domingo, 31 de outubro de 2010

Os Donos de Portugal - Cem Anos de Poder Económico (1910-2010)


Numa altura em que é crescente a promiscuidade entre o poder económico e o poder político, não podíamos deixar de destacar a edição do livro "Os Donos de Portugal - Cem Anos de Poder Económico (1910-2010)", uma co-autoria de Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório, Francisco Louçã e Fernando Rosas.

Da árvore genealógica das famílias que constituem a oligarquia financeira e económica portuguesa, passando pela análise das suas relações privilegiadas com o Estado (um em cada cinco dos ministros e dos secretários de Estado que tomaram todas as decisões sobre economia em 30 anos passou pelo BCP e um em cada dez pelo BES), a obra efectua uma análise exaustiva sobre quem são e como se perpetuam os verdadeiros donos de Portugal.

Certamente que voltaremos a este livro, abordando de forma aprofundada o seu conteúdo e dando-lhe o merecido destaque.
Até lá, não resistimos a transcrever a pertinente crónica, "Os donos do silêncio", que Oscar Mascarenhas publicou no Jornal de Notícias:

Cinco dos mais proeminentes líderes de um partido com representação na Assembleia da República lançaram na semana que passou um livro feito em conjunto. Este simples facto seria notícia de tomo e com seguimentos em qualquer país de imprensa livre. Fosse qual fosse o livro - mesmo de anedotas.

Pois. Mas os cinco autores chamam-se Francisco Louçã, Luís Fazenda, Fernando Rosas, Cecília Honório e Jorge Costa. O título? 'Os Donos de Portugal - Cem Anos de Poder Económico (1910-2010)'. Resultado: silêncio absoluto nos grandes órgãos de informação, apenas algum passa-palavra em blogues.

Dir-se-á: são dirigentes do Bloco de Esquerda, partido pequenino, têm o relevo que merecem - isto é, nenhum. Não muito mais taludo é o CDS e posso aqui garantir, jurado e cruzado, que se dois dos seus dirigentes empreendessem escrever um livro, andariam numa fona de entrevistas televisivas até vir a mulher da fava-rica.

O crime do livro e dos seus autores é serem contra a corrente (melhor diria contra as grilhetas, mas isso sou eu em manifesto exagero, é claro). E põem a nu os que apuraram ser os Donos de Portugal, o seu tricô interfamiliar, as gentilezas de pataca a ti pataca a mim, a estratégia centenária de se apoderarem do aparelho de decisão do Estado, a imposição do rotativismo dos seus manajeiros embutidos no governo e a sua concepção parasitária de trocar a indústria pela renda financeira.

Está lá tudo isto no livro, com estudo, sem linguagem que se inscreva numa qualquer vulgata ideológica - o que tem o contra de ser de mais difícil compreensão para a generalidade do público - com o rigor de académicos que não se fizeram numa bimby - enfim, um trabalho sério, robusto, disponível para qualquer mano-a-mano intelectual.

Por isso mesmo, está a ser silenciado pelo predominante jornalismo da voz do Dono. É o plano B da manipulação e intoxicação: em regra, esse jornalismo regurgita sentenças do Dono como certezas que nem sequer merecem a ociosidade do contraditório; aparece um livro «do contra», com a agravante de ser bem construído e que dá um trabalhão a contestar - aplica-se a regra do silêncio. Livro? Qual livro? Não sei de nada...

E os Repórteres Sem Fronteiras, sempre disponíveis a verter lágrimas de sangue pelo martírio do jornalismo intrusivo e inescrupuloso quando chamado à responsabilidade, lamentam mas não têm um 'item' nos seus critérios que diga que a liberdade de imprensa piora quando são os próprios jornalistas a silenciar. Uma pena, não é?



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