Centro de Atenas transformado em praça de guerra Confrontos com a polícia duraram horas, num dia de greve total em que só o metro de Atenas funcionou para transportar os manifestantes. Papandreu usa argumento de patriotismo para tentar evitar defecções na sua bancada. Artigo | 28 Junho, 2011 - 19:26
Confrontos duraram horas. PANAGIOTU O centro de Atenas foi transformado numa praça de guerra, com confrontos que duraram horas entre manifestantes e polícia, no primeiro dia da greve geral de 48 horas em protesto contra as novas medidas de austeridade que o governo quer fazer aprovar no Parlamento estas quarta e quinta-feiras.
Jovens atiraram pedras e paus contra a polícia de choque no centro de Atenas, que ripostou com saraivadas de gás lacrimogéneo e granadas de efeito moral. A polícia disse que 18 pessoas foram detidas, sendo cinco delas mais tarde presas, enquanto 21 polícias foram feridos.
Greve total
A greve paralisou todos os serviços públicos e os transportes. De médicos a condutores de ambulâncias, dos trabalhadores dos casinos e até mesmo actores de teatro aderiram à paralisação. No sector da energia, a greve provocou apagões em diversos pontos do país.
Centenas de voos foram cancelados ou reprogramados devido à greve dos controladores de tráfego aéreo. As greves dos trabalhadores dos transportes públicos tornaram o trânsito caótico e deixaram os turistas abandonados no porto de Pireu. Os trabalhadores do metro de Atenas, porém, que começaram o dia em greve, voltaram ao trabalho para transportar os trabalhadores que quiseram participar das manifestações.
Maioria em risco
O Partido da Nova Democracia, de direita, opõe-se ao novo pacote do governo socialista do primeiro-ministro Papandreu, criticando os aumentos de impostos. O Pasok, porém, dispõe de maioria absoluta: 155 deputados em 300, o que garantiria uma maioria confortável. Mas há quatro deputados socialistas que se rebelaram, deixando a maioria do Pasok por um fio.
A Comissão Europeia e os governos alemão e francês têm feito chantagem sobre Atenas, exigindo a unanimidade do apoio (governo e oposição) às novas medidas de austeridade, para pagar a última tranche do empréstimo negociado há um ano. Mas, com a recusa da Nova Democracia, o máximo que pode acontecer é uma aprovação por pequena margem. Mas o resultado é de tal forma incerto que já levou Papandreu a invocar o último e desesperado argumento: o patriotismo.
As novas medidas incluem aumentos de impostos e taxas e criação de novos impostos, cortes de subsídios sociais, privatizações de praticamente todas as estatais e despedimentos de funcionários públicos.
O comissário dos assuntos económicos, Olli Rehn, reforçou o tom ameaçador, afirmando que "não existe plano B" para a situação grega.
É apenas um comentário a este artigo de David Marquand. Mas indiciador de que o parlamento grego pode já ter perdido a legitimidade democrática, ou seja, o apoio do soberano, o povo grego.
Nos próximos dias a Europa vai passar por um momento de crise. Na Grécia, o estado de espírito mudou. Quase já ninguém acredita que o resgate do FMI e UE se destina a fazer reformas na Grécia, mas antes a salvar os bancos europeus. Verdade ou mentira, o que conta é que a UE sancionou, e está a promover através do parlamento, a venda de terrenos do domínio público a empresas de construção, o que é explicitamente contra a constituição grega. Trata-se do regresso às políticas que a Junta [militar] grega implementou na sua fase final. Adeus Grécia! Viva a Costa do Sol! A destruição do Egeu está a ser organizada para esconder as perdas dos bancos alemães e franceses. Isto é uma forma de colonialismo. O resultado terá consequências bem para lá das fronteiras da Grécia. Uma UE ao serviço de interesses particulares poderosos, actuando contra os interesses de longo prazo dos seus cidadãos, é uma UE condenada a falhar. Que tenham vergonha. Iannis Carras
Parlamento grego aprova mais austeridade Num parlamento cercado por manifestantes, o primeiro-ministro socialista conseguiu a maioria dos votos para um novo plano de privatizações, cortes salariais e aumento de impostos, uma condição imposta pelo FMI para emprestar mais 17 mil milhões de euros à Grécia. Artigo | 29 Junho, 2011 - 15:48
Milhares de polícias foram colocados junto ao parlamento e lançaram gás lacrimogéneo sobre os manifestantes. Foto endiaferon/Flickr O plano de austeridade passou por 155 votos contra 138, tendo um deputado do PASOK votado contra o seu partido e um deputado da oposição apoiado o plano do governo.
Nas ruas, milhares de pessoas manifestaram-se contra o novo plano de austeridade, no segundo dia de greve geral. Foi a primeira vez desde o fim da ditadura militar que os gregos entraram em greve por mais de 24 horas.
A noite de terça-feira ficou marcada por confrontos nas ruas entre a polícia e grupos de manifestantes e mesmo depois do anúncio da votação têm-se repetido as cenas de violência. Milhares de polícias foram destacados para a zona do parlamento e têm disparado gás lacrimogéneo e balas de borracha sobre os manifestantes. Depois das dezenas de feridos nos confrontos de terça-feira, a praça Syntagma voltou hoje a ser transformada num campo de batalha, com milhares de pessoas em fuga e a polícia a tentar encurralá-las nas ruas mais estreitas daquela zona da cidade. O correspondente da BBC em Atenas afirma que bombas de gás lacrimogéneo foram atiradas para a estação do metro, fazendo diversas pessoas cair nas escadas, sufocadas.
O uso de gás lacrimogéneo em larga escala foi também tema de debate no parlamento, com os deputados a criticarem as ordens dadas nesse sentido às forças policiais e a apelarem ao fim da "guerra química" travada à porta do edifício enquanto decorria a votação.
A sociedade grega já vive os efeitos do primeiro pacote de medidas que foi posto em marcha com a primeira tranche do empréstimo e que levou ao corte de 10% nos salários dos 800 mil trabalhadores do sector público. Com o novo plano, ao fim de três anos de recessão, a imprensa de Atenas calcula que cada família terá de pagar mais 2795 euros por ano, mais ou menos o rendimento médio mensal das famílias gregas.
"Os manifestantes sentem que o primeiro memorando agravou a crise", diz Stathis Kouvelakis, professor de economia política em Londres, que sublinha o simbolismo das imagens de manifestações em frente ao parlamento que têm corrido o mundo. "É o sistema político contra o povo. Existe uma ruptura de legitimidade profunda", declarou o investigador ao diário francês Le Monde.
A pressão da opinião pública e a irredutibilidade da oposição no parlamento trouxeram mais expectativa quanto ao comportamento dos deputados da maioria PASOK nesta votação, que acabou por decorrer favoravelmente aos planos da troika. A chanceler alemã Angela Merkel reagiu de imediato ao anúncio do resultado, classificando-o como "uma excelente notícia". Na próxima semana, o parlamento alemão irá votar as garantias bancárias para esta tranche do empréstimo à Grécia.
Centro de Atenas transformado em praça de guerra
ResponderEliminarConfrontos com a polícia duraram horas, num dia de greve total em que só o metro de Atenas funcionou para transportar os manifestantes. Papandreu usa argumento de patriotismo para tentar evitar defecções na sua bancada.
Artigo | 28 Junho, 2011 - 19:26
Confrontos duraram horas. PANAGIOTU O centro de Atenas foi transformado numa praça de guerra, com confrontos que duraram horas entre manifestantes e polícia, no primeiro dia da greve geral de 48 horas em protesto contra as novas medidas de austeridade que o governo quer fazer aprovar no Parlamento estas quarta e quinta-feiras.
Jovens atiraram pedras e paus contra a polícia de choque no centro de Atenas, que ripostou com saraivadas de gás lacrimogéneo e granadas de efeito moral. A polícia disse que 18 pessoas foram detidas, sendo cinco delas mais tarde presas, enquanto 21 polícias foram feridos.
Greve total
A greve paralisou todos os serviços públicos e os transportes. De médicos a condutores de ambulâncias, dos trabalhadores dos casinos e até mesmo actores de teatro aderiram à paralisação. No sector da energia, a greve provocou apagões em diversos pontos do país.
Centenas de voos foram cancelados ou reprogramados devido à greve dos controladores de tráfego aéreo. As greves dos trabalhadores dos transportes públicos tornaram o trânsito caótico e deixaram os turistas abandonados no porto de Pireu. Os trabalhadores do metro de Atenas, porém, que começaram o dia em greve, voltaram ao trabalho para transportar os trabalhadores que quiseram participar das manifestações.
Maioria em risco
O Partido da Nova Democracia, de direita, opõe-se ao novo pacote do governo socialista do primeiro-ministro Papandreu, criticando os aumentos de impostos. O Pasok, porém, dispõe de maioria absoluta: 155 deputados em 300, o que garantiria uma maioria confortável. Mas há quatro deputados socialistas que se rebelaram, deixando a maioria do Pasok por um fio.
A Comissão Europeia e os governos alemão e francês têm feito chantagem sobre Atenas, exigindo a unanimidade do apoio (governo e oposição) às novas medidas de austeridade, para pagar a última tranche do empréstimo negociado há um ano. Mas, com a recusa da Nova Democracia, o máximo que pode acontecer é uma aprovação por pequena margem. Mas o resultado é de tal forma incerto que já levou Papandreu a invocar o último e desesperado argumento: o patriotismo.
As novas medidas incluem aumentos de impostos e taxas e criação de novos impostos, cortes de subsídios sociais, privatizações de praticamente todas as estatais e despedimentos de funcionários públicos.
O comissário dos assuntos económicos, Olli Rehn, reforçou o tom ameaçador, afirmando que "não existe plano B" para a situação grega.
Na Grécia, o estado de espírito mudou
ResponderEliminarÉ apenas um comentário a este artigo de David Marquand. Mas indiciador de que o parlamento grego pode já ter perdido a legitimidade democrática, ou seja, o apoio do soberano, o povo grego.
Nos próximos dias a Europa vai passar por um momento de crise.
Na Grécia, o estado de espírito mudou. Quase já ninguém acredita que o resgate do FMI e UE se destina a fazer reformas na Grécia, mas antes a salvar os bancos europeus.
Verdade ou mentira, o que conta é que a UE sancionou, e está a promover através do parlamento, a venda de terrenos do domínio público a empresas de construção, o que é explicitamente contra a constituição grega. Trata-se do regresso às políticas que a Junta [militar] grega implementou na sua fase final. Adeus Grécia! Viva a Costa do Sol! A destruição do Egeu está a ser organizada para esconder as perdas dos bancos alemães e franceses.
Isto é uma forma de colonialismo. O resultado terá consequências bem para lá das fronteiras da Grécia. Uma UE ao serviço de interesses particulares poderosos, actuando contra os interesses de longo prazo dos seus cidadãos, é uma UE condenada a falhar. Que tenham vergonha.
Iannis Carras
Postado por Jorge Bateira
vai sendo tempo de mandar os submarinos de volta...
ResponderEliminaros alemães que os tentem vender aos
" Genossen" finlandeses...
Parlamento grego aprova mais austeridade
ResponderEliminarNum parlamento cercado por manifestantes, o primeiro-ministro socialista conseguiu a maioria dos votos para um novo plano de privatizações, cortes salariais e aumento de impostos, uma condição imposta pelo FMI para emprestar mais 17 mil milhões de euros à Grécia.
Artigo | 29 Junho, 2011 - 15:48
Milhares de polícias foram colocados junto ao parlamento e lançaram gás lacrimogéneo sobre os manifestantes. Foto endiaferon/Flickr O plano de austeridade passou por 155 votos contra 138, tendo um deputado do PASOK votado contra o seu partido e um deputado da oposição apoiado o plano do governo.
Nas ruas, milhares de pessoas manifestaram-se contra o novo plano de austeridade, no segundo dia de greve geral. Foi a primeira vez desde o fim da ditadura militar que os gregos entraram em greve por mais de 24 horas.
A noite de terça-feira ficou marcada por confrontos nas ruas entre a polícia e grupos de manifestantes e mesmo depois do anúncio da votação têm-se repetido as cenas de violência. Milhares de polícias foram destacados para a zona do parlamento e têm disparado gás lacrimogéneo e balas de borracha sobre os manifestantes. Depois das dezenas de feridos nos confrontos de terça-feira, a praça Syntagma voltou hoje a ser transformada num campo de batalha, com milhares de pessoas em fuga e a polícia a tentar encurralá-las nas ruas mais estreitas daquela zona da cidade. O correspondente da BBC em Atenas afirma que bombas de gás lacrimogéneo foram atiradas para a estação do metro, fazendo diversas pessoas cair nas escadas, sufocadas.
O uso de gás lacrimogéneo em larga escala foi também tema de debate no parlamento, com os deputados a criticarem as ordens dadas nesse sentido às forças policiais e a apelarem ao fim da "guerra química" travada à porta do edifício enquanto decorria a votação.
A sociedade grega já vive os efeitos do primeiro pacote de medidas que foi posto em marcha com a primeira tranche do empréstimo e que levou ao corte de 10% nos salários dos 800 mil trabalhadores do sector público. Com o novo plano, ao fim de três anos de recessão, a imprensa de Atenas calcula que cada família terá de pagar mais 2795 euros por ano, mais ou menos o rendimento médio mensal das famílias gregas.
"Os manifestantes sentem que o primeiro memorando agravou a crise", diz Stathis Kouvelakis, professor de economia política em Londres, que sublinha o simbolismo das imagens de manifestações em frente ao parlamento que têm corrido o mundo. "É o sistema político contra o povo. Existe uma ruptura de legitimidade profunda", declarou o investigador ao diário francês Le Monde.
A pressão da opinião pública e a irredutibilidade da oposição no parlamento trouxeram mais expectativa quanto ao comportamento dos deputados da maioria PASOK nesta votação, que acabou por decorrer favoravelmente aos planos da troika. A chanceler alemã Angela Merkel reagiu de imediato ao anúncio do resultado, classificando-o como "uma excelente notícia". Na próxima semana, o parlamento alemão irá votar as garantias bancárias para esta tranche do empréstimo à Grécia.