Depois das eleições municipais, Berlusconi e a direita italiana sofreram hoje mais uma pesada derrota.
O resultado vinculativo dos referendos, realizados ontem e hoje, demonstraram uma clara vontade do povo italiano em dizer não à energia nuclear, não à privatização/liberalização da água e ainda não à imunidade judicial dos responsáveis políticos.
Apesar dos apelos à abstenção efectuados pela direita, a afluência às urnas e a clara vitória do "Sim" nas quatro questões referendadas (que, neste caso, significa "Não") revelam uma crescente rejeição popular das políticas defendidas por Sílvio Berlusconi.
Hoje, apetece-nos dizer: "Questo è solo l'inizio!"
Bell’Italia
ResponderEliminarpor Miguel Cardina
Temos vindo a construir nos últimos anos uma imagem da Itália que é tudo menos simpática. O reinado de Berlusconi mostrou-nos o lado negro da força do dinheiro e do poder, a sua capacidade de transformar a democracia numa opereta de consumo televisivo. Um país que teve pujantes tradições intelectuais e políticas de esquerda foi hegemonizado durante anos por uma direita que tinha em Berlusconi o seu expoente máximo, assistido por dois aliados nem sempre leais: o xenófobo e separatista Umberto Bossi, da Lega Nord, e o «pós-fascista» Gianfranco Fini. Brutta storia.
Entretanto, e depois da vitória do centro-esquerda nas eleições municipais, chegam-nos outras boas notícias do país da bota. Os italianos foram ontem e hoje votar num referendo que Berlusconi tudo fez para evitar. Derrotado, apelou à abstenção na esperança de que não se atingisse o quórum. Notícias más e fresquinhas para Il Cavaliere: não só mais de 50% dos italianos votaram como disseram inequivocamente «não» ao nuclear, à privatização da água e à lei do «legítimo impedimento», um dos escudos legais de Berlusconi (na verdade disseram «sim», já que as perguntas estavam formuladas na negativa). Talvez ainda aqui volte.
Finalmente!
ResponderEliminar«La consulta popular, la primera de carácter abrogativo que sale adelante en 15 años, ha aniquilado el corazón de su política energética, el programa nuclear, y las trampas que Berlusconi intentó hacer sobre la marcha tras la tragedia de Fukushima para hurtar el voto a los ciudadanos. Además, el pueblo le ha recordado que en las democracias la ley es igual para todos, al derogar la ley 'ad personam' del legítimo impedimento, pese a que el Constitucional ya la había corregido en su día. De paso, ha abolido la privatización del agua y la posibilidad de subir las tarifas un 7% sin mejorar el servicio, dos gestos que niegan la tradicional alergia de Berlusconi hacia el sector público.
Las cifras del entusiasmo participativo no ofrecen dudas: se trata de un voto masivo y por tanto político. Cerca de 27 millones de personas han acudido a las urnas sabiendo que, al hacerlo, estaban sepultando el berlusconismo para siempre. (…)
La derrota es especialmente significativa porque se ha producido contra las televisiones, desmintiendo así el viejo sofisma que dice que sin televisión no se ganan votaciones. Un enorme movimiento popular, nacido desde abajo como en las municipales, ha desobedecido las llamadas a la abstención del Gobierno (y las dudas iniciales de una parte de la jerarquía del Partido Democrático), y ha puesto de nuevo a Italia, a la denostada Italia de Berlusconi, a la vanguardia de Europa. Irónico pero cierto.»
Posted by Joana Lopes
Somos todos italianos (!)
ResponderEliminarPublicado por Fabian Figueiredo
Toda a esquerda europeia se tornou italiana nos passados dias, vangloriou-se das derrotas de Berlusconi e até houve quem escrevesse fábulas sobre o assunto. Sem sombra de dúvida foi a democracia que ganhou nos referendos e nas regionais em Nápoles e em Milão, e é igualmente certo, que ao somatório do deslize de popularidade de il Cavaliere e compagnons de route se somou uma aliança de higiene nacional - composta por toda a esquerda e alguns sectores de direita - que permitiu todo este avanço e resistência ao retrocesso civilizacional.
Muito activismo de talk show luso olhou para estes resultados e de peito cheio apontou o dedo à esquerda que navega por mares antes nunca navegados , vejam bem e aprendam! O que infelizmente não se ouve entre riscos e coriscos é a história contada a partir do "era uma vez...". A razão é em si muito simples e bastante objectiva, é que o início do conto teria que começar no governo de coligação do Partido Democrático e da Refundação Comunista, que curiosamente legislaram no sentido da privatização das águas, e que agora na oposição, precisaram do referendo para darem o dito pelo não dito.
Para que não restem dúvidas, celebrei a opção que o povo italiano tomou, a derrota que infringiu a Berlusconi e a importante vitória que obteve na luta anti-liberal. Agora, o que não deixa de ser curioso, é que a esquerda italiana ganha neste episódio, fazendo campanha contra uma lei defendeu quando esteve no executivo.
Que cem frentes anti-liberais floresçam, que cem certezas se confrontem. Toda a pujança para a unidade, e todos os tijolos, cimento e massa para a esquerda grande, mas não me venham com contos, o problema reside mesmo neles, é que a derrota ao liberalismo se tem feito na Europa essencialmente na oposição, quando os radicais defensores dos serviços públicos, dos direitos civis, sociais, económicos e culturais da social-democracia existente, se apoderam do aparelho de estado, executam a gestão corrente do poder instituído tão bem ou melhor que a direita, conseguindo ainda juntar no meio do desmantelamento uma central sindical ou outra.
O que faz com que todo o velho continente, com honrosas excepções, ande de roda gigante em permanência, agora está a direita em cima, depois vai para lá a "esquerda", mas o percurso é sempre fixo, como se tem visto.
Para isso meus senhores (!) já não há pestanas para queimar. A esquerda precisa de ir ao seu reencontro, debater-se e unir-se, definir o que lhe dá coerência, mas isso meus caros, a menos que a esquerda deixe o ser, e para o que nos una mais o que nos separa, não há espaço para cobardias e para confissões com o capital financeiro e suas instituições.