1999 - "Histórias que me contaste tu" (lit. infanto-juvenil)
2001 - "Atropelamento e fuga" (poesia)
2001 - "A noite" (teatro)
2001 - "Pequeno livro de desmatemática" (lit. infanto juvenil)
2002 - "Poesia reunida" (poesia)
2002 - "Perguntem aos vossos gatos e aos vossos câes" (teatro)
2002 - "Porto, modo de dizer" (crónica)
2003 - Os livros (poesia)
2003 - "Os papéis de K." (ficção)
2004 - "O cavalinho de pau do Menino Jesus" (lit. infanto-juvenil)
2005 - "Queres Bordalo?" (ficção)
2005 - "História do Capuchinho Vermelho contada a crianças e nem por isso por Manuel António Pina segundo desenhos de Paula Rego" (lit. infanto-juvenil)
2007 - "Dito em voz alta" (entrevistas)
2008 - "Gatos" (poesia)
2009 - "História do sábio fechado na sua biblioteca" (teatro)
Prémio Camões que lhe foi atribuído em 2011, Manuel António Pina foi distinguido ao longo da sua longa carreira literária e jornalística com inúmeros prémios, nomeadamente o Prémio de Poesia da Casa da Imprensa (1978) ; Prémio Gulbenkian (1987); Prémio Nacional de Crónica Press Club/ Clube de Jornalistas (1993); Prémio da Crítica, da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários" (2002); Prémio de poesia Luís Miguel Nava (2003) e Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT (2005).A sua obra está traduzida em França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.
Ver reportagem "Onde sinto meu sangue é na poesia"
Numa das suas últimas entrevistas que concedeu ao JN e questionado concretamente sobre as múltiplas homenagens de que tinha sido alvo, nos últimos tempos, Manuel António Pina disse reagir " Com desconforto e com gratidão. Também sou leitor, embora bissexto, daquilo que designa por minha "obra" e, sem pretender representar a rábula da modéstia, sou lúcido q.b. em relação a ela para aceitar iniciativas do género sem cepticismo".
Nessa mesma entrevista e pronunciando-se especificamente sobre situação de crise que o país vive, afirmou o seguinte: " Diz-se que os povos felizes não têm história. Não é fácil (nem bonito) dizê-lo, mas às vezes, a infelicidade de um povo é a felicidade dessa espécie de historiadores do presente que os cronistas (sobretudo aqueles que, como eu, praticam sobretudo a crónica como género jornalístico e não literário) são".
Aqui mais ninguém opina 20/10/2012 Por Ricardo Santos Pinto
«Chegou a hora de nos despedirmos do Manuel António Pina. A dor é sempre grande quando morre alguém que brilha no nosso céu. O Pina era a mente mais brilhante que escrevia nas páginas do Jornal de Notícias. Enquanto eu tiver a honra de dirigir este jornal, ninguém mais escreverá opinião neste espaço que era dele mas que ele fazia questão que fosse sempre tão nosso. Obrigado, Pina.
Homilia de D. Januário Torgal Ferreira Publicado às 00.38 50 0 2 Para a Maria de Fátima, filhas e restante família; para a cultura poética e teatral, e suas crianças destinatárias; para o jornalismo em Portugal, mormente para o "Jornal de Notícias"; para a cidade do Porto e para a cidadania em geral, fica um vazio sentido de um homem reto, culto, corajoso, solidário e inteligente.
Há anos, o Manuel António Pina salientava (suponho com os olhos e o ouvido aberto a Beethoven, autor do dito) que a bondade - supremo grau da sabedoria e do serviço à humanidade - era o valor mais insigne.
Desse e da miríade de tantos outros valores que entretecem o tecido social foi o Manuel António articulador e sábio, poeta e peregrino, num misto de sonho, bom humor, modéstia natural, profecia e inconformismo.
Na penúria desta sociedade onde se vem a perder a liberdade da honra, a fruição dos humildes e oprimidos, sob o guia de um coração de pedra diante dos desafortunados, dos sem emprego e futuro, a cultura é luxo de utilitarismo; as instâncias de desenvolvimento, a estultícia do permanente lucro; os lutadores com o seu suor e dignidade da carteira profissional, muitas vezes, um estorvo, parecendo contabilizar-se em número, a ternura e o afeto, a fraternidade e a paz, as relações sociais, alumiadas pela justiça e respeito.
Até o próprio patriotismo ganha parecenças com a glorificação pessoal, ele que traduz o apagamento do eu diante do primado do outro.
Escultor de palavras/conceitos, com cinzel apurado, o Manuel António sempre nos entrou casa adentro com o rumurejar da fome, as cumplicidades da rua, as traições de promessas, o desembarque de interesses.
Heidegger perguntava pela função dos poetas em tempos de desqualificação! Foi em capítulo desta história que um poeta grande nos deixou.
Escolhi, face a tantas hesitações e desiquilíbrios, a "Boa Nova das Bem-Aventuranças", das quais destaco, em comentário, o verdadeiro modelo do crescimento:
Felizes os que deram tudo
Felizes os buscadores da paz
Felizes os que não fugiram, quando perseguidos e injustiçados
Felizes os que plantaram sempre o pão da justiça e lutaram contra a germinação da miséria
Felizes os que acreditaram que só se tem Deus quando se humaniza a comunidade humana
Felizes os que humanizam o mundo com a consciência de sem razões religiosas
A todos estes, Deus há-de escolhê-los como peregrinos de Emaús.
Em artigo na "Notícias Magazine", intitulado "O que fica do que se perde", escrevia há uns meses o Manel: "Hoje (...) experimento sempre uma confusa sensação de perda (referia-se à fé católica e às ideologias) (...).
Talvez não seja bem melancolia, mas antes a longínqua persistência de algo, uma espécie de resíduo ou de subproduto em qualquer sítio onde nem a razão nem a vontade podem alcançar.
E, conforme assinalava poeticamente:
"Ainda não é o fim... apenas um pouco tarde"
Mesmo "com palavras últimas".
"Volto de noite para casa
Tudo é memória fora de mim".
"Por outras palavras, o encontro da morte com o silêncio" não é o contrário da existência "pois a vida talvez seja um sonho"
Se, numa perspetiva cristã, é no coração de Deus que permanece conseguida a realização do que fomos, pensámos e vivemos, é no coração de cada um de nós que o Manuel António repousa, enquanto amigo de combates desiguais sem deixar a nossa casa, porque o que defende a grande causa da humanidade é uma existência justa.
Manuel António Pina morreu hoje, aos 68 anos, no Porto. É sabido que os grandes escritores nunca chegam a morrer, e que nos socorremos das palavras que nos deixam como uma espécie de memória sempre viva. No caso de Manuel António Pina, que para além de escritor era um cidadão que usava as palavras para reflectir sobre o mundo que nos calhou em sorte e para ponderar formas de o fazermos um bocadinho melhor, não nos farão falta as palavras que deixou, porque essas continuarão a ser salva-vidas diários para respirarmos melhor, mas já nos estão a fazer muita falta as palavras que nunca chegou a escrever.
Bibliografia de Manuel António Pina
ResponderEliminarPublicado em 2011-05-12
Conheça a obra de Manuel António Pina.
1973 - "O país das pessoas de pernas para o ar" (lit. infanto-juvenil)
1974 - "Ainda não é o fim nem o princípio do Mundo, calma é apenas um pouco tarde" (poesia)
1974 - "Gigões & anantes" (lit. infanto-juvenil)
1976 - "O têpluquê" (lit. infanto-juvenil)
1978 - Aquele que quer morrer (poesia)
1981 - "A lâmpada do quarto? A criança?" (poesia)
1983 - "O pássaro da cabeça" (poesia)
1983 - "Os dois ladrões" (teatro)
1984 - "Nenhum sítio" (poesia)
1984 - "História com reis, rainhas, bobos, bombeiros e galinhas" (lit. infanto-juvenil)
1985 - A guerra do tabuleiro de xadrez(lit. infanto-juvenil)
1986 - Os piratas(ficção)
1989 - "O caminho de casa" (poesia)
1987 - "O inventão" (teatro)
1991 - Um sítio onde pousar a cabeça (poesia)
1992 - "Algo parecido com isto, da mesma substância" (poesia)
1993 - "Farewell happy fields" (poesia)
1993 - "O tesouro" (lit. infanto-juvenil)
1994 - "Cuidados intensivos" (poesia)
1994 - "O anacronista" (crónica)
1995 - O meu rio é de ouro /Mi rio es de oro (lit. infanto-juvenil)
1998 - "Aquilo que os olhos vêem, ou O Adamastor" (teatro)
1999 - Nenhuma palavra, nenhuma lembrança (poesia)
1999 - "Histórias que me contaste tu" (lit. infanto-juvenil)
2001 - "Atropelamento e fuga" (poesia)
2001 - "A noite" (teatro)
2001 - "Pequeno livro de desmatemática" (lit. infanto juvenil)
2002 - "Poesia reunida" (poesia)
2002 - "Perguntem aos vossos gatos e aos vossos câes" (teatro)
2002 - "Porto, modo de dizer" (crónica)
2003 - Os livros (poesia)
2003 - "Os papéis de K." (ficção)
2004 - "O cavalinho de pau do Menino Jesus" (lit. infanto-juvenil)
2005 - "Queres Bordalo?" (ficção)
2005 - "História do Capuchinho Vermelho contada a crianças e nem por isso por Manuel António Pina segundo desenhos de Paula Rego" (lit. infanto-juvenil)
2007 - "Dito em voz alta" (entrevistas)
2008 - "Gatos" (poesia)
2009 - "História do sábio fechado na sua biblioteca" (teatro)
Prémio Camões que lhe foi atribuído em 2011, Manuel António Pina foi distinguido ao longo da sua longa carreira literária e jornalística com inúmeros prémios, nomeadamente o Prémio de Poesia da Casa da Imprensa (1978) ; Prémio Gulbenkian (1987); Prémio Nacional de Crónica Press Club/ Clube de Jornalistas (1993); Prémio da Crítica, da Secção Portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários" (2002); Prémio de poesia Luís Miguel Nava (2003) e Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores/CTT (2005).A sua obra está traduzida em França (francês e corso), Estados Unidos, Espanha (espanhol, galego e catalão), Dinamarca, Alemanha, Países Baixos, Rússia, Croácia e Bulgária.
ResponderEliminarVer reportagem "Onde sinto meu sangue é na poesia"
ResponderEliminarNuma das suas últimas entrevistas que concedeu ao JN e questionado concretamente sobre as múltiplas homenagens de que tinha sido alvo, nos últimos tempos, Manuel António Pina disse reagir " Com desconforto e com gratidão. Também sou leitor, embora bissexto, daquilo que designa por minha "obra" e, sem pretender representar a rábula da modéstia, sou lúcido q.b. em relação a ela para aceitar iniciativas do género sem cepticismo".
Nessa mesma entrevista e pronunciando-se especificamente sobre situação de crise que o país vive, afirmou o seguinte: " Diz-se que os povos felizes não têm história. Não é fácil (nem bonito) dizê-lo, mas às vezes, a infelicidade de um povo é a felicidade dessa espécie de historiadores do presente que os cronistas (sobretudo aqueles que, como eu, praticam sobretudo a crónica como género jornalístico e não literário) são".
Aqui mais ninguém opina
ResponderEliminar20/10/2012 Por Ricardo Santos Pinto
«Chegou a hora de nos despedirmos do Manuel António Pina.
A dor é sempre grande quando morre alguém que brilha no nosso céu.
O Pina era a mente mais brilhante que escrevia nas páginas do Jornal de Notícias.
Enquanto eu tiver a honra de dirigir este jornal, ninguém mais escreverá opinião neste espaço que era dele mas que ele fazia questão que fosse sempre tão nosso.
Obrigado, Pina.
Manuel Tavares»
(última página do JN de 20-10-12)
Homilia de D. Januário Torgal Ferreira
ResponderEliminarPublicado às 00.38
50 0 2
Para a Maria de Fátima, filhas e restante família; para a cultura poética e teatral, e suas crianças destinatárias; para o jornalismo em Portugal, mormente para o "Jornal de Notícias"; para a cidade do Porto e para a cidadania em geral, fica um vazio sentido de um homem reto, culto, corajoso, solidário e inteligente.
Há anos, o Manuel António Pina salientava (suponho com os olhos e o ouvido aberto a Beethoven, autor do dito) que a bondade - supremo grau da sabedoria e do serviço à humanidade - era o valor mais insigne.
Desse e da miríade de tantos outros valores que entretecem o tecido social foi o Manuel António articulador e sábio, poeta e peregrino, num misto de sonho, bom humor, modéstia natural, profecia e inconformismo.
Na penúria desta sociedade onde se vem a perder a liberdade da honra, a fruição dos humildes e oprimidos, sob o guia de um coração de pedra diante dos desafortunados, dos sem emprego e futuro, a cultura é luxo de utilitarismo; as instâncias de desenvolvimento, a estultícia do permanente lucro; os lutadores com o seu suor e dignidade da carteira profissional, muitas vezes, um estorvo, parecendo contabilizar-se em número, a ternura e o afeto, a fraternidade e a paz, as relações sociais, alumiadas pela justiça e respeito.
Até o próprio patriotismo ganha parecenças com a glorificação pessoal, ele que traduz o apagamento do eu diante do primado do outro.
Escultor de palavras/conceitos, com cinzel apurado, o Manuel António sempre nos entrou casa adentro com o rumurejar da fome, as cumplicidades da rua, as traições de promessas, o desembarque de interesses.
Heidegger perguntava pela função dos poetas em tempos de desqualificação! Foi em capítulo desta história que um poeta grande nos deixou.
Escolhi, face a tantas hesitações e desiquilíbrios, a "Boa Nova das Bem-Aventuranças", das quais destaco, em comentário, o verdadeiro modelo do crescimento:
Felizes os que deram tudo
Felizes os buscadores da paz
Felizes os que não fugiram, quando perseguidos e injustiçados
Felizes os que plantaram sempre o pão da justiça e lutaram contra a germinação da miséria
Felizes os que acreditaram que só se tem Deus quando se humaniza a comunidade humana
Felizes os que humanizam o mundo com a consciência de sem razões religiosas
A todos estes, Deus há-de escolhê-los como peregrinos de Emaús.
Em artigo na "Notícias Magazine", intitulado "O que fica do que se perde", escrevia há uns meses o Manel: "Hoje (...) experimento sempre uma confusa sensação de perda (referia-se à fé católica e às ideologias) (...).
Talvez não seja bem melancolia, mas antes a longínqua persistência de algo, uma espécie de resíduo ou de subproduto em qualquer sítio onde nem a razão nem a vontade podem alcançar.
E, conforme assinalava poeticamente:
"Ainda não é o fim... apenas um pouco tarde"
Mesmo "com palavras últimas".
"Volto de noite para casa
Tudo é memória fora de mim".
"Por outras palavras, o encontro da morte com o silêncio" não é o contrário da existência "pois a vida talvez seja um sonho"
Se, numa perspetiva cristã, é no coração de Deus que permanece conseguida a realização do que fomos, pensámos e vivemos, é no coração de cada um de nós que o Manuel António repousa, enquanto amigo de combates desiguais sem deixar a nossa casa, porque o que defende a grande causa da humanidade é uma existência justa.
Pela saudade "é que vamos"
D. Januário Torgal Ferreira
Manuel António Pina 1943-2012
ResponderEliminarManuel António Pina morreu hoje, aos 68 anos, no Porto. É sabido que os grandes escritores nunca chegam a morrer, e que nos socorremos das palavras que nos deixam como uma espécie de memória sempre viva. No caso de Manuel António Pina, que para além de escritor era um cidadão que usava as palavras para reflectir sobre o mundo que nos calhou em sorte e para ponderar formas de o fazermos um bocadinho melhor, não nos farão falta as palavras que deixou, porque essas continuarão a ser salva-vidas diários para respirarmos melhor, mas já nos estão a fazer muita falta as palavras que nunca chegou a escrever.