terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Um ditador é um ditador


Um ditador é um ditador.

Em questões de direitos humanos não podem existir contemporizações ideológicas, geoestratégicas ou económicas.

Perante os relatos que nos chegam da Líbia não podem existir silêncios comprometidos, apenas veemente condenação e repúdio.

Um ditador é um ditador e Muammar Khadafi, como todos os outros ditadores, merece cair às mãos do seu povo.

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10 comentários:

  1. Libyan pilots and diplomats defect
    Group of army officers have also issued a statement urging fellow soldiers to "join the people" and help remove Gaddafi.

    The pilots claimed to have defected after refusing to follow orders to attack civilians protesting in Libya [AFP]

    Two Libyan air force jets landed in Malta on Monday and their pilots have asked for political asylum.

    The pilots claimed to have defected after refusing to follow orders to attack civilians protesting in Benghazi in Libya.

    The pilots, who said they were colonels in the Libyan air force, were being questioned by authorities in an attempt to verify their identities.

    Meanwhile, a group of Libyan army officers have issued a statement urging fellow soldiers to "join the people" and help remove Muammar Gaddafi.

    The officers urged the rest of the Libyan army to march to Tripoli.

    Earlier, diplomats at Libya's mission to the United Nations sided on Monday with the revolt against their country's leader and called on the Libyan army to help overthrow "the tyrant Muammar Gaddafi."

    In a statement issued as protests erupted across Libya, the mission's deputy chief and other staff said they were serving the Libyan people, demanded "the removal of the regime immediately" and urged other Libyan embassies to follow suit.

    Gaddafi was waging a bloody battle to hang on to power as the revolt against his 41-year rule reached the capital, Tripoli.

    The statement issued in New York said hundreds had died in the first five days of the uprising.

    A spokesman for the UN mission, Dia al-Hotmani, said the statement had been issued by deputy permanent representative Ibrahim Dabbashi and other staff.

    Other Libyan officials said they did not know the whereabouts of permanent representative Abdurrahman Shalgham, a former Libyan foreign minister, but believed he was not in New York. He was not associated with the statement, they said.

    Hotmani said that at a meeting on Monday at the mission's New York offices, staff "expressed our sense of concern about the genocide going on in Libya."

    "We are not seeing any reaction from the international community," he added.

    "The tyrant Muammar Gaddafi has asserted clearly, through his sons the level of ignorance he and his children have, and how much he despises Libya and the Libyan people," the Arabic language statement said.

    It condemned Gaddafi's use of "African mercenaries" to try to put down the rebellion and said it expected "an unprecedented massacre in Tripoli."

    'Cut the snake's head'

    The statement called on "the officers and soldiers of the Libyan army wherever they are and whatever their rank is ... to organise themselves and move towards Tripoli and cut the snake's head."

    It appealed to the United Nations to impose a no-fly zone over Libyan cities to prevent mercenaries and weapons being shipped in.

    It also urged guards at Libya's oil installations to protect them from any sabotage "by the coward tyrant," and urged countries to prevent Gaddafi from fleeing there and to be on the lookout for any money smuggling.

    Dabbashi and his colleagues called on The Hague-based International Criminal Court to start an immediate inquiry into war crimes and crimes against humanity they said Gaddafi and his sons and followers had committed.

    They called on employees of Libyan embassies all over the world to "stand with their people", especially the mission at the UN European headquarters in Geneva, which they said should seek action by the UN Human Rights Council there.

    It was not immediately clear how many other Libyan embassies were likely to heed the call, although the country's ambassador in India, Ali al-Essawi, said he was resigning in protest at the violent crackdown in his homeland.

    Libya's ambassadors to the European Union, Bangladesh and Indonesia have also resigned

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  2. Ligação directa ao Robert Fisk e ao pequeno almoço da Morgada, no último dia de Khadafi. Inshalá!
    22 de Fevereiro de 2011 por Renato Teixeira
    Cruel. Vainglorious. Steeped in blood. And now, surely, after more than four decades of terror and oppression, on his way out.
    A revolução continua em directo no Live Stream da Al Jazeera.

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  3. Líbia: a revolução que se segue no mundo árabe?
    Esta segunda-feira a Líbia viveu o seu oitavo dia de revolta com várias cidades a serem tomadas pelos manifestantes com a ajuda de deserções no exército. Em Tripoli o regime de Kadhafi respondeu com um massacre, há pelo menos 400 mortos. Violência extrema já foi condenada internacionalmente, ditador líbio é acusado de genocídio.
    22 Fevereiro, 2011 - 12:09
    O mundo árabe está em convulsão sucessiva e a receita para a revolta tem sido comum: mensagens através do Facebook, Twitter e SMS. Quando os protestos rebentam no meio da cidade, os presidentes começam a tremer. Foi assim na Praça do Palácio, na Tunísia, na Praça Tahrir, no Egipto, e na Praça Pérola, no Bahrain. Agora, os líbios querem o mesmo.
    Esta segunda-feira, várias cidades deste país, como Benghazi e Syrte caíram nas mãos dos manifestantes, aproveitando a deserção de muitos membros do exército. Segundo a presidente da Federação Internacional das Ligas de Direitos Humanos, Suhayr Belhassen, “os militares juntaram-se ao levantamento contra Muammar Kadhafi”, cita a France Presse.
    No centro de Tripoli vários edifícios do governo foram incendiados esta madrugada por manifestantes que exigem o fim do regime, noticiou a televisão árabe Al-Arabiya.
    De acordo com várias ONG, os confrontos entre a população e as forças de segurança, entretanto enviadas, já provocaram entre 300 a 400 mortos. Uns atacam com paus e pedras, enquanto os outros optam pela lei da bala. Contudo, Tripoli ainda consegue ser um bastião da resistência pró-Kadhafi. Um grupo de manifestantes tentou dirigir-se para a Praça Verde, no centro de Tripoli, mas os militares conseguiram afastá-los do objectivo ao atingi-los com gás lacrimogéneo. Só que ninguém sabe por quanto tempo é que será possível manter o bastião da cidade inviolável.
    Esta segunda-feira, a situação na capital era de máxima tensão. De acordo com as agências noticiosas encontravam-se vários cadáveres espalhados pelas ruas da cidade e ouviam-se tiros em muitos bairros da capital – a estação de televisão Al Jazira noticiou ainda que avião e um helicóptero militares sobrevoaram a capital líbia e dispararam indiscriminadamente contra os manifestantes.
    Os ataques começaram pouco depois de todas as comunicações telefónicas terem sido cortadas e menos de uma hora após a televisão líbia ter transmitido uma mensagem “urgente”, alegadamente emitida do comando das Forças Armadas. Nesta mensagem, foi anunciado o início de uma operação contra os “autores dos actos de destruição e sabotagem” e dirigido um pedido à população líbia para que colaborasse com as forças de segurança em todo o país.
    A AFP cita um habitante que qualificou de “massacre” os ataques que viu em Tajoura, um dos bairros dos arredores de Tripoli, ao passo que uma outra testemunha diz ter presenciado a descida de um helicóptero de mercenários africanos em Fachloum, também nos subúrbios da capital.
    Sabe-se também que dois pilotos líbios desviaram os seus aviões para Malta, para onde fugiram depois de terem recebido ordens para bombardear os locais dos protestos, adiantaram à Reuters responsáveis do Governo maltês. Os dois pilotos, ambos coronéis, descolaram de uma base aérea junto a Trípoli e um deles já pediu asilo político em Malta.
    A violência já causou também algumas demissões no interior do Governo. O ministro da Justiça, Mustafa Mohamed Abud Al Jeleil, demitiu-se em protesto contra o "uso excessivo de violência" das forças de segurança contra os manifestantes, avançou o jornal privado "Quryna". Pouco antes tinham sido noticiadas as demissões de três diplomatas líbios, todos eles também em reacção à dura repressão das manifestações pró-democracia – entre eles o enviado líbio à Liga Árabe, Abdel Moneim al-Honi, que anunciou ir juntar-se "à revolução" e o embaixador da Líbia na Índia, Ali al-Essawi, o qual justificou a sua demissão como um "protesto" contra a violenta acção das autoridades.

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  4. Kadhafi acusado de "genocídio"

    O embaixador da Líbia na ONU classificou como "genocídio" a repressão do regime contra os manifestantes e pediu à comunidade internacional para não dar asilo a Kadhafi. Também os 27 países da União Europeia condenaram esta segunda-feira, numa declaração conjunta, a repressão das manifestações na Líbia e pediram que seja posto “imediatamente” um fim à violência no país.

    Cada vez mais vozes se juntam às críticas à acção das autoridades na repressão dos protestos: mais recentemente a do secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, o qual descreveu as reivindicações dos manifestantes como "legítimas" e instou o regime de Kadhafi a pôr termo à repressão violenta das manifestações. "Estamos perante novas circunstâncias na região, e estas circunstâncias exigem conversações e não o confronto", sublinhou Moussa, expressando a "profunda preocupação" da Liga Árabe com o que se passa na Líbia. A Liga Árabe vai reunir-se de urgência esta terça-feira à tarde, no Cairo, para analisar a crise na Líbia.

    Respondendo aos rumores que indiciavam a saída do ditador do país, Khadafi apareceu, por instantes, na televisão estatal para desafiar os manifestantes e dizer "estou em Trípoli, não na Venezuela", adiantou a estação de televisão Al Arabiya.

    Entretanto, o Governo português enviou um avião C130 para retirar os portugueses que vivem neste país do Norte de África.

    Na Líbia, as forças leais a Kadhafi defendem a todo o custo a capital Tripoli. No Bahrain há esta terça-feira mais uma manifestação e na Argélia e Marrocos a situação continua tensa.

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  5. São revoltas seculares - porque só se fala das religiões?
    Se se podem deitar abaixo ditaduras na Europa - primeiros os fascistas, depois os soviéticos - por que não se podem derrubar ditadores no grande mundo árabe muçulmano? E - só por um instante, pelo menos - deixem a religião fora da discussão.

    Mubarak alegou que os islamistas estariam por trás da Revolução Egípcia. Ben Ali disse o mesmo, na Tunísia. O rei Abdullah da Jordânia vê uma sinistra mão escura - da al-Qa'ida, da Irmandade Muçulmana, sempre mão islâmica - por trás da insurreição civil em todo o mundo árabe. Ontem, as autoridades do Bahrain descobriram a amaldiçoada mão do Hezbollah, ali, por trás do levantamento xiita. Onde se lê Hezbollah, leia-se Irão.

    Por que, diabos, tantos intérpretes cultos, embora impressionantemente antidemocráticos, insistem em interpretar tão mal as revoltas árabes? Confrontados por uma série de explosões seculares - o caso do Bahrain não cabe perfeitamente nessa classificação - todos culpam os islâmicos radicais. O Xá cometeu o mesmo erro, só que ao contrário: confrontado com um óbvio levantamento islâmico, pôs a culpa nos comunistas.

    Os infantilóides Obama e Clinton acharam explicação ainda mais esdrúxula. Depois de muito terem apoiado as ditaduras "estáveis" do Médio Oriente - quando tinham a obrigação de defender as forças democráticas -, resolveram apoiar os clamores por democracia no mundo árabe, justamente quando os árabes já estão tão absolutamente desencantados com a hipocrisia dos ocidentais, que não querem os EUA ao lado deles. "Os EUA interferem no nosso país há 30 anos, apoiando o governo de Mubarak, armando os soldados de Mubarak" - disse-me um estudante egípcio na praça Tahrir, na semana passada. "Agora, agradeceríamos muito se parassem de interferir, mesmo que a nosso favor." No final da semana, ouvi vozes idênticas no Bahrain. "Estamos a ser assassinados por armas dos EUA, disparadas por soldados bahrainis treinados nos EUA, em tanques fabricados nos EUA" - disse-me um médico na sexta feira. "E Obama, agora, quer aparecer como nosso aliado?"

    Os eventos dos últimos meses e o espírito anti-regime da insurreição árabe - que clama por dignidade e justiça, não por algum emirado islâmico - ficarão nos nossos livros de histórias por séculos e séculos. E o fracasso dos islamistas mais obcecados será discutido por décadas. Havia especial ardor na gravação da al-Qa'ida divulgada ontem e gravada antes da queda de Mubarak, que falava da necessidade de o Islão triunfar no Egipto. E uma semana antes, homens e mulheres, seculares, nacionalistas, egípcios, muçulmanos e cristãos, pela própria força e meios, haviam-se livrado do velho ditador, sem qualquer ajuda de Bin Laden Inc.

    Ainda mais esquisita foi a reacção do Irão, cujo supremo líder se convenceu de que o sucesso do povo egípcio fora sucesso do Islão. Só a al-Qa'ida, o Irão e os seus mais odiados inimigos - os ditadores anti-islamistas - ainda crêem que a religião esteja por trás da rebelião das massas democráticas no Médio Oriente.

    A mais terrível ironia de todas - de que só muito lentamente Obama se deu conta - é que a República Islâmica do Irão elogiava os democratas do Egipto, ao mesmo tempo que ameaçava executar seus próprios opositores.

    Robert Fisk - 1

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  6. Não foi, como se viu, uma grande semana para o "islamicismo" [orig. "Islamicism"]. Há detalhes a considerar, é claro. Quase todos os milhões de manifestantes árabes que querem quebrar o pescoço da autocracia que - com importante colaboração ocidental - sufoca a vida deles com humilhações e medo, são, sim, muçulmanos. E os muçulmanos - diferentes do ocidente 'cristão' - não perderam a fé.

    Contra os tanques e chicotes e cacetes dos assassinos da polícia de Mubarak, eles lutavam com pedradas, gritando "Allah akbar", e aquela luta era, sim, para eles, uma "jihad" - palavra que não significa "guerra religiosa", mas significa "lutar pela justiça". Gritar "Deus é grande" e lutar por justiça são movimentos absolutamente lógico-consistentes e esse é o próprio espírito profundo do Corão.

    No Bahrain temos um caso especial. Aqui, a maioria xiita é governada por uma minoria de muçulmanos sunitas pró-monarquia. A Síria, aliás, pode ser contaminada pela "bahrainite" pela mesma razão: ali também uma maioria sunita é governada por uma minoria alawita (xiita). Mas, ora essa, o ocidente pode alegar, pelo menos - no já bem pouco entusiasmado apoio que ainda oferece ao rei Hamad do Bahrain - que o Bahrain, como o Kuwait, tem um Parlamento. É pobre mostrengo velho, que existiu de 1973 a 1975, quando foi inconstitucionalmente dissolvido, e depois reinventado, em 2001, num pacote de "reformas". Mas o novo parlamento conseguiu ser ainda menos representativo que o anterior. Os políticos da oposição foram caçados pela polícia política, e os distritos eleitorais redesenhados, ao estilo do Ulster, para garantir que a minoria sunita controlasse todo o parlamento. Em 2006 e 2010, por exemplo, o principal partido xiita no Bahrain ganhou só 18, dos 40 assentos no parlamento. Há clara semelhança com o que houve na Irlanda do Norte, nas perspectivas dos sunitas no Bahrain. Muitos me disseram que temem pela vida; que temem que soldados xiitas queimem as suas casas e matem as suas famílias.

    Tudo isso haverá de mudar. O controle pelo Estado só é efectivo se for legítimo, e usar munição real contra manifestantes pacíficos e desarmados só sugere que as coisas podem acabar, no Bahrain, numa série de pequenos "Domingos Sangrentos". Quando os árabes tenham aprendido a domar o medo, poderão exigir direitos civis, como os católicos na Irlanda do Norte exigiram, chegada a hora, ante a brutalidade do Royal Ulster Constabulary (RUC, polícia da Irlanda do Norte). No final, os britânicos tiveram de desconsiderar a legislação unionista e admitir que o IRA (Irish Revolucionary Army) dividisse o poder com os protestantes. Os paralelos não são exactos e os xiitas (ainda) não têm milícias, embora o governo do Bahrain tenha exibido fotografias de pistolas e espadas - para o IRA, sequer seriam consideradas armas -, para provar que haveria "terroristas" entre os manifestantes.

    Há no Bahrain, sim, uma batalha sectária, ao lado de uma batalha secular, algo que até o Príncipe Coroado acertou ao reconhecer, quando disse, originalmente, que as forças de segurança tiveram de suprimir os protestos para evitar a violência sectária. É ideia que tem sido divulgada empenhadamente pela Arábia Saudita, que tem fortes interesses em suprimir qualquer agitação no Bahrain. Os xiitas da Arábia Saudita podem ver as suas posições reforçadas se os xiitas do Bahrain passarem a controlar o Estado. Nesse caso, sim, os líderes da República Islâmica Xiita pôr-se-ão, de facto, a cantar de galo.

    Mas essas insurreições inter-conectadas não devem ser postas como factores determinantes de tudo o que aconteça no Médio Oriente. O levantamento no Iémene contra o presidente Saleh (há 32 anos no poder) é democrático, mas também é tribal, e a oposição não tardará a armar-se. O Iémene é uma sociedade pesadamente armada, várias tribos, cada qual com sua bandeira, nacionalismo rampante.
    Robert Fisk - 2

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  7. E, depois, há a Líbia.

    Kadhafi é non-sense, com as suas teorias do "Livro Verde" - mas despachou os manifestantes benghazi, na semana passada, quanto exibiram versão concreta desse específico volume -, extravagante, seu governo é desumano, cruel (e já dura, lá, há 42 anos). É um Ozymandias1[rei de que pouco resta] antes da queda. Seu flirt com Berlusconi - ainda pior: o seu caso de amor com Tony Blair, cujo secretário do Exterior, Jack Straw, chamava de "estadista" ao lunático da Líbia - jamais o salvará.Mais coberto de medalhas que o general Eisenhower, em busca desesperada de um cirurgião plástico que lhe ajeite a papada, essa ruína humana ameaça agora com castigo "terrível" os líbios que o desafiem. Sobre a Líbia é preciso lembrar duas coisas: como o Iémene, a Líbia é terra de tribos; e, quando a Líbia se levantou contra os fascistas, deu início a uma guerra de libertação. Os bravos comandantes líbios enfrentaram o laço da forca com inacreditável coragem. Kadhafi é doido. Isso não implica que os líbios sejam idiotas.

    Por tudo isso, está a acontecer um maremoto político, social, cultural, no mundo do Médio Oriente. Haverá muitas tragédias, muito sangue derramado, muitas novas esperanças. O melhor a fazer é não ler, ignorar completamente todos os analistas e os "think tanks" cujos 'especialistas' imbecilizados dominam todos os canais de televisão. Se os checos podem ser livres, por que os egípcios não poderiam? Se se podem deitar abaixo ditaduras na Europa - primeiros os fascistas, depois os soviéticos - por que não se podem derrubar ditadores no grande mundo árabe muçulmano? E - só por um instante, pelo menos - deixem a religião fora da discussão.

    Artigo publicado no jornal britânico The Independent em 20/2/2011. Traduzido pelo Colectivo da Vila Vudu, disponível em redecastorphoto.blogspot.com


    Robert Fisk - 3
    Jornalista inglês, correspondente do jornal “The Independent” no Médio Oriente. Vive em Beirute, há mais de 30 anos

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  8. Sócrates, estrela do aniversário da revolução líbia
    Convem não esquecer...Primeiro-ministro português obrigado a fazer noitada

    Sentado ao lado de Muammar Kadhafi, José Sócrates foi a estrela do 41º aniversário da revolução líbia, que foi celebrado nesta quarta-feira(2010-09-02 ). Segundo o relato da agência Lusa, o primeiro-ministro português viu-se mesmo obrigado a fazer uma noitada para assistir a todas as festividades, depois de cumprido o breve encontro «5+5», que reuniu representantes de vários países do mediterrâneo.

    Os principais momentos da reunião são revelados por imagens que mostram o primeiro-ministro português sentado ao lado de Kadhafi.

    O líder líbia fez questão de ter Sócrates juntamente com o primeiro-ministro sérvio, Boris Tadic. no seu automóvel durante as celebrações, que tiveram lugar num hipódromo. José Sócrates e a comitiva do Governo português, composta também pelo ministro Luís Amado, abandonarem o local já depois das duas da madrugada.

    Segundo informação da agência de notícias local, JANA, também estiveram presentes os presidentes da Serra Leoa, Guiné-Conacri, Malta, Tunísia e Argélia, para além dos primeiros-ministros da Croácia e da Eslovénia. Os vice-presidentes de Espanha, Grécia e Turquia, para além dos ministros dos negócios estrangeiros de Itália e Chipre também não faltaram.

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  9. Castro diz que Nato se prepara para invadir a Líbia
    Ex-presidente de Cuba não menciona qualquer atrocidade de Kadafi, dizendo apenas que “é preciso esperar o tempo necessário para saber com rigor o que há de verdade e de mentira”. Mas denuncia "o crime que a Nato se prepara para cometer contra o povo líbio".
    Artigo | 24 Fevereiro, 2011 - 13:20

    Castro diz que vai ser preciso esperar o tempo necessário para saber com rigor o que há de verdade e de mentira no que se diz sobre a Líbia
    O ex-presidente de Cuba Fidel Castro, dedica a sua última reflexão, publicada em CubaDebate, à Líbia, sob o título “O plano da Nato é ocupar a Líbia”.

    Sem mencionar uma única vez as atrocidades cometidas pelo coronel Kadafi contra o seu povo, denunciadas até pelos seus ex-ministros, incluindo o número 2 do regime, Castro diz que “é absolutamente evidente que o governo dos EUA não está nada preocupado com a paz na Líbia e não hesitará em dar à Nato a ordem para invadir este país rico, talvez dentro de horas ou de poucos dias.”

    Recorde-se que Barack Obama só nesta quarta-feira falou sobre a Líbia e não pediu a renúncia de Kadafi.

    “Poder-se-á estar ou não de acordo com Kadafi”, diz Castro. “O mundo foi invadido por todo o tipo de notícias, especialmente usando os média de massa. Vai ser preciso esperar o tempo necessário para saber com rigor o que há de verdade e de mentira, ou uma mistura de factos de todo o tipo que, no meio do caos, ocorreram na Líbia.”

    O ex-presidente cubano lembra “aqueles que com pérfidas intenções inventaram a mentira de que Kadafi estava a caminho da Venezuela” e cita o Ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolás Maduro, que fez votos que “o povo líbio encontre, no exercício da sua soberania, uma solução pacífica para as suas dificuldades, que preserve a integridade do povo e da nação líbia sem a interferência do imperialismo...”

    Castro diz ainda não imaginar “o dirigente líbio a abandonar o país, fugindo das responsabilidades que lhe são imputados, sejam ou não falsas em parte ou na totalidade.”

    Em conclusão, escreve Fidel Castro: “Uma pessoa honesta estará sempre contra qualquer injustiça que se cometa a qualquer povo do mundo, e a pior delas, neste momento, seria permanecer em silêncio diante do crime que a Nato se prepara para cometer contra o povo líbio.

    Para a chefia desta organização belicista é urgente fazê-lo. É preciso denunciá-lo!”

    PCP apela à “resolução pacífica dos conflitos internos na Líbia”

    Já o Gabinete de imprensa do PCP divulgou uma nota em que “condena a repressão que se faz sentir em países como o Iémen, Bahrein, Argélia, Marrocos e Líbia”.

    Na mesma nota, o PCP valoriza “as vitórias alcançadas pelos povos tunisino e egípcio com o afastamento dos ditadores”, mas não se refere nunca ao regime de Kadafi, palavra que, aliás, não é mencionada. A nota do PCP “Apela à resolução pacífica dos conflitos internos na Líbia, chama a atenção para os perigos que, no quadro de uma grave situação interna, pendem sobre a independência e integridade territorial deste País e alerta para as manobras protagonizadas pelos EUA, União Europeia e NATO que, demonstrativas da sua política de dois pesos e duas medidas, suscitam profunda inquietação quanto aos riscos de intervenção externa neste País.”

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  10. O discurso do abutre
    por Daniel Oliveira


    O ministro dos Negócios Estrangeiros avisou que a situação nos países muçulmanos é explosiva. Demos por isso. Mais explosiva do que a quando da queda do Muro de Berlim. Talvez. Que pode vir aí o fundamentalismo que apoia terroristas. Seria talvez mais sábio saudar o facto de, ao contrário de todas as previsões dos cínicos, as revoltas terem sido dirigidas por democratas laicos. Se dependesse da forma como a Europa lidou com a região, nada teria mudado.



    Mas Luís Amado fez mais do que dizer o obvio: explicou que aquelas ditaduras fizeram muito pela segurança europeia. Agradece-se a franqueza, mas, quando vemos um banho de sangue num país onde um louco varrido governa há quarenta anos ao sabor dos seus caprichos delirantes, só me ocorre uma palavra para qualificar estas declarações: nojo.



    Não está sozinho, o senhor. Na televisão, o secretario de Estado do Turismo não cabe em si de contente. A instabilidade, as mortes e os motins no Egito e na Tunísia são excelentes para o turismo português. De novo, sinto asco.



    Tenho a certeza que a muitos portugueses acham tudo isto normal. O egoísmo é instintivo e as lágrimas pelos outros ficam para filmes num serão bem passado e campanhas de solidariedade com data marcada. Sou dos que acha que a política não se pode limitar à pura gestão de interesses, mesmo que os interesses sejam os nossos. Que ela tem uma dimensão moral. E que os países e os povos também se distinguem pela elevação moral do seu comportamento.



    Não espero nem quero que Portugal lamente os turistas que decidem mudar de destino e compreendo que em tempos de crise os que vivem do setor fiquem satisfeitos com o facto. Não espero nem quero que a Europa prefira a insegurança destes momentos à segurança do que é previsível. Mas espero que os dirigentes políticos não se esqueçam da dimensão moral da sua função. E que saibam que a desgraça de um povo não se festeja e a liberdade de um povo não se lamenta. Que não há camas ocupadas em hotéis que paguem as vidas que se perderam nem segurança que valha décadas de loucura de meia dúzia de déspotas. Que não há discurso cínico aceitável quando a força aérea de Kadhafi bombardeia manifestantes.



    Uma funerária enterra os mortos mas não festeja uma catástrofe. Um médico trata de um doente mas não lamenta a saúde. Um militar vive da guerra mas deve esperar a paz. E se até os que tratam dos seus negócios têm a obrigação de não esquecer a sua primeira condição - a de humanos -, esperava-se que políticos não a esquecessem. A imagem que, nestas declarações, estes governantes dão do país é a de uma Nação de abutres e de gente sem espingarda dorsal. E isso envergonha-me.

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