sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ideias para 2011: derrotar Cavaco Silva nas eleições presidenciais



E antes que o ano termine, vale a pena ler os textos de Sérgio Lavos e de Daniel Oliveira, "A esfinge de areia" e "Os silêncios e as palavras de Cavaco", ambos publicados no Arrastão:

A esfinge de areia

Cavaco Silva, o presidente que cedeu ao frete de ser candidato, perdeu claramente os quatro debates para as presidenciais. Se por acaso as televisões tivessem convidado José Manuel Coelho para a festa, também teria grandes probabilidades de perder. Alguém que não conhecesse o panorama nacional e o visse ontem frente a Manuel Alegre com o som do televisor em baixo poderia jurar estar perante um homem com um longo caminho a percorrer nas sondagens, alguém crispado, lutando furiosamente para se manter à tona de água no combate eleitoral. Alegre, em contraste, exibiu à vontade e uma calma surpreendente, soberana. Cavaco, o estadista lusitano, o homem da providência nacional, foi empurrando para o canto do ringue sucessivamente por Francisco Lopes, Fernando Nobre e, humilhação suprema, Defensor Moura. Manuel Alegre limitou-se a gerir os pontos fracos: os amigos no BPN e as acções que aqueles lhe venderam, o devaneio das escutas-fantasma, a tibieza perante chefes-de-estado de países com uma economia emergente. Alegre poderia, inclusive, ter ido muito mais longe: a insistência numa pose acima da sujeira da política é a principal característica de Cavaco, e é não por ter escolhido deliberadamente essa pose, mas por ser obrigado a isso, por não poder ser de outro modo. São evidentes as dificuldades na oratória, na exposição de ideias, na coerência do discurso. Poderíamos discutir a pertinência destas qualidades, se pensarmos no modelo do político moderno, brilhante na imagem e vazio nas ideias (Tony Blair será um dos melhores exemplos). O problema é que esta ausência de qualidades de tribuno nada esconde, nem o brilhantismo do técnico esforçado nem a competência do ordeiro burocrata; este brilhantismo é uma ilusão, uma crença infundada das almas torturadas dos seus apoiantes. O tempo que passou à frente do governo do país é a prova: um consulado de dez anos em que se limitou a aplicar o rio de fundos europeus em áreas de reduzida importância estratégica, a agravar o peso do Estado até se tornar incomportável para a dimensão do país, a lançar as raízes das dificuldades estruturais que temos sentido nos últimos anos. Cavaco Silva é o espelho da nossa alma: baço, aplicado mas sem rasgos, calando-se perante poderes mais fortes, um clone enfraquecido ou uma memória distante do português provinciano e poupadinho que tomou conta dos destinos do país durante quarenta anos, o Salazar do descontentamento da pátria e da alegria triste de muitos dos mais fervorosos adeptos desta pálida cópia. O silêncio de Cavaco, tantas vezes elogiado pelos seus apaniguados, não oculta uma qualquer sabedoria salvífica - nem os poderes do presidente lhe permitiriam isso, ao contrário do que ele nos quer fazer crer; o silêncio de Cavaco é uma máscara que cobre o vazio de ideias de quem nada tem de original para dizer. E basta um qualquer Defensor Moura (e escrevo isto com todo o respeito) para o expor. Mas sim, ele lidera as sondagens. E a única maneira de evitar uma maioria de direita, uma hidra bicéfala Passos Coelho/Cavaco, é não votar nele. Nós não o merecemos; muito mais, merecemos muito mais.


Os silêncios e as palavras de Cavaco

Ainda o debate entre Cavaco Silva e Manuel Alegre. Um dos poucos momentos que deu que falar foram as críticas do Presidente à Caixa Geral de depósitos na gestão que está a fazer do BPN. A comparação que fez com a situação inglesa, quando se está, em Portugal, a falar de um caso de polícia, deixa claro para todos que o suposto rigor técnico de Cavaco não tem correspondência com a realidade. Já tinhamos observado isso mesmo quando, com o maior dos descaramentos, explicava, no tom professoral do costume, que o negócio da ponte Vasco da Gama não era uma Parceria Público-Privado.

Quando os seus amigos andavam a brincar com o fogo no BPN, Cavaco Silva ficou calado. Quando o caso rebentou, ficou em silêncio. Quando o seu ex-ministro Dias Loureiro mentiu ao Parlamento veio em sua defesa para o tentar segurar no Conselho de Estado. Quando o BPN foi nacionalizado, deixando de fora a SLN, concordou e calou-se.

Quando resolve falar Cavaco Silva? Agora. Para criticar quem afundou o BPN num buraco de pelo menos cinco milhões de euros? Não. Para assumir que Dias Loureiro e Oliveira e Costa tiveram um comportamento vergonhoso? Não. O Presidente abre a boca pela primeira vez sobre o caso BPN para atacar quem, mal ou bem, recebeu o presente envenenado.

Cavaco Silva não consegue disfarçar a sua dificuldade em falar sobre este caso de mãos livres. O descaramento desta acusação - que demonstra também a sua irresponsabilidade institucional - prova que não é, nesta matéria, um homem livre. Um dia saberemos porquê.


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