1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
Mas julgamos que neste momento continuamos a não ter esta questão suficientemente debatida e sedimentada na sociedade, em que o PCP também se integra, para que se altere a lei neste sentido. Assumimos nesta matéria portanto aquilo a que se poderia chamar uma posição de prudência construtiva, que pensamos ser boa conselheira quando se legisla em matérias tão complexas como esta o é.
Quero no entanto deixar claro que o nosso voto nesta matéria, seguindo idênticas posições anteriores, não significa uma posição de rejeição (e naturalmente também não de aprovação) da possibilidade de adoção por casais de pessoas do mesmo sexo, mas expressa apenas a necessidade de prosseguir o debate e o esclarecimento sobre a questão, debate em que naturalmente não enjeitamos integrar-nos.
No dia 12 de Fevereiro o presidente Loukas Papademous, lacaio do Deutsche Bank, e a maioria governamental aprovaram o segundo memorando que institucionaliza o resgate dos bancos, dos homens de negócios e do euro e, por outro lado, sacrifica o povo aos deuses da especulação. Este pacote de austeridade pretende impor medidas que nenhum povo pode aceitar. Os “parceiros” da União Europeia exigem ao povo grego um corte de 32% no salário mínimo daqueles que têm menos de 25 anos, e de 22% aos que têm mais de 25 anos. Os contratos colectivos de trabalho são eliminados para conseguir o despedimento de 15 mil trabalhadores no sector público, e vão ser destruídos 150 mil empregos através da não renovação de contratos.
Este novo pacote de austeridade exige também cortes nas pensões e nos salários dos serviços públicos, a privatização de bens do Estado e cortes nos serviços públicos, incluindo saúde, assistência social e educação. Na verdade, estamos a falar da morte da sociedade. Neste momento a Grécia é governada por um governo que não foi eleito. Um governo no qual a extrema-direita faz parte. Um governo que impõe políticas que acabam com direitos humanos e direitos laborais, obriga escolas e hospitais a encerrarem, condena mais de 20% da população à pobreza extrema e ao desemprego, ignora a vontade do povo demonstrada em várias manifestações em que centenas de milhares de pessoas participaram, vende todo o tipo de propriedade pública, tolera e encoraja a violência policial. A resposta à crise estrutural do capitalismo por parte do capital, da banca e do estado burguês, é a completa demolição de qualquer direito laboral e social de forma a salvar os seus lucros e o sistema em si mesmo.
O povo grego, com coragem, revolta-se contra esta política de intimidação social. Apesar do total silêncio dos media e de toda a repressão violenta, as manifestações e greves gerais multiplicam-se. No último domingo, juntaram-se na Praça Sintagma, mais de meio milhão de pessoas para mostrar a sua oposição e hostilidade contra as novas medidas de austeridade. A manifestação foi cruelmente reprimida, com gás lacrimogéneo e violência policial, o que levou 20 pessoas a serem assistidas no hospital. Tentam aterrorizar todos os lutadores sociais, a fim destes obedecerem. Apesar desta extrema violência repressiva, o povo grego continua a manifestar-se mostrando que não tem medo! Não há nenhuma outra solução que não a luta social, numa sociedade onde não se vislumbra futuro para os trabalhadores e a juventude.
Confrontando-nos com uma crise que se expande na União Europeia, mais vai para além desta, a solidariedade entre os povos é uma arma nas nossas mãos. A Grécia e Portugal estão na mesma situação económica e partilham um futuro comum – nós somos a primeira cobaia de um novo modelo cruel de gestão do capitalismo. É necessário que o povo português se levante e manifeste a sua solidariedade para com o povo grego e para com todas as lutas sociais na Europa. É tempo de coordenar as nossas lutas, de nos revoltarmos! É tempo de dizer bem alto que não vamos fazer mais sacrifícios em nome dos patrões, dos bancos. Do euro! É tempo de dizer bem alto que não pagamos um dívida que não é nossa!
Αλληλεγγύη με τους Έλληνες!
Solidarity with the Greek people!
Solidarité avec le peuple grec!
Solidarität mit den griechischen Menschen!
Solidaridad con el pueblo griego!
Solidariedade com o povo grego!
Solidarietà con il popolo greco!
Солидарность с греческого народа!
Yunan halkı ile dayanışma!
التضامن مع الشعب اليوناني
希腊人民的声援
À mulher solteira que vive sem família, ou tendo de sustentar família, acho que devem ser dadas todas as facilidades legais para prover ao seu sustento e ao sustento dos seus. Mas a mulher casada, como o homem casado, é uma coluna da família, base indispensável de uma obra de reconstrução moral. Dentro do lar, claro está, a mulher não é uma escrava. Deve ser acarinhada, amada e respeitada, porque a sua função de mãe, de educadora dos seus filhos, não é inferior à do homem. Nos países ou nos lugares onde a mulher casada concorre com o trabalho do homem – nas fábricas, nas oficinas, nos escritórios, nas profissões liberais – a instituição da família, pela qual nos batemos como pedra fundamental duma sociedade bem organizada, ameaça ruína … Deixemos, portanto, o homem a lutar com a vida no exterior, na rua … E a mulher a defendê-la, a trazê-la nos seus braços, no interior da casa…
António de Oliveira Salazar, em entrevista a António Ferro
14% – taxa de desemprego no quarto trimestre de 2011 em Portugal. Ou seja, mais 1,6 pontos percentuais do que no trimestre anterior.
771.000 - número de desempregados no país, contabilizados segundo os critérios oficiais. Se forem incluídas as pessoas desencorajadas mas que gostariam de encontrar trabalho, o número real deverá aproximar-se ou mesmo ultrapassar o milhão.
35,4% – taxa de desemprego dos jovens entre Outubro e Dezembro de 2011. Esta estatística diz respeito à população entre 15 e 24 anos.
31% – percentagem da subida da taxa de desemprego jovem.
17,5% – taxa de desemprego do Algarve, no fim do quarto trimestre de 2011. É a região com o valor mais elevado
52,6% – proporção dos desempregados que estão sem trabalho há 12 meses ou mais.
80.200 – número de trabalhadores que estão à procura do primeiro emprego
108.000 – número de desempregados que tem formação superior (14% dos desempregados)
226.900 – número de desempregados com 45 anos ou mais; é a faixa etária mais afectada
365.300 – número de mulheres sem emprego no fim de 2011 (taxa de 14,1%)
405.700 – número de homens desempregados no fim de 2011 (taxa de 13,9%)
Quando um povo é atacado, todos os povos são atacados.
A 10 de Fevereiro, o governo grego não eleito adoptou um hediondo e destrutivo plano de austeridade, aprovado pelo parlamento (199 deputados votaram a favor, contra os restantes 101) no dia 12 de Fevereiro.
As novas medidas de austeridade impõem uma redução de 22% no salário mínimo, que estará congelado durante os próximos 3 anos; a contratação colectiva foi simplesmente eliminada; 15 mil trabalhadores serão despedidos e 150 mil postos de trabalho serão destruídos pela não renovação de contratos…
O povo da Grécia está a erguer-se de forma corajosa contra estas políticas de terror social. Com o silêncio mudo dos meios de comunicação social, manifestações, bem como greves gerais, tornam-se mais e mais frequentes apesar da violenta repressão.
A sua mobilização está a colidir contra a muralha de uma ditadura europeia e internacional, a ditadura dos mercados financeiros e da troika: União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional, que impuseram aos gregos medidas de austeridade e um governo não eleito.
Os governos da União Europeia estão envolvidos na ditadura e implementam medidas que seguem a mesma linha no resto dos países. A Grécia está a ser usada como um laboratório antes de estas medidas serem generalizadas. A situação irá ficar ainda pior devido ao novo projecto do Tratado Europeu, que irá impor a «regra de ouro» nas nossas constituições nacionais.
Como o fazem os gregos, rejeitamos o sacrifício das pessoas pelo dinheiro.
Recuperemos as rédeas nas nossas vidas.
Desliga o computador, junta-te à mobilização!
No próximo sábado, dia 18 de Fevereiro, irão realizar-se manifestações por todo o lado em solidariedade com o povo da Grécia.
O seguinte apelo internacional de solidariedade com o povo grego, originalmente publicado no The Guardian, pode ser subscrito no site daCoalition of Resistance:
The people of Greece face an unprecedented economic and political crisis. They are being driven to poverty and mass unemployment by the demands of the so-called Troika – the European Union, the European Central Bank, and the International Monetary Fund which has imposed Lucas Papademos, formerly of Vice-President of the ECB, as Prime Minister.
Hospitals in Greece are running out of basic medicines, nearly half of all young people are unemployed, workers in some sectors have not been paid for months, and many are forced to resort to soup kitchens or scavenge from rubbish dumps.
Now the Troika demands a cut of 23% to the minimum wage, the sacking of tens of thousands of public sector workers and the decimation of pensions which have already lost nearly 50% of their value. International capital is asset stripping an entire country and ripping apart its social fabric.
Greece is at the cutting edge of the austerity measures that are being introduced across Europe. All the evidence shows that while these measures may protect the interests of the rich, they just make matters worse for the majority of the population. What happens in Greece today we will see in Portugal tomorrow and in Ireland the day after. In Britain, the Coalition government is pursuing similar measures which will see workers earnings cut, working longer for a smaller pension, and the dismantling of the NHS along with other public services.
Mikis Theodorakis, famous Greek composer of Zorba’s Dance, and Manolis Glezos, veteran resistance fighter against the Nazi occupation, have issued a statement calling for a European Front to defend the people of Greece and all those facing austerity.
The Coalition of Resistance and the People’s Charter have decided to support this call and agreed to work with trades unions, campaigns and parties across Europe to establish a European Solidarity Campaign to defend the people of Greece. The campaign aims to organise solidarity and raise practical support for the people of Greece; they cannot be made to pay for a crisis for which they are not responsible.
We are writing to you to ask you to endorse this campaign and to publicise it to others.
Uma luta de décadas que culminou, há exactamente 5 anos, com a vitória do SIM no referendo sobre a despenalização do aborto.
Uma data histórica que fazemos questão em evocar e celebrar anualmente, tal como o faz hoje Helena Pinto no Esquerda.net:
O calendário dizia que estávamos no século XXI, mas os julgamentos que colocavam as mulheres no banco dos réus, as perseguições de que eram vítimas após saírem “combalidas” das casas das parteiras, as idas para as urgências dos hospitais com as sequelas no corpo e no espírito, mostravam um país atrasado, que se recusava a ver a realidade e a reconhecer o direito das mulheres de decidirem sobre quando queriam e podiam ter filhos.
Era o país dos contrastes que protegia umas, nas viagens ao estrangeiro ou nas clínicas de luxo e lançava no aborto de “vão de escada” as mais pobres.
Era o país da hipocrisia, que lamentava a situação das mulheres, mas recusava alterar uma lei que as considerava as únicas culpadas e merecedoras de punição.
Após tantos anos de lutas, após várias mortes e julgamentos que nos envergonhavam, o povo decidiu, decidiu nas urnas que era tempo de dizer basta e retirar o crime que estava na lei.
Goraram-se os presságios dos fundamentalistas que diziam que iríamos cair no caos, que o aborto passaria a ser método de planeamento familiar, que todos os valores desapareciam com a nova lei.
A maioria social, muito ampla, que deu a vitória ao SIM estava absolutamente certa e foi possível começar uma nova etapa na área da saúde sexual e reprodutiva. Foi possível desbloquear muitos tabus em torno da sexualidade - da educação sexual à procriação medicamente assistida, passado pela contraceção.
Não houve nenhuma hecatombe e os serviços de saúde não entraram em colapso. Bem pelo contrário foram-se adaptando de forma a dar respostas a todas as situações.
Segundo dados da Direção Geral de Saúde, no ano de 2011, os pedidos para interrupção de gravidez não chegaram aos 20.000 a nível nacional. Em cinco anos de aplicação da Lei os números têm-se mantido estáveis e com uma grande mais-valia: as mulheres que recorrem à interrupção voluntária da gravidez ficam sinalizadas e devem ter acompanhamento em matéria de planeamento familiar, coisa que não existia antes da alteração da lei.
Continua, no entanto, a persistir uma situação injustificável que é a existência de hospitais públicos objetores de consciência. Ou seja, hospitais onde todos os médicos invocam a objeção de consciência. Se a opção individual do médico tem que ser respeitada, tal não se aplica à instituição que se deve organizar para garantir a prestação de todos os cuidados médicos.
Sabemos que esta alteração profunda, que está diretamente ligada ao estatuto das mulheres na sociedade nunca agradou aos sectores mais reacionários e conservadores, que tudo fazem, sempre que têm oportunidade, para que se efetive um retrocesso. Veja-se o caso de Espanha onde a direita, assim que chega ao poder, coloca de imediato na agenda política a revisão da lei do aborto. Por cá, Passos Coelho, também tentou algo parecido na campanha eleitoral, numa atitude de frete à direita mais reacionária, contradizendo até a sua anterior posição pública em que se assumiu como favorável à despenalização. A Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez tem sido avaliada e é monitorizada com regularidade (basta consultar as estatísticas e as circulares sobre o tema emitidas pelos serviços de saúde). Não venham agora, com pezinhos de lã, falar de “avaliações”, tentando fazer entrar pela janela aquilo que saiu pela porta grande: a clandestinidade e a humilhação.
É possível melhorar, é possível fazer mais, sobretudo no que diz respeito ao planeamento familiar e ao acesso à contraceção. Os sinais do Governo não auguram nada de bom: tentou retirar a comparticipação à pílula, acabando por recuar perante o coro de críticas a esta medida, mas todos os cortes anunciados para o Serviço Nacional de Saúde podem colocar em risco o sector da saúde sexual e reprodutiva. Se isso acontecer estamos perante um retrocesso civilizacional, pois falar de saúde sexual e reprodutiva é, em primeiro lugar, falar da saúde e da vida das mulheres.
As mulheres portuguesas sabem o que é o aborto clandestino, sofreram as consequências físicas do aborto de “vão de escada”, conheceram a humilhação do julgamento e não aceitarão voltar para trás.
O dia 11 de Fevereiro de 2007 foi um dia histórico, tardio para um país que tinha conquistado a liberdade em 1974, mas histórico, a dignidade das mulheres foi resgatada nas urnas.
"The Greece of Theo Angelopoulos", um magnífico texto de Costas Douzinas publicado no The Guardian e também disponível no site da Greek Left Review:
The sudden death of Theo Angelopoulos, the greatest Greek film-maker, while shooting his latest film on the current troubles, has acquired great symbolic significance. In recent months, reporting on Greece has concentrated on the deficit, debt and the untrustworthiness of its people. The films of Angelopoulos remind us of another Greece and a different humanity. In his dreamlike historical films, he chronicled the melancholic nature of a nation torn between an invented tradition of classical glories and a traumatic history of repressive state policies, dictatorship, corrupt and dynastic politics. He narrated the lowly lives of the defeated in the vicious civil war 1946-9, the degradations and melancholy of exile, the Odysseus-like return of people who go back to a place they nurtured in their memories but turns out alien and unwelcoming.
In his mesmeric long sequences, a simple gesture, a silence or smile acquire philosophical depth and historic significance. This is epic cinema made out of the fragments of everyday life.
Coming from the left, as did most of the Greek cultural renaissance of the second half of the 20th century, but ascribing to no orthodoxy, Angelopoulos described the degradations of ordinary people both in the hands of rightwing governments and in the Stalinist regimes where the defeated partisans retreated but found no haven.
For Angelopoulos, humanity survives in the memories and dreams of exiled, travelling people who never fully make it back to Ithaca. What makes us human, Angelopoulos tells us, is found in traumatic memories, in the desire to preserve an imaginary beauty, and in eternal returns perennially frustrated. Angelopoulos was both the Homer of modern Greece, and the country’s magical realist storyteller.
For decades, the Greek elites belittled those cultural achievements that didn’t fit their view of modernisation defined as insatiable consumption. The sorry state Greece finds itself in today was built against Angelopoulos’s poetry of images. If, for a moment, we put to one side the immediate economic news, a largely unreported dramatic picture of decay of the integrated political, economic and media elites that ran the country for the last 60 years emerges. The implosion of this elite is a textbook study in the collapse of a system of power.
Let me mention some recent symptoms, each of which have occurred in the last month, and which show an elite turning in on itself. First, the head of the Thessaloniki internal affairs division of the financial crimes squad (SDOE) was arrested last week for his participation in a gang of loan sharks and extortion.
Elsewhere, the government is trying to remove two economic crime prosecutors who reported the tax crimes of the rich and asked parliament to investigate the alleged 3% fraudulent increase of the country’s deficit by the incoming Papandreou government in 2010. It was this upward revision of the deficit that led to the term “Greek statistics” and brought the troika of the IMF, EU and ECB to Athens.
In another example, a senior cabinet minister admitted that he did not read the memorandum detailing the measures imposed on Greece by the troika before voting for them; he added that he disagrees with them now, although he energetically implemented them.
Or witness the attack by former prime minister Papandreou on the most powerful media empire, which has consistently supported the Pasok party, for undermining his personal authority. Its CEO replied in a leader that a commercial bank had refused his company a loan on the instruction of the prime minister. He added that later he was invited into the PM’s office, was ushered in Murdoch-like from the back door to avoid detection, and was asked to offer unspecified services to the government.
Greek and European elites freely admit now that the austerity – which has led to the deepest depression since the 1930s – was wrong. Former Pasok prime minister Simitis, who led Greece to the eurozone in 2001, (when the current prime minister was the governor of the Bank of Greece) and was accused by Nicolas Sarkozy of fiddling the books to achieve accession, admitted this week in Berlin that the troika measures implemented by his anointed successor were a major mistake. As the elite ship collapses, its captains run for the boats. The belated apologies confirm the suspicion that the deficit was a pretext used by the establishment to impose their desired neoliberal policies.
But there is also the Greece of Angelopoulos. This Greece is represented by men like Dinos Christianopoulos, the greatest living poet of urban solitude and malaise, who refused a Greek Academy lifetime honour stating that he does not want their gongs or money although he lives on a pension of only €600. It is also represented by those who, throughout the country, choose to show solidarity with the homeless, unemployed and poor. Only this week, farmers protesting the devaluation of their produce offered tons of free vegetables to hundreds of Athenians in Syntagma, the square where the indignants occupation last year changed the political landscape by introducing the direct democracy now seen all over the world. Ordinary people who worked hard, did not evade tax and did not participate in the great loot of the last 20 years are everywhere reviving the Greek ethos of friendship, solidarity and hospitality – characteristics lost in the get-rich-quick period.
Angelopoulos speaks of a Greece and Europe far removed from bankers’ bonuses and hedge funds. An MP of the extreme right, now in coalition government with the New Democracy and Pasok parties, stated yesterday that Angelopoulos’s support for open borders and “internationalism” does not represent Greece. He is wrong.
In 1971, the funeral of Nobel prize winning Giorgos Seferis became a symbolic moment of the resistance against the colonels. Greece is not a dictatorship now, but Angelopoulos’s untimely death may acquire a similar meaning – it has already led to nationwide soul-searching.
The struggle for the soul of the country is currently played out in assemblies, strikes and solidarity campaigns. Ordinary Greeks now have a historic chance to redefine the meaning and values of European civilisation.
"Custe o que custar", a crónica de José Manuel Pureza na edição de ontem do Diário de Notícias:
Talvez seja um caso de afirmação adolescente, não sei. O certo é que o Governo enveredou nos últimos tempos por uma estratégia de emancipação relativamente à troika. Passos Coelho põe toda a sua convicção na jura aos senhores da troika de que "fazemos isto por nós, não por vós" e de que "como gente adulta e madura, vamos cumprir o que lá está. Custe o que custar".
A direita que nos governa enche-se de brios e dispensa a tutela de Berlim e de Bruxelas para estraçalhar o País. Há tanto de bluff quanto de fé nisto. Passos e o seu Governo são executivos do ideário económico liberal e creem profundamente nas virtudes do que pensam ser a purificação do País pelo laissez faire. Estamos em tempos de irredentismos e Passos e Portas são homens destes tempos. Mas, quando a coisa apertar, quando o "custe o que custar" tiver fatura política alta, lá virão eles lembrar a Seguro que o PS assinou o acordo com a troika e que o memorando é que é lei suprema. E Seguro, em pose grave de "sentido de Estado", dará o ámen pela enésima vez. Enfim, adolescências mal resolvidas. Borbulhagens.
O certo é que o "custe o que custar" é uma ameaça. E como tal deve ser encarada. Custe o que custar não é, para o Governo, um modo mas sim uma substância. É um projeto. Significa arrasar a sociedade, os seus laços, os seus mecanismos de proteção e imolar tudo em nome de uma lógica de competitividade interna e externa ficando os destroços ao cuidado da caridade e da assistência. A direita ideológica tem dos portugueses a mesma opinião que de nós faz a Europa do Norte: que somos uns preguiçosos, que vivemos encostados aos subsídios pagos pelos outros, que somos avessos ao rigor. E a sua ambição é tornar-nos alemães, custe o que custar. A ironia da coisa é que a aversão ao risco, a dependência do Estado e a aldrabice das contas é o mais fiel retrato da direita social e económica que nos levou, de BPN em BPN até onde estamos...
A ameaça do "custe o que custar" não se confina, porém, à ordenação económica e social. As liberdades públicas não lhe escaparão. O silenciamento de Pedro Rosa Mendes após a sua denúncia da bajulice oficialista da RTP ao Governo de José Eduardo dos Santos tem esse significado muito preciso: doravante, quem se meter com os amigos económicos do Governo leva. Miguel Relvas, responsável político por este insuportável ato de censura, declarou ontem em entrevista à rádio pública que "não tem opinião" sobre se as crónicas de Pedro Rosa Mendes deveriam continuar. Eis, cristalino, o "custe o que custar" em ação: a liberdade de opinião não terá nele um defensor - ele não tem opinião sobre isso - se ela incomodar os ditadores que compram bancos em Portugal e governam sem democracia os países para onde Relvas aconselha os jovens altamente qualificados que o seu Governo condena ao desemprego e à falta de horizontes a emigrarem.
O modo frio e contabilístico como Miguel Relvas acolhe (promove?) a censura mostra o espaço que o "custe o que custar" pode abrir à vulnerabilização das liberdades. O mesmo Relvas, na mesma entrevista, avisou que "os portugueses que não vivem na esquizofrenia de alguns, os portugueses que não vivem dos dinheiros do Estado, os portugueses que querem ter esperança, os portugueses que querem ter emprego, os portugueses que querem ter futuro, querem ter uma estratégia para o País". Os críticos são pois antipatriotas, inimigos dos portugueses simples que não se metem em política e querem é trabalhar. Onde é que eu já ouvi isto?
A cena é a mesma, todos os dias: à hora do almoço, uma multidão silenciosa aglomera-se diante das grades da Câmara de Atenas, a dois passos da praça Omonia. Quantos são? Cem? Muitos mais?
"À noite, são duas ou três vezes mais", diz, suspirando, Xanthi, uma mulher jovem que a Câmara encarregou de "controlar a multidão". O ambiente fica tenso, quando os portões finalmente se abrem e as pessoas formam uma longa fila até ao balcão onde lhes é entregue uma Coca-Cola light e uma espécie de puré de batata, numa tigela de plástico.
Ouvem-se gritos e discussões. Tem de ser tudo muito rápido: a distribuição demora apenas meia hora. No meio de um certo número de marginais e de idosos que usam roupas velhas, destaca-se de imediato uma nova categoria de cidadãos, até agora pouco habituados a mendigar alimentos.
A maior parte deles recusa-se a falar com os jornalistas. "Têm vergonha", comenta Sotiris, de 55 anos, que ficou no desemprego, depois de ter trabalhado 20 anos numa companhia de seguros. "Mas, na Grécia, os subsídios de desemprego só duram um ano", recorda.
Na Grécia, chamam-lhes "neoprobres" ou "sem abrigo com iPhone": trabalhadores despedidos pelas muitas PME que faliram, funcionários despedidos na sequência das medidas de austeridade adotadas nos últimos dois anos.
[...]
"Comecei a preocupar-me quando vi, primeiro uma, depois duas, depois dez crianças que vinham à consulta de estômago vazio, sem terem feito nenhuma refeição na véspera", conta Nikita Kanakis, presidente da secção grega da ONG Médicos do Mundo. Há dez anos, esta ONG francesa abriu uma antena na Grécia para dar resposta ao afluxo súbito e em massa de imigrantes clandestinos sem recursos.
"Desde há um ano, são os gregos que nos procuram. Pessoas da classe média que, tendo perdido os direitos sociais, deixaram de poder ir aos hospitais públicos. E, nos últimos seis meses, também distribuímos alimentos, como nos países do terceiro mundo", refere Kanakis, que pergunta: "O problema da dívida é real. Mas até onde podem ir as exigências de Bruxelas, quando crianças que vivem apenas à distância de três horas de voo de Paris ou Berlim deixam de poder ser tratadas ou alimentadas?"
(Nota: A versão integral do artigo que acima transcrevemos poderá ser lida no site Presseurop ou, na sua versão original, no site do Libération)