Num artigo muito lúcido no FT a propósito dos rumores sobre a saída da Grécia da zona euro, Wolfgang Münchau termina assim:
«As elites políticas europeias têm medo de dizer a verdade que os historiadores da economia sempre souberam: que uma união monetária sem união política é simplesmente inviável. Isto não é uma crise da dívida. Isto é uma crise política. A zona euro estará em breve confrontada com a escolha entre um inimaginável passo em frente para a união política ou um igualmente inimaginável passo atrás. Sabemos que o Sr. Schäuble [ministro das finanças alemão] equacionou, e rejeitou este último. Também sabemos que ele prefere o primeiro. Está na hora de o dizer.»
Óptimo. Já sabemos qual é a escolha do ministro das finanças da Alemanha. Só falta saber qual é a escolha do povo alemão. Postado por Jorge Bateira às 8.5.11
Cavaco Silva, o pai da economia do endividamento, que estabeleceu com os portugueses o contrato-promessa de tornar o «crédito fácil até ao infinito» para compensar a manutenção de baixos salários (como ontem lembrava oportunamente Miguel Portas, em entrevista ao Público), vem agora dizer que é preciso «mudar de vida», que «não podemos continuar a viver acima das nossas possibilidades, a gastar mais do que aquilo que produzimos e a endividar-nos permanentemente perante o estrangeiro». E di-lo sem pestanejar, como um incendiário que inocentemente se apresenta, fardado de bombeiro, perante o inferno de chamas que ateou. Postado por Nuno Serra às 8.5.11
. … a Finlândia respondeu ao vídeo patrioteiro com que a brindámos.
Apesar de tudo, parece que haverá uns finlandeses que votarão nos «Homens da Luta», já que escreveram, no site da Eurovisão:
«There is no doubt these guys are a reflection of current generations, who have been struggling so hard to get their place in the labor market. Given the current Euro situation, nothing would make more sense than attributing the victory to Portugal, so that in 2012 that country could organize the Eurovision Contest, and thus far stimulate the economy.» . Share | Posted by Joana Lopes
Já não há 'mal menor' 8 Maio, 2011 - 23:06 | Por Jorge Costa
A tutela externa interrompe a alternância e exige o governo do tripartido PS-PSD-CDS. Podemos recusá-lo.
A aliança FMI resulta numa situação extraordinária. Pela primeira vez, os partidos que governaram no último quarto de século, em vez de levarem um programa escondido para o dia seguinte às eleições, apresentam ao povo as medidas de um mesmo plano, único e escancarado.
A um mês das eleições, conhecemos a verdadeira promessa de Paulo Portas. Ele assinou-a e pretende cumpri-la com o PS e com o PSD: congelar as pensões mais baixas, submetê-las à inflação e aos aumentos de impostos e, assim, ao fim de um ano, tirar um mês de pensão aos reformados mais pobres.
A um mês das eleições, conhecemos a promessa que Passos Coelho pretende cumprir imediatamente: 12 mil milhões para dar aos bancos e privatização dos CTT, das linhas suburbanas da CP, das empresas lucrativas EDP e REN, do sector de seguros da Caixa Geral de Depósitos. A mesma promessa de Sócrates e Portas.
A um mês das eleições, conhecemos as intenções de José Sócrates: chefiar um governo com o PSD e Paulo Portas a ministro de Estado. Criar 150 mil empregos? Não… Sócrates e a direita prometem criar 150 mil novos desempregados, previsão do FMI assinada em baixo pelo tripartido. O objectivo é chegar aos 2% de recessão em cada um dos próximos dois anos.
A aliança FMI é poderosa e quer forçar um consenso. Uma "democracia musculada", como lhe chama o dono da Mota Engil. Mas a história não está escrita. A existência de eleições pode transformar este momento sufocante numa hora clarificadora e de mudança.
O Bloco cresceu sempre contra o "voto útil" no “mal menor”, o medo que garante a alternância sem alternativas. A lógica “tudo menos Santana Lopes” rendeu uma maioria absoluta a José Sócrates. Depois de quatro anos de mau governo, muitos ainda aceitaram “tudo menos Ferreira Leite” e assim chegámos até aqui, com três PECs aprovados pelo PS e pelo PSD.
Mas hoje a tutela externa não faz por menos: exige a suspensão do regime da alternância, o principal mecanismo da continuidade política, desde que o FMI saiu de Portugal há mais de 25 anos. A alternância é substituída pelo tripartido PS-PSD-CDS. Este tripartido quer ser uma maioria, um governo, um presidente, e tem um só programa, o do FMI.
Esta é uma novidade do ciclo em que estrámos. O “mal menor” já não existe.
Uma escolha inadiável
ResponderEliminarNum artigo muito lúcido no FT a propósito dos rumores sobre a saída da Grécia da zona euro, Wolfgang Münchau termina assim:
«As elites políticas europeias têm medo de dizer a verdade que os historiadores da economia sempre souberam: que uma união monetária sem união política é simplesmente inviável. Isto não é uma crise da dívida. Isto é uma crise política. A zona euro estará em breve confrontada com a escolha entre um inimaginável passo em frente para a união política ou um igualmente inimaginável passo atrás. Sabemos que o Sr. Schäuble [ministro das finanças alemão] equacionou, e rejeitou este último. Também sabemos que ele prefere o primeiro. Está na hora de o dizer.»
Óptimo. Já sabemos qual é a escolha do ministro das finanças da Alemanha. Só falta saber qual é a escolha do povo alemão.
Postado por Jorge Bateira às 8.5.11
O pirómano bombeiro
ResponderEliminarCavaco Silva, o pai da economia do endividamento, que estabeleceu com os portugueses o contrato-promessa de tornar o «crédito fácil até ao infinito» para compensar a manutenção de baixos salários (como ontem lembrava oportunamente Miguel Portas, em entrevista ao Público), vem agora dizer que é preciso «mudar de vida», que «não podemos continuar a viver acima das nossas possibilidades, a gastar mais do que aquilo que produzimos e a endividar-nos permanentemente perante o estrangeiro». E di-lo sem pestanejar, como um incendiário que inocentemente se apresenta, fardado de bombeiro, perante o inferno de chamas que ateou.
Postado por Nuno Serra às 8.5.11
Como seria de esperar
ResponderEliminar.
… a Finlândia respondeu ao vídeo patrioteiro com que a brindámos.
Apesar de tudo, parece que haverá uns finlandeses que votarão nos «Homens da Luta», já que escreveram, no site da Eurovisão:
«There is no doubt these guys are a reflection of current generations, who have been struggling so hard to get their place in the labor market. Given the current Euro situation, nothing would make more sense than attributing the victory to Portugal, so that in 2012 that country could organize the Eurovision Contest, and thus far stimulate the economy.»
.
Share | Posted by Joana Lopes
Já não há 'mal menor'
ResponderEliminar8 Maio, 2011 - 23:06 | Por Jorge Costa
A tutela externa interrompe a alternância e exige o governo do tripartido PS-PSD-CDS. Podemos recusá-lo.
A aliança FMI resulta numa situação extraordinária. Pela primeira vez, os partidos que governaram no último quarto de século, em vez de levarem um programa escondido para o dia seguinte às eleições, apresentam ao povo as medidas de um mesmo plano, único e escancarado.
A um mês das eleições, conhecemos a verdadeira promessa de Paulo Portas. Ele assinou-a e pretende cumpri-la com o PS e com o PSD: congelar as pensões mais baixas, submetê-las à inflação e aos aumentos de impostos e, assim, ao fim de um ano, tirar um mês de pensão aos reformados mais pobres.
A um mês das eleições, conhecemos a promessa que Passos Coelho pretende cumprir imediatamente: 12 mil milhões para dar aos bancos e privatização dos CTT, das linhas suburbanas da CP, das empresas lucrativas EDP e REN, do sector de seguros da Caixa Geral de Depósitos. A mesma promessa de Sócrates e Portas.
A um mês das eleições, conhecemos as intenções de José Sócrates: chefiar um governo com o PSD e Paulo Portas a ministro de Estado. Criar 150 mil empregos? Não… Sócrates e a direita prometem criar 150 mil novos desempregados, previsão do FMI assinada em baixo pelo tripartido. O objectivo é chegar aos 2% de recessão em cada um dos próximos dois anos.
A aliança FMI é poderosa e quer forçar um consenso. Uma "democracia musculada", como lhe chama o dono da Mota Engil. Mas a história não está escrita. A existência de eleições pode transformar este momento sufocante numa hora clarificadora e de mudança.
O Bloco cresceu sempre contra o "voto útil" no “mal menor”, o medo que garante a alternância sem alternativas. A lógica “tudo menos Santana Lopes” rendeu uma maioria absoluta a José Sócrates. Depois de quatro anos de mau governo, muitos ainda aceitaram “tudo menos Ferreira Leite” e assim chegámos até aqui, com três PECs aprovados pelo PS e pelo PSD.
Mas hoje a tutela externa não faz por menos: exige a suspensão do regime da alternância, o principal mecanismo da continuidade política, desde que o FMI saiu de Portugal há mais de 25 anos. A alternância é substituída pelo tripartido PS-PSD-CDS. Este tripartido quer ser uma maioria, um governo, um presidente, e tem um só programa, o do FMI.
Esta é uma novidade do ciclo em que estrámos. O “mal menor” já não existe.