quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

"A Europa errou e continua a errar, porque mostra medo da democracia"


No momento em que a queda de Khadafi parece iminente, convém recordar a lúcida declaração política que José Manuel Pureza proferiu ontem na Assembleia da República (texto disponível aqui):

5 comentários:

  1. “Dia de fúria” no Iraque junta milhares de manifestantes
    Milhares de iraquianos saíram à rua em todo o país para protestar contra a corrupção e a falta de serviços básicos respondendo à convocatória para um "dia de fúria" nacional, inspirado nas revoltas do mundo árabe. Confrontos violentos com a polícia causaram sete mortos.
    Artigo | 25 Fevereiro, 2011 - 17:06

    Oito anos depois da invasão norte-americana que depôs o presidente Saddam Hussein, o desenvolvimento no Iraque continua lento e há escassez de alimentos, água, electricidade e empregos. Foto Mohammed Al-Mosuli, EPA/LUSA. Com estas sete vítimas mortais sobe para 11 o número de manifestantes mortos no âmbito do movimento de contestação que agita o Iraque há várias semanas.

    Cinco manifestantes morreram e dez ficaram feridos em Mossul, no norte do Iraque, quando as autoridades dispersaram uma concentração. Em Hawija morreram outros dois manifestantes. De acordo com o Washington Post, o número de mortos poderá chagar a 13. Os confrontos mais violentos ocorreram nas cidades de Hawija e Mosul, no norte, e em Bassorá, no sul. Em várias regiões, manifestantes tentaram invadir prédios do governo.

    Milhares de manifestantes desfilaram pelas ruas de Bagdad e de outras cidades do país no âmbito de um "dia de fúria" destinado a protestar contra a inabilidade do governo, a corrupção e o desemprego. Com cartazes e bandeiras iraquianas, centenas de pessoas afluíram à praça Tahrir, em Bagdad, que estava sob forte segurança. A ponte Jumhuriya, perto dali, foi bloqueada, e veículos foram proibidos de circular na capital.

    As mortes ocorreram quando balas atiradas para o ar acabaram por atingir manifestantes concentrados em frente às instalações do governo provincial de Mossul, a 350 quilómetros a norte de Bagdad, afirmou a fonte da polícia.

    Em Hawija, a 60 quilómetros a norte da capital, pelo menos dois manifestantes também foram mortos e 20 pessoas ficaram feridas, incluindo sete polícias, em confrontos entre manifestantes e forças da ordem, indicaram fontes da polícia.

    “Estamos aqui para mudar para melhor a situação do país. O sistema educacional é mau. O sistema de saúde também é mau. Os serviços vão de mal a pior”, disse Lina Ali, 27 anos, que integra um grupo de jovens manifestantes. “Não há água potável, não há electricidade. O desemprego está a crescer”, sublinha.

    Rushdi Ahmed, chefe da Fundação da Casa do Iraque para a Especialização, tentou juntar-se aos protestos em Bagdad, mas foi impedido pelo exército. "Isto é um protesto do povo do Iraque. Nós queremos uma reforma social, emprego para os jovens e supervisão directa, porque há muita corrupção", disse Rushdi à estação de televisão árabe Al Jazira.

    "Se [o primeiro-ministro Nuri] al-Maliki não nos ouve, vamos continuar o protesto. Ele disse a todos que somos apoiantes de Saddam, mas isso não correcto. Somos apenas o povo iraquiano".

    Na quinta-feira, o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, apelou aos iraquianos para não participarem na manifestação organizada por várias associações através do Facebook para protestar contra a incapacidade do governo e acusou os organizadores de serem apoiantes de Saddam Hussein e de "terroristas".

    Oito anos depois da invasão norte-americana que depôs o presidente Saddam Hussein, o desenvolvimento no Iraque continua lento e há escassez de alimentos, água, electricidade e empregos.

    Os protestos desta sexta-feira foram, de facto, organizados principalmente por meio da rede social Facebook, a exemplo do que aconteceu com as manifestações que acabaram por derrubar os governos da Tunísia e Egipto nas últimas semanas.

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  2. Os amigos do ditador
    O que têm em comum o neoconservador Richard Perle, o sociólogo da "Terceira Via" Anthony Giddens e o filósofo do "fim da História" Francis Fukuyama? Todos foram à Líbia conhecer Khadafi para ajudarem a limpar a imagem do ditador no estrangeiro.
    25 Fevereiro, 2011 - 12:19 | Por Luís Branco

    A chamada diplomacia económica portuguesa teve um ponto alto quando José Sócrates trocou as palavras "ditador sanguinário" por "líder carismático" na hora de ser recebido por Khadafi logo no primeiro ano de governo. Desde então, voltou lá quatro vezes para abrir as portas dos negócios do regime líbio aos empresários portugueses. E ainda esta semana, o ministro Luís Amado agitou o fantasma do extremismo islâmico por detrás dos protestos, repetindo os argumentos da sinistra conferência de imprensa dada por Khadafi na terça-feira.

    Não foi a primeira vez que a hipocrisia da diplomacia económica se sobrepôs à defesa das liberdades e valores democráticos. Tão ou mais preocupante é a sua banalização, quando já ninguém se choca por ver misturados nos telejornais os cadáveres dos manifestantes chacinados em Tripoli e a preocupação dos banqueiros e exportadores portugueses pela fatia de negócio ameaçada.

    Admitamos por isso que na galeria de amigos do ditador, Sócrates e Amado estão na fila dos interesseiros. Mas há outros nomes na galeria que podem surpreender. Homens influentes e bem pagos por lóbistas e consultoras para ajudar a fazer dum ditador "um líder carismático" aos olhos do planeta.

    No centro desta operação esteve a firma de consultores Monitor Group, contratada por Khadafi para estudar e melhorar a competitividade da economia líbia - o autor é Michael Porter, que fez idêntico estudo em 1994 para o governo de Cavaco Silva.

    Num documento revelado pela oposição, o projecto era inventar e vender a imagem duma nova Líbia, "apresentando Muammar Khadafi como um pensador e intelectual". Na primeira fase do projecto, há quatro anos, foram promovidas visitas à Líbia de personalidades seleccionadas. O mais surpreendente será sem dúvida Richard Perle, o neoconservador conselheiro de Bush e que era o segundo responsável pela defesa norte-americana na presidência de Reagan, quando os EUA bombardearam Tripoli e Reagan chamou "cão louco" a Khadafi.

    Sabe-se que Perle reuniu com o vice-presidente Cheney acerca dos dois encontros que manteve com Khadafi. Mas aos outros convidados estava confiada outra tarefa: a de ajudar o mundo a perceber as mudanças em curso no país. Aqui aparecem nomes como o de Anthony Giddens, que depois publicou no New Statesman um artigo apropriadamente chamado "O Coronel e a sua Terceira Via", depois republicado no El Pais e no La Repubblica. Ou ainda Francis Fukuyama, que depois de duas visitas a Tripoli deu conferências intituladas "As minhas conversas com o Líder"… No campo dos negócios e tecnologia, o escolhido foi Nicholas Negroponte, director do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e irmão do então director nacional dos serviços secretos, John Negroponte. Nicholas dirigia o projecto "Um computador portátil por criança" e depressa substituiu o Egipto pela Líbia nos países-piloto. No fim de 2007, a Intel e a Microsoft anunciavam a venda de 150 mil portáteis ao ministério da Educação da Líbia.

    Pelos vistos, a acção destas personalidades tão eminentes veio iluminar Sócrates e Amado, que mostraram ter aprendido bem a lição: de ditador sanguinário a líder carismático vai a distância duma transferência bancária urgente.

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  3. Massacre participativo
    Um país em que um dos principais dirigentes seja um estudioso dos processos de democracia participativa nas “instituições globais de governança”, que denuncie o seu carácter anti-democrático e promova o papel da sociedade civil. Será um sonho? Não, é mesmo um pesadelo. O país é a Líbia. O dirigente em questão é o filho do “chefe da revolução”: Saif Khadafi . A sua tese de doutoramento na London School of Economics intitula-se “O papel da sociedade civil na democratização das instituições de governança global, do poder mole à tomada colectiva de decisões”. E terá gostado tanto da respeitável universidade que, subsequentemente, lhe fez uma doação generosa. Portanto, temos um homem interessado na democracia participativa e benfeitor.
    Agora, na sua Líbia natal, apela ao massacre do seu povo. Terá descoberto uma nova técnica de participação da sociedade civil: os massacres participativos e moles.

    Carlos Carujo 25.2.11

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  4. Sexta-feira, 25 Fevereiro 2011
    Kadhafi como Hitler e a Al Jazeera como a Resistência
    25 de Fevereiro de 2011 por Renato Teixeira

    Roubado ao Al Akhbar
    Entrincheirado em Tripoli, abandonado pela maioria das forças que o apoiaram durante mais de quatro décadas, provavelmente escondido num qualquer bunker e já com o cianeto ou ou a pistola carregada no bolso, o tirano da Líbia recorre a todos os métodos do nazi-fascismo. O fuzilamento da dissidência e da população civil e a contratação de mercenários serão provavelmente os seus dois últimos actos de guerra antes do suicídio ou assassinato. Para quem duvidada que esta seria a mais sangrenta das revoluções de jasmim e este o seu mais louco tirano pode começar a justificar o embaraço e a preparar a auto-crítica. Está um massacre em curso na Líbia com balas pagas com o nosso dinheiro. Obrigado Luís Amado, José Sócrates e Durão Barroso.

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  5. 25.2.11
    Um novo panarabismo
    São tantas as notícias e as imagens, e tão vertiginosa a sequência de acontecimentos, que não é fácil ter tempo e distância para tentar perceber minimamente o alcance de tudo o que está a acontecer em muitos dos países que constituem a Liga Árabe.
    Este artigo, de El País de hoje, ajuda a entender diferenças e semelhanças.


    «Gadafi ametralla y bombardea al pueblo para mantenerse en el poder. A diferencia de Ben Ali y Mubarak, a él solo lo sacarán con los pies por delante. No es esta, sin embargo, la principal diferencia del tirano libio con sus derrocados vecinos. Ben Ali y Mubarak eran dictadores domésticos, como lo fueron Franco o Salazar, sin pretensiones de universalidad. Gadafi, en cambio, se presentaba, sobre todo en sus primeros lustros, como sucesor de Nasser, adalid del panarabismo y líder revolucionario del Tercer Mundo. (…)


    En Libia, la primavera árabe confirma que está por encima de las diferencias que han escindido ese mundo: pro y antiamericanos, socios o enemigos jurados de Israel, de discurso derechista o izquierdista, de orden o "revolucionarios", pobres o ricos en petróleo. El panarabismo del siglo XX ha sido sustituido por uno nuevo: el de los ciudadanos que reclaman libertades y derechos, se vistan sus regímenes con los oropeles que se vistan; el de los ciudadanos que, a través de Al Yazira e Internet, han creado una umma, una comunidad que, desde el Atlántico al Golfo, desea pluralidad -incluido, por qué no, un lugar al sol para los islamistas- y democracia sin adjetivos.»
    Posted by Joana Lopes

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