Há bandas assim, peritas em estilhaçar as convenções básicas do mercado musical, especialistas em desbaratar as raras hipóteses de sucesso mediático e exímias em ignorar as exigências de visibilidade da sociedade do espectáculo.
Poucas destas bandas têm carreiras longas. Um número ínfimo consegue manter a relevância estética e fazer-nos ansiar pelo próximo disco. Os Pop Dell’Arte conseguem o pleno em ambas as categorias.
No ano em que completam 25 anos de carreira, várias formações depois (da formação original apenas se mantêm João Peste e José Pedro Moura) e 8 anos depois do último disco de originais, o EP So Goodnight, os Pop Dell’Arte regressam com a edição de Contra Mundum.
O novo álbum não será certamente a pedrada no charco que constituiu o lançamento de Querelle ou de Free Pop, em meados dos anos 80, mas as marcas identitárias da banda mantêm-se imutáveis: a necessidade de experimentação, a transposição de referências extra-musicais para o seu universo sónico, a produção cuidada e a incorporação de novas influências na sua própria identidade musical.
Os ouvidos mais atentos conseguirão certamente detectar, em Contra Mundum, reflexos de outros temas do grupo e pontes para influências musicais e estéticas anteriormente exploradas pela banda de João Peste – os poemas fonéticos, o multilinguismo, a torch song transfigurada e desconstruída, o dadaísmo e o decadentismo, o homo-erotismo, a influência da música de dança e do cabaret, Rimbaud e Genet…
Ritual Transdisco, My Rat Ta-Ta, Eastern Streets, La Nostra Feroce Volontà d’Amore (com a genial inclusão de A Internacional no final da faixa) e Har Megido’s Lullaby impelem-nos a audições consecutivas do álbum e entram directamente para a lista das melhores canções criadas pelos Pop Dell’Arte.
Nada do que se encontra nas 13 faixas do álbum é verdadeiramente novo, dirão alguns. Tudo o que se encontra no disco tem a matriz fundadora do projecto, afirmamo-lo nós. E essa matriz continua a ser das mais estimulantes do panorama musical português.
A espera valeu a pena.
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