areias da Caparica.
Pelas 09:45, de hoje, a conservadora da 7ª Conservatória de Lisboa declarou que em nome da lei e da República Portuguesa, Helena e Teresa estão unidas pelo casamento.