sexta-feira, 24 de junho de 2011

Os professores e os cantos de sereia

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Antes das eleições de 05 de Junho bastava percorrer alguns dos blogues ligados à educação para se perceber o sentimento maioritário da classe docente: derrotar o PS.
Se o sentimento geral era mais do que compreensível, os meios propostos para atingir tal fim pareciam-nos maioritariamente imponderados e irreflectidos.

Encontrámos tabelas, organizadas por distritos, onde se demonstrava em que partido valia a pena votar para impedir a eleição de deputados do PS (como se fosse igual votar na CDU, no CDS, no BE ou no PSD)...
Lemos comentários de professores que afirmavam sempre ter votado em partidos de esquerda e que apelavam ao "voto útil" no PSD e no CDS...
Pelo meio fomos lendo alguns comentários avisados, mas claramente minoritários, que alertavam para as consequências para a educação de virmos a ter uma maioria de direita e que recordavam quais as forças políticas que desde o início haviam apoiado as lutas dos professores...

Durante a campanha eleitoral, os professores foram-se entretendo com a novela que envolvia Santana Castilho e o lançamento de um livro, foram especulando sobre os eventuais ministeriáveis, foram discutindo o "eduquês", foram inventando mais uns quantos possíveis salvadores da pátria e, acima de tudo, foram-se esquecendo das questões essenciais: o que defendia cada partido para a educação e o que estava previsto no acordo que PS-PSD-CDS assinaram com a troika.

Conhecidos os resultados das eleições e revelado o nome do novo titular da pasta da educação, as expectáveis reacções de júbilo: "conseguimos!", "adeus Sócrates!", "o Nuno Crato é uma excelente escolha!", "agora é que vai ser!"...

E chegados aqui perguntamos: agora é que vai ser o quê? 

Depois da poeira assentar, depois de cessarem os cantos de sereia, depois dos pretensos pseudo-gurus da educação pararem de se colocar em bicos de pés (em busca de um qualquer lugar na nova equipa governativa), teremos certamente oportunidade de voltar a discutir e analisar as medidas que o novo governo implementará na área da educação. 
Até lá, leiam na íntegra o texto que referimos, pois parte substancial do que será a política elitista de Nuno Crato está lá plasmada, sem rodeios nem falsas expectativas.

4 comentários:

  1. É bom que se comece e/ou continue a discutir o "umbigo" da educação e não a educação do umbigo de qualquer um...

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  2. Pedagogia fora da escola
    Reservamos para mais tarde um comentário mais completo sobre o novo Ministro da Educação, da Ciência e do Ensino Superior. Para já, dizer que a sensação é amarga, porque aos cortes e aos despedimentos exigidos pela troika e acarinhados pelo governo e por qualquer ministro que viesse a ocupar esta pasta, há que juntar agora uma grande dose de conservadorismo, elitismo e autoritarismo deste senhor Nuno Crato, o anti-pedagogo. Aqui fica um aperitivo (retirado desta entrevista de Fevereiro à Rádio Ecclesia):


    A escola livresca e acrítica:


    “A nossa escola deveria assegurar a transmissão de conhecimentos e, às vezes, o que se passa é que, com pretextos muito grandiosos, de criar cidadãos críticos, jovens cientistas, escritores activos, eleitores activos, com esses slogans grandiosos, esquece-se aquilo que é fundamental na escola, que é transmitir conhecimentos básicos.”


    O cheque-ensino:


    “Há pessoas que defendem um chamado cheque de educação, há várias maneiras de o fazer, não sei exactamente qual a melhor maneira.”


    Sai o Estado, entra a Economia (e cuidado com as Ciências Sociais):


    “é que nós se olharmos para as orientações que saem do Ministério da Educação, só vemos absurdos ou vemos muitos absurdos, porque a área das chamadas Ciências da Educação em Portugal está muito desactualizada do que se passa de bom na investigação científica do mundo. É uma área muito ideológica, que nasceu desta ideia do centralismo, de que um Estado central haveria de conseguir controlar bem a Educação, e que o Estado central haveria de dizer a cada filho, a cada família, escola, professor, aquilo que deve fazer, ao mais ínfimo pormenor e duma forma muito marcada, ideologicamente, e pouco aberta àquilo que a Ciência nos diz hoje: aquilo que a Psicologia Cognitiva, os Estudos de Economia de Educação nos dizem sobre o que são as melhores práticas das escolas.”


    Finalmente, o bombismo:


    "Acho que o Ministério da Educação deveria quase que ser implodido, devia desaparecer, devia-se criar uma coisa muito mais simples, que não tivesse a Educação como pertença mas tivesse a Educação como missão, uma missão reguladora muito genérica e que sobretudo promovesse a avaliação do que se está a passar."
    Publicada por Movimento Escola Pública

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  3. fjsantos disse,

    Cada vez mais longe fica o “unanimismo” do 8 de Março.
    Porque, efectivamente, naquele imenso caudal havia águas de muitos rios e ribeiras, cada qual arrastando no seu seio muita espécie diferente de detritos, nem todos misturáveis.
    Nuno Crato será mais um dique que reencaminhará algumas dessas águas em sentido diverso daquele que têm vindo a seguir.

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  4. Leitor disse,

    O que se pode esperar de Nuno Crato não é apenas a execução do programa da troika, mas sobretudo do programa eleitoral do PSD (págs. 94 a 102)
    http://static.publico.pt/docs/politica/programaPSD.pdf

    e do Programa de Governo PSD/CDS, ainda em elaboração, sendo ainda uma incógnita quais as malfeitorias à Escola Pública que o CDS vai conseguir agregar (cheque-ensino, avaliação igual ao privado, gestão de tipo empresarial)

    Nenhumas razões, portanto, para o generoso benefício da dúvida que a APEDE lhe está a conceder.

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