domingo, 22 de abril de 2012

Há já muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável # 5



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Na quinta feira, esperámos, e eles vieram. Mas o aviso chegou muito em cima da hora: os elementos do corpo de intervenção (possivelmente importado de outro lado qualquer, que nunca tínha visto disso no Porto) não vinham numa viatura identificada, chegaram de mansinho - mal tivemos tempo de mandar o sinal para ser activada a rede de contactos para chamar os amigos da es.col.a a virem ao nosso auxílio e para nos entrelaçarmos, como combinado, no pátio, frente à barricada, em sitting resistente e pacífico.

Acho que nunca tive tanto medo na vida como quando vi, para lá do muro baixinho do es.col.a e através do gradeamento, os capacetes do corpo de intervenção a aparecer da rua inclinada. Traziam escadas: alguns passaram a vedação e começaram a desmontar a barricada, outros a cercar-nos e a tentar separar-nos. Ao ouvido, um dos polícias sussurou-me: «irra que as gajas são sempre as mais difíceis», quando eu e outra tentávamos, como possível, agarrarmo-nos para não sermos levadas. Arrastaram-nos para a sala ao lado da cozinha, guardados por vários polícias. Lá de cima, no pátio sobre a cozinha, ouvíamos as rebarbadeiras a cortar a porta de acesso à caixa de escadas. Pouco depois, vimos, incrédulos, através da janela, cortar o mastro da bandeira do es.col.a (uma bandeira pirata que incomodava, ao vento, a autoridade sem sentido de humor...)
 
Protestávamos com os polícias, tentávamos explicar o óbvio: não há legalidade nem legitimidade no despejo de um projecto voluntário para e com uma comunidade pobre, de uma escola, naquele edifício outrora devoluto; que isto era uma birra política autoritária, que se eles queriam servir a comunidade não o estavam, concerteza, a fazer. Nada feito. Que «cumpriam ordens», desculpa habitual de quem veste a farda despindo a cidadania.
 
... Que tinham de nos revistar. Não, obrigada - que desculpassem, mas até que me mostrassem algo em contrário era inocente, mostrava a identificação e mai'nada. ... e assim fui eu, de arrasto para o pátio, ser apalpada à força. A polícia atestou ainda 'que não era lésbica', o que me deixou obviamente muito mais descansada (?!?!) e confirmou por si mesma que eu não tinha mais que água, papeis, cadernos, livros, lápis, identificação, cinco euros, telemóvel, chaves de casa. Arrastaram-me para o pátio e obrigaram-me, como aos outros companheiros, um a um e depois do mesmo processo, a ficar de pé e de mãos à parede. Qual criminosos.
 
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Um texto de leitura obrigatória, para ler na íntegra no oblogouavida

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