Os gestores que são um exemplo para este País de preguiçosos por Daniel Oliveira Vinte gestores, diz um relatório da CMVM, têm, sozinhos, mais de mil lugares de administração em empresas nacionais. Recebem, em média, 297 mil euros por ano. Uns meio milhão. Um deles dois milhões e meio. Diz-se que a inveja é o pecado nacional. Da minha parte, confirmo. Não tanto dos salários que os senhores recebem, que sou rapaz de me contentar com menos. Mas da sua extraordinária capacidade de trabalho. Não admira que sejam estes mesmos senhores a exigir moderação salarial. Conseguíssemos nós, preguiçosos, ter tantos empregos simultâneos e em todos trabalhar de forma a justificar vários bons salários e também nos chocávamos com a facilidade com que tanta gente leva, em média, 780 euros mensais para casa por dar todo o seu tempo a apenas uma das empresas onde estes senhores dão no duro.
Empresas que o Estado tem de privatizar deram 237 milhões em dividendos. As privatizações já estavam planeadas antes da intervenção externa. Os 5,5 mil milhões de receitas previstas (um pouco abaixo da estimativa anterior do governo, que estava nos 6 mil milhões, para o mesmo universo de empresas) contribuirão para uma redução insignificante do peso da dívida pública no PIB. Quem é que à esquerda está disposto a pactuar com esta miopia?
É que nada justifica a destruição, talvez irreversível, de qualquer possibilidade de um Estado estratego capaz de garantir o interesse público em sectores sensíveis da economia. Sabe-se que a redução sustentável da dívida só pode vir de um novo modelo de crescimento que prescinda de receitas neoliberais fracassadas. A experiência internacional vem mostrando que o controlo público de sectores estratégicos da economia, nomeadamente no campo das infra-estruturas e dos serviços de rede – da rede eléctrica aos serviços postais –, indispensáveis para a coesão social e territorial de uma comunidade política digna desse nome, é mais eficiente e eficaz do que a mera e sempre ligeira regulação de actores privados.
Estes últimos estão mais interessados na captura de rendas, nem que para isso seja preciso sacrificar o interesse público, enganando reguladores e tendo muitos ex-ministros nas suas folhas de pagamentos. O resto é conhecido de quem estudou o funcionamento da grande empresa no regime neoliberal que erodiu os contrapoderes públicos e sindicais: uma perversa cultura de salários milionários e de bónus atribuídos por gestores de empresas monopolistas ou oligopolistas a si mesmos, perante a habitual cumplicidade dos accionistas. Uma cultura de enriquecimento que corrói a ética de serviço público, indispensável quando está em causa uma parte da base material da comunidade.
Estamos no estádio mais predador de um ciclo de privatizações iniciado há pouco mais de vinte anos com a privatização das cervejas e que pode bem acabar na água. Um ciclo que gerou um conjunto de grupos económicos viciados na captura de sectores onde a concorrência não é possível ou desejável, viciados na expropriação financeira de cidadãos e de empresas produtivas. Este foi e é o modelo da troika interna. Falhou. Postado por João Rodrigues
Teixeira dos Santos garantiu ontem, numa sessão de venda do país em Wall-Street, que a redução da taxa social única “vai implicar um aumento de impostos e especialmente naqueles que incidem sobre o consumo”. Afinal de contas, o governo comprometeu-se a efectuar um “corte significativo” nas contribuições patronais para a segurança social, o que implicará aumentar o IVA, num dos países europeus onde este imposto regressivo mais pesa na estrutura de impostos. Assim se intensifica a transferência de rendimentos e de activos para certas fracções do capital, sem garantir investimento ou ganhos de competitividade. Entretanto, deixo um excerto de uma crónica que escrevi há um ano, quando colaborava com o i:
Uma imagem diz muito sobre os sombrios tempos que correm: Teixeira dos Santos, rodeado de alguns dos milionários gestores dos grandes grupos económicos com poder político e de mercado em Portugal, onde se destacam os banqueiros do costume, toca o sino que abre o dia de negócios em Wall Street: é “dia de Portugal” na praça norte-americana. O governo age cada vez mais como se fosse o comité executivo dos negócios do capital financeiro, para retomar e adaptar a caracterização de Marx e Engels. Privatizações maciças e austeridade orçamental socialmente selectiva, que atinge sobretudo as classes populares, fazem agora parte do esforço para seduzir precisamente os que causaram a última crise global.
Na ausência de movimentos sociais de contestação significativos, o poder da finança garante que, ao contrário do que aconteceu no contexto da Grande Depressão dos anos trinta, a actual crise, que também começou num sistema financeiro inspirado pelo liberalismo económico, não dará origem a reformas significativas, mas apenas a meros toques de regulação que deixam as destrutivas estruturas da finança de mercado intocadas. Novas, e mais violentas, crises financeiras, acompanhadas de destruição de emprego, no contexto de desigualdades sociais abissais, resultarão desta estranha miopia política. Se tudo correr mal, se assistirmos impávidos à destruição do Estado social e da esfera pública, bem como à erosão dos direitos laborais, arriscamo-nos a regressar, em novos moldes, aos padrões identificados pela economia política crítica no século XIX. Postado por João Rodrigues
Nunca citámos tanto Krugman como agora, mas é óbvio que o argumento de autoridade ajuda a passar uma conclusão que devia ser evidente para todos: uma economia anémica com problemas estruturais de competitividade, para mais sujeita a um programa procíclico selvagem em plena recessão, não consegue pagar empréstimos com este tipo de juros - nem os dos contratos antes contraídos, nem os que vêm associados ao pacote BCE-FEEF-FMI. E desta vez nem falo dos efeitos distributivos desse programa de austeridade. Por isso talvez fosse bom que se abandonasse as conversas sonsas em torno da boa fé de Portugal como devedor e se encarasse a realidade - em moldes democráticos e mais cedo do que tarde.
Garantias do Estado à banca já ultrapassam valor de 2009 Entre 2008 e 2009, após a criação do mecanismo de garantias estatais, seis bancos emitiram dividas no montante de 4.950 milhões de euros com o aval do Estado. Actualmente, os pedidos de quatro bancos - BCP, BES, CGD e Banif - já ultrapassam este valor, ascendendo a 5.020 milhões de euros. Artigo | 25 Maio, 2011 - 18:36
Entre 2008 e 2009, CGD, BCP, BES e Banif emitiram dívidas com garantia do Estado no valor de 1.250, 1.500, 1.500 e 550 milhões de euros, respectivamente. A estes valores é somada a emissão de 50 milhões do Banco Invest e de 100 milhões do Finantia, o que perfaz um total de 4.950 milhões de euros.
Os recentes pedidos de emissão de dívida com aval do Estado do BES, BCP, Banif e CGD já ultrapassam este valor, ascendendo a 5.020 milhões de euros.
Terça-feira, o BCP revelou em comunicado enviado à Comissão do Mercado de valores Mobiliários (CMVM) que apresentou ao Banco de Portugal “o pedido de aprovação respectiva para garantia do Estado a um financiamento através da emissão de valores mobiliários de dívida não subordinada, no montante de 1.750 milhões de euros”.
Esta quarta-feira foi a vez de o Banif emitir um comunicado onde informa que, em conformidade com “o diploma que visa estabelecer e regulamentar a concessão extraordinária de garantias pessoais pelo Estado Português”, tem “intenção de vir a utilizar tais garantias, dependendo a decisão, quanto ao montante e aos termos de tal utilização, das condições do mercado e das alternativas disponíveis”. Segundo notícia o Jornal de Negócios, o valor de emissão de dívida não deverá ser, contudo, inferior a 200 milhões de euros.
O Banco Espírito Santo (BES) também já teria solicitado ao Banco de Portugal a concessão de uma garantia do Estado para se financiar através da emissão de obrigações não subordinadas até 1.250 mil milhões de euros.
Para a operação avançar, o Banco de Portugal exigiu ao BES que alterasse os seus estatutos, pelo que a instituição liderada por Ricardo Salgado convocou uma assembleia-geral extraordinária para 9 de Junho. A alteração de estatutos exigida pelo supervisor bancário decorre da necessidade de conferir autorização ao conselho de administração do banco “para deliberar aumentar o capital social no caso de um eventual accionamento da garantia a ser prestada pelo Estado Português”. Trata-se de uma autorização para a administração reforçar o capital até cinco mil milhões de euros.
O banco aproveita assim a exigência legal de precaver a situação de não pagamento das obrigações garantidas pelo Estado - que levaria à entrada imediata do Estado no capital do BES - para pedir autorização para um aumento de capital por forma a elevar o seu rácio de capital.
A Caixa Geral de Depósitos, por sua vez, informou a CMVM que “solicitou ao Banco de Portugal a concessão de uma garantia do Estado Português para um financiamento através da emissão de obrigações não subordinadas, até ao montante de 1.800 milhões de euros, com maturidade máxima de 3 anos”.
Os gestores que são um exemplo para este País de preguiçosos
ResponderEliminarpor Daniel Oliveira
Vinte gestores, diz um relatório da CMVM, têm, sozinhos, mais de mil lugares de administração em empresas nacionais. Recebem, em média, 297 mil euros por ano. Uns meio milhão. Um deles dois milhões e meio. Diz-se que a inveja é o pecado nacional. Da minha parte, confirmo. Não tanto dos salários que os senhores recebem, que sou rapaz de me contentar com menos. Mas da sua extraordinária capacidade de trabalho. Não admira que sejam estes mesmos senhores a exigir moderação salarial. Conseguíssemos nós, preguiçosos, ter tantos empregos simultâneos e em todos trabalhar de forma a justificar vários bons salários e também nos chocávamos com a facilidade com que tanta gente leva, em média, 780 euros mensais para casa por dar todo o seu tempo a apenas uma das empresas onde estes senhores dão no duro.
Vender a República
ResponderEliminarEmpresas que o Estado tem de privatizar deram 237 milhões em dividendos. As privatizações já estavam planeadas antes da intervenção externa. Os 5,5 mil milhões de receitas previstas (um pouco abaixo da estimativa anterior do governo, que estava nos 6 mil milhões, para o mesmo universo de empresas) contribuirão para uma redução insignificante do peso da dívida pública no PIB. Quem é que à esquerda está disposto a pactuar com esta miopia?
É que nada justifica a destruição, talvez irreversível, de qualquer possibilidade de um Estado estratego capaz de garantir o interesse público em sectores sensíveis da economia. Sabe-se que a redução sustentável da dívida só pode vir de um novo modelo de crescimento que prescinda de receitas neoliberais fracassadas. A experiência internacional vem mostrando que o controlo público de sectores estratégicos da economia, nomeadamente no campo das infra-estruturas e dos serviços de rede – da rede eléctrica aos serviços postais –, indispensáveis para a coesão social e territorial de uma comunidade política digna desse nome, é mais eficiente e eficaz do que a mera e sempre ligeira regulação de actores privados.
Estes últimos estão mais interessados na captura de rendas, nem que para isso seja preciso sacrificar o interesse público, enganando reguladores e tendo muitos ex-ministros nas suas folhas de pagamentos. O resto é conhecido de quem estudou o funcionamento da grande empresa no regime neoliberal que erodiu os contrapoderes públicos e sindicais: uma perversa cultura de salários milionários e de bónus atribuídos por gestores de empresas monopolistas ou oligopolistas a si mesmos, perante a habitual cumplicidade dos accionistas. Uma cultura de enriquecimento que corrói a ética de serviço público, indispensável quando está em causa uma parte da base material da comunidade.
Estamos no estádio mais predador de um ciclo de privatizações iniciado há pouco mais de vinte anos com a privatização das cervejas e que pode bem acabar na água. Um ciclo que gerou um conjunto de grupos económicos viciados na captura de sectores onde a concorrência não é possível ou desejável, viciados na expropriação financeira de cidadãos e de empresas produtivas. Este foi e é o modelo da troika interna. Falhou.
Postado por João Rodrigues
Por quem o sino dobra?
ResponderEliminarTeixeira dos Santos garantiu ontem, numa sessão de venda do país em Wall-Street, que a redução da taxa social única “vai implicar um aumento de impostos e especialmente naqueles que incidem sobre o consumo”. Afinal de contas, o governo comprometeu-se a efectuar um “corte significativo” nas contribuições patronais para a segurança social, o que implicará aumentar o IVA, num dos países europeus onde este imposto regressivo mais pesa na estrutura de impostos. Assim se intensifica a transferência de rendimentos e de activos para certas fracções do capital, sem garantir investimento ou ganhos de competitividade. Entretanto, deixo um excerto de uma crónica que escrevi há um ano, quando colaborava com o i:
Uma imagem diz muito sobre os sombrios tempos que correm: Teixeira dos Santos, rodeado de alguns dos milionários gestores dos grandes grupos económicos com poder político e de mercado em Portugal, onde se destacam os banqueiros do costume, toca o sino que abre o dia de negócios em Wall Street: é “dia de Portugal” na praça norte-americana. O governo age cada vez mais como se fosse o comité executivo dos negócios do capital financeiro, para retomar e adaptar a caracterização de Marx e Engels. Privatizações maciças e austeridade orçamental socialmente selectiva, que atinge sobretudo as classes populares, fazem agora parte do esforço para seduzir precisamente os que causaram a última crise global.
Na ausência de movimentos sociais de contestação significativos, o poder da finança garante que, ao contrário do que aconteceu no contexto da Grande Depressão dos anos trinta, a actual crise, que também começou num sistema financeiro inspirado pelo liberalismo económico, não dará origem a reformas significativas, mas apenas a meros toques de regulação que deixam as destrutivas estruturas da finança de mercado intocadas. Novas, e mais violentas, crises financeiras, acompanhadas de destruição de emprego, no contexto de desigualdades sociais abissais, resultarão desta estranha miopia política. Se tudo correr mal, se assistirmos impávidos à destruição do Estado social e da esfera pública, bem como à erosão dos direitos laborais, arriscamo-nos a regressar, em novos moldes, aos padrões identificados pela economia política crítica no século XIX.
Postado por João Rodrigues
Portugal não vai conseguir pagar a dívida
ResponderEliminarNunca citámos tanto Krugman como agora, mas é óbvio que o argumento de autoridade ajuda a passar uma conclusão que devia ser evidente para todos: uma economia anémica com problemas estruturais de competitividade, para mais sujeita a um programa procíclico selvagem em plena recessão, não consegue pagar empréstimos com este tipo de juros - nem os dos contratos antes contraídos, nem os que vêm associados ao pacote BCE-FEEF-FMI. E desta vez nem falo dos efeitos distributivos desse programa de austeridade. Por isso talvez fosse bom que se abandonasse as conversas sonsas em torno da boa fé de Portugal como devedor e se encarasse a realidade - em moldes democráticos e mais cedo do que tarde.
Postado por Alexandre Abreu
Garantias do Estado à banca já ultrapassam valor de 2009
ResponderEliminarEntre 2008 e 2009, após a criação do mecanismo de garantias estatais, seis bancos emitiram dividas no montante de 4.950 milhões de euros com o aval do Estado. Actualmente, os pedidos de quatro bancos - BCP, BES, CGD e Banif - já ultrapassam este valor, ascendendo a 5.020 milhões de euros.
Artigo | 25 Maio, 2011 - 18:36
Entre 2008 e 2009, CGD, BCP, BES e Banif emitiram dívidas com garantia do Estado no valor de 1.250, 1.500, 1.500 e 550 milhões de euros, respectivamente. A estes valores é somada a emissão de 50 milhões do Banco Invest e de 100 milhões do Finantia, o que perfaz um total de 4.950 milhões de euros.
Os recentes pedidos de emissão de dívida com aval do Estado do BES, BCP, Banif e CGD já ultrapassam este valor, ascendendo a 5.020 milhões de euros.
Terça-feira, o BCP revelou em comunicado enviado à Comissão do Mercado de valores Mobiliários (CMVM) que apresentou ao Banco de Portugal “o pedido de aprovação respectiva para garantia do Estado a um financiamento através da emissão de valores mobiliários de dívida não subordinada, no montante de 1.750 milhões de euros”.
Esta quarta-feira foi a vez de o Banif emitir um comunicado onde informa que, em conformidade com “o diploma que visa estabelecer e regulamentar a concessão extraordinária de garantias pessoais pelo Estado Português”, tem “intenção de vir a utilizar tais garantias, dependendo a decisão, quanto ao montante e aos termos de tal utilização, das condições do mercado e das alternativas disponíveis”. Segundo notícia o Jornal de Negócios, o valor de emissão de dívida não deverá ser, contudo, inferior a 200 milhões de euros.
O Banco Espírito Santo (BES) também já teria solicitado ao Banco de Portugal a concessão de uma garantia do Estado para se financiar através da emissão de obrigações não subordinadas até 1.250 mil milhões de euros.
Para a operação avançar, o Banco de Portugal exigiu ao BES que alterasse os seus estatutos, pelo que a instituição liderada por Ricardo Salgado convocou uma assembleia-geral extraordinária para 9 de Junho. A alteração de estatutos exigida pelo supervisor bancário decorre da necessidade de conferir autorização ao conselho de administração do banco “para deliberar aumentar o capital social no caso de um eventual accionamento da garantia a ser prestada pelo Estado Português”. Trata-se de uma autorização para a administração reforçar o capital até cinco mil milhões de euros.
O banco aproveita assim a exigência legal de precaver a situação de não pagamento das obrigações garantidas pelo Estado - que levaria à entrada imediata do Estado no capital do BES - para pedir autorização para um aumento de capital por forma a elevar o seu rácio de capital.
A Caixa Geral de Depósitos, por sua vez, informou a CMVM que “solicitou ao Banco de Portugal a concessão de uma garantia do Estado Português para um financiamento através da emissão de obrigações não subordinadas, até ao montante de 1.800 milhões de euros, com maturidade máxima de 3 anos”.