A primeira semana de campanha eleitoral confirmou que os partidos da troika não desejam, nem querem, abordar as verdadeiras propostas que têm para o país.
As medidas com que PS, PSD e CDS se comprometeram, assinando o memorando de entendimento, mantêm-se ausentes e estrategicamente ocultas nas acções de campanha desenvolvidas por estes três partidos.
Os pequenos casos e incidentes de campanha, a vozearia estridente, os discursos inflamados até à rouquidão, as acções de rua encenadas em que se fingem multidões onde elas não existem, têm sido o sustentáculo deste vácuo, desta ausência de debate político em torno das questões realmente decisivas para o nosso futuro.
Sobre o desemprego e o seu previsível aumento, nem uma palavra.
Sobre a redução da duração máxima do subsídio de desemprego, nem uma palavra.
Sobre o congelamento/redução de salários e pensões, nem uma palavra.
Sobre o aumento de impostos, nem uma palavra.
Sobre a revisão da legislação laboral e do Código do Trabalho, com vista à facilitação do despedimento, nem uma palavra.
Sobre a flexibilização dos horários de trabalho e a redução da retribuição pela prestação de trabalho suplementar (horas extra), nem uma palavra.
Sobre o plano de privatizações nas áreas dos transportes (Aeroportos de Portugal, TAP e CP), energia (GALP, EDP, e REN), comunicações (CTT) e parte da Caixa Geral de Depósitos (Caixa Seguros), nem uma palavra.
Sobre a redução de custos na área de educação e a subsequente destruição da Escola Pública, tendo em vista a poupança de 195 milhões de euros, nem uma palavra.
Sobre o aumento das taxas moderadoras e o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde, reduzindo a despesa nesta área em 550 milhões de euros, nem uma palavra.
Sobre o aumento das tarifas e a liberalização dos mercados da electricidade e do gás, nem uma palavra.
Estes são apenas alguns exemplos das medidas que PS, PSD e CDS irão implementar caso venham a integrar o futuro Governo. Todos estas medidas fazem parte do
memorando da troika, ou seja, todas elas são o verdadeiro compromisso eleitoral dos partidos do "arco da austeridade".
O resto, o que têm andado a esgrimir durante a última semana, é apenas espectáculo mediático e "cortina de fumo" para esconder aos eleitores o que verdadeiramente lhes reservaram para o futuro.
Por tudo isto, urge que a esquerda rompa o silêncio sobre o que verdadeiramente se decide no próximo dia 05 de Junho.
Compete à esquerda, nesta última semana de campanha eleitoral, rejeitar o discurso da inevitabilidade, esclarecer e informar, contrariar a chantagem do apelo ao "voto útil", afirmar e demonstrar a existência de alternativas.
Temos uma semana para o fazer, vamos a isto?