segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Cavaco não é o nosso presidente, nem nunca o será!



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10 comentários:

  1. DESPEDIDA

    Encanecida pátria de joelhos,
    Aqui te deixo, exausto de sofrer-te.
    Vou de olhos secos, cegos de perder-te,
    Sossegar ódios velhos.
    Vou destruir-te as lágrimas de rojos,
    Nas mãos e mãos inertes.
    Aos que sabem a ciência de vender-te
    Abandono os despojos.
    Vou procurar-te ao bafo de outra face
    Quente, clara e agreste .
    Aconchego-te aos restos
    Da minha pele gasta de afagar-te.
    Vou de jornada. Aceno
    Um lenço breve e incerto.
    Voltarei, voltarei. Num gesto
    Mais rebelde e sereno.

    Ergue os teus ombros, pátria de joelhos,
    Olha-me bem nos olhos para ver-te.
    Quero levar-te e ver-te
    No meu ódio já velho.
    José Augusto Seabra

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  2. Domingo, 23 de Janeiro de 2011
    Vitórias e derrotas
    por Daniel Oliveira
    Cavaco Silva venceu as eleições. Longe do que algumas sondagens delirantes lhe davam. Aliás, uma das mais baixas votações conseguidas numa reeleição de um Presidente da República. Vence, sem margem para dúvidas e com a legitimidade intacta. Mas sem se afirmar, como alguns julgavam que aconteceria, como o homem consensual na política portuguesa. Nem abrir caminho para uma crise política. E depois desta campanha, terá de se habituar uma coisa absolutamente nova na sua longa carreira política: a de ser escrutinado. Fora isso, o seu mandato continua como antes. Não esmaga e por isso não poderá tutelar Sócrates nem, como tanto desejava, Passos Coelho.



    Sendo igual a si próprio, Cavaco Silva foi o primeiro Presidente eleito a não saudar os seus adversários derrotados, preferindo insultar quem, já se tendo despedido, não se podia defender.




    Manuel Alegre perdeu de forma clara. É, sem qualquer dúvida, o maior derrotado destas eleições, tendo ficado mesmo abaixo do seu resultado nas eleições anteriores. Como escrevi este fim-de-semana no EXPRESSO, o problema de Alegre é que combatia um cenário futuro quando o antigo ainda está em vigor. Pagou o preço da impopularidade de Sócrates, associado ao sectarismo de alguns sectores do PS, que nunca perdoaram a sua independência. Mais um episódio dos desencontros da esquerda que, ao contrário da direita portuguesa, nunca se consegue entender. Quando os seus eleitores querem as direções do partidos não o desejam. Quando as direções dos partidos querem os eleitores não o desejam.



    Fernando Nobre assumiu-se como vencedor, deixando claro que tem todos os tiques de um político. Ainda há dois dias dizia que tinha a certeza que iria a uma segunda volta e que só um tiro o impediria de chegar a Belém. Ontem festejou um terceiro lugar. As sondagens davam-lhe menos, e por isso pode, se esquecer tudo o que disse, cantar vitória. O mesmo não poderá fazer Mário Soares. Para cumprir uma vingança mesquinha sem qualquer objectivo que não fosse o seu próprio umbigo, Soares achava que o seu candidato seria o Manuel Alegre de Manuel Alegre. Não foi. Não o ultrapassou e ficou-se pelo resultado que o próprio Soares conseguiu há cinco anos. Ainda assim, sem apoios partidários, 14 por cento é um resultado que Nobre pode guardar nas suas recordações. Como sabe quem anda nisto há algum tempo, nada fará com eles. Foi o "independente contra os partidos e o sistema" destas eleições. Outros surgirão. Façam uma boa ou uma má campanha (e Nobre fez uma má campanha), conseguirão resultados semelhantes.



    Francisco Lopes segurou os votos do PCP. Mas ficou abaixo do partido e da votação anterior de Jerónimo de Sousa, não tendo, num cenário mais favorável, conquistado a franja de eleitores do Bloco de Esquerda que estava pouco entusiasmada com o apoio a Alegre. Esta votação não tem efeitos negativos para o PCP mas não lança Francisco Lopes para a liderança do partido. Não aquece nem arrefece.



    José Manuel Coelho consegue 4 ,5 por cento. Um voto de protesto, dirão alguns. Se o voto de protesto dos que consideram que a política portuguesa não merece respeito é votar num Tiririca à portuguesa, a única coisa que se pode dizer é que têm a política que merecem.



    Defensor Moura fez uma das melhores campanhas destas presidenciais. Os votos que teve, quando comparados com os de Coelho, são a demonstração de que não é por falta de seriedade que candidatos têm maus resultados.



    Quando à abstenção, a normal numa reeleição de um Presidente da República. Os apelos à reflexão sobre o estado da nossa democracia, que se repetem, como uma entediante rotina, são, neste caso, absurdos. A reeleição de Cavaco Silva era previsível e os poderes do Presidente são os que se sabem. Se a isso juntarmos a crise económica, acho até sinal de boa saúde democrática que metade dos cidadãos tenha, num dia de frio e com as confusões com o cartão do cidadãos, saído de casa para votar.




    por Daniel Oliveira

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  3. As verdades e ilusões de Cavaco, novamente presidente

    Ouvi há pouco Cavaco afirmar que tinha vencido a verdade. A verdade de Cavaco é o silêncio. No discurso de vitória, não só atacou todos os que ousaram escrutiná-lo, como se escusou a responder a qualquer questão que lhe fosse dirigida pelos jornalistas. Nesta campanha, Cavaco foi desmascarado na sua suposta imaculada existência. Hoje é claro que fez dinheiro à custa de amigos pelintras. Mas achou que estava acima da obrigação de esclarecer o que tinha - e tem - de ser esclarecido. Cavaco nunca perdeu os tiques de pequeno ditador.


    Cavaco afirmou hoje, magnânimo, que nunca vendeu ilusões. Só quem prefere esquecer os 10 anos de governo cavaquista pode deixar de recordar o discurso do 'pelotão da frente'. Dia sim dia não, o então primeiro-ministro dizia-nos que no espaço de uma década estaríamos entre os países mais desenvolvidos da UE. Isto num país pobre e sub-qualificado (e sê-lo-ia hoje ainda mais, se mantivéssemos as opções de educação do seu reinado), dominado por grupos económicos parasitários que cresceram à custa de privatizações a preço de saldo e das auto-estradas cavaquistas. O demagogo de todas as horas não perdeu o jeito.


    Depois de um mandato marcado por aquelas relevantíssimas e esclarecedoras intervenções relacionadas com o Estatuto dos Açores, as escutas a Belém e o casamento homossexual, o homem continua a tentar convencer-nos que é um grande estadista. E já poucos duvidam que ele acredita no que diz. Estranho é que não seja o único.


    O país não ficará mais arruinado com esta eleição, é certo. Mas este homem só deixa sossegado quem precisa muito de acreditar em qualquer figura plástica que lhes apareça no ecrán.

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  4. a luta continua.
    Publicado por JoãoMineiro





    "Estou certo que todos os que me apoiaram continuaram a lutar pela defesa e valorização do Estado Social, do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública, da Segurança Social Pública e pelos direitos laborais"

    "... em Democracia vergonha é fugir ao combate e não saber por que se luta"

    Manuel Alegre, 23/01/10

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  5. Francisco Louçã reconhece que o objectivo de levar as presidenciais para a segunda volta e para a vitória de Alegre não foi obtido, mas adverte a direita para que não tenha demasiado apetite para chegar ao poder.
    Artigo | 23 Janeiro, 2011 - 23:07

    Foto de Ana Feijão
    Falando na sede do seu partido, na R. da Palma em Lisboa, o coordenador do Bloco de Esquerda destacou que os resultados eleitorais, que deram a vitória do actual presidente na primeira volta, mostraram também que era a candidatura de Manuel Alegre que mais condições tinha de derrotar Cavaco Silva. “Quero saudar a campanha e fazer chegar a Manuel Alegre um abraço fraterno”, disse Louçã.

    Falando em seguida sobre o futuro pós-eleições, Louçã afirmou que é necessária muita coragem num momento em que Portugal está a ser alvo de um ataque especulativo por parte dos mercados financeiros, que querem empurrar o país para o FMI, e também a sofrer com uma política de austeridade que corta os salários dos trabalhadores da administração pública.

    O coordenador do Bloco de Esquerda registou que a direita, o PSD e o CDS, já estão a “afiar as facas” diante da expectativa de assaltar o poder. “A direita tem um grande apetite”, ironizou. Para enfrentá-los, afirmou, será necessária a resposta de uma esquerda forte, uma esquerda grande na qual o Bloco de Esquerda está empenhado. “O Bloco de Esquerda está mais forte e mais capaz”, assegurou.

    Louça sublinhou ainda que a candidatura de Manuel Alegre não foi uma candidatura de partidos, “foi uma candidatura que deu resposta ao FMI e aos mercados financeiros, contra a austeridade e os cortes de salários”, bem como em defesa dos serviços públicos.

    “No momento em que o governo aumentava as taxas moderadoras, a candidatura de Manuel Alegre fez uma defesa clara do Serviço Nacional de Saúde”, enfatizou Louçã, afirmando que “José Sócrates abre o passo à direita quando corta os salários dos trabalhadores. Combater esta política é o papel do Bloco de Esquerda”.

    Artigos relacionados:
    Manuel Alegre: "Não serei neutro na defesa do Estado Social e da Justiça” "É preciso repor a decência na nossa vida política", diz Alegre

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  6. Cavaco não passa do Presidente da Quinta da Coelha!
    Cavaco não pagou sisa. Eu paguei e tu?

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  7. PERFILADOS DE MEDO
    Perfilados de medo, agradecemos
    O medo que nos salva da loucura.
    Decisão e coragem valem menos
    E a vida sem viver é mais segura.

    Aventureiros já sem aventura,
    Perfilados de medo combatemos
    irónicos fantasmas à procura
    do que somos, do que não seremos.

    Perfilados de medo, sem mais voz,
    o coração nos dentes oprimido,
    os loucos os fantasmas somos nós.

    Rebanho pelo medo perseguido,
    já vivemos tão juntos e tão sós
    Que da vida perdemos o sentido…
    Alexandre O’neilll

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  8. Cavaco opta por pensões e evita 10% de corte no salário
    Presidente da República abdica do salário enquanto Chefe do Estado, mas opta pelos dez mil euros mensais da reforma.
    Ler edição DN online
    Aníbal Cavaco Silva decidiu prescindir do seu vencimento enquanto Presidente da República, no valor de 6523 euros - resultado de um corte de 5% em 2010, mais um corte de 10% em 2011, decisão incluída nas medidas de austeridade para a função pública -, para passar a auferir as sua pensões, que totalizam cerca de dez mil euros mensais, 140 mil euros/ano.
    A decisão do PR foi anunciada através de um comunicado de apenas três linhas emitido pelo Palácio de Belém e onde se cita "a legislação aprovada pela Assembleia da República". O comunicado referia-se à lei do Orçamento do Estado para 2011, que o obriga à escolha entre o vencimento de PR e a receita mensal das duas pensões, que até aqui podia acumular.
    Cavaco optou pelas reformas: uma pensão como reformado do Banco de Portugal e outra da Caixa Geral de Aposentações, por ter sido professor catedrático na Universidade Nova de Lisboa.
    Segundo a declaração de rendimentos entregue pelo PR no Tribunal Constitucional, em Dezembro passado, e relativa a 2009, verifica-se que Cavaco Silva recebeu nesse ano 142 375,70 euros por trabalho dependente (Presidência) e 140 601,81 euros de pensões (Banco de Portugal e Universidade Nova). A diferença no vencimento de PR tem a ver com um salário mensal, que antes das medidas de austeridade era de 7630 euros, mais despesas de representação (que podem chegar aos 2962 euros).
    À primeira vista, parece que o Chefe do Estado perde receita ao optar pela segunda hipótese, as pensões.
    Mas não: as reformas, apesar de congeladas, não são objecto de qualquer tipo de redução salarial - no seu caso os 10% previstos para 2011, somados aos 5% de 2010. Ou seja, passou de um vencimento de cerca de 7630 euros brutos para, com o corte de 5%, ganhar 7249 mil euros.
    Com o novo corte, agora de 10%, o ordenado de Cavaco Silva seria de 6523 euros. Em vez de perder mais de 1100 euros, o PR opta pelas suas pensões, que segundo a Lusa e a sua declaração de rendimentos que o DN consultou, se situa mesmo nos dez mil euros mensais.
    Publicada por OS TABUS DE CAVACO em 05:24

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  9. cala consente
    por Daniel Oliveira
    Em quase todas as eleições os jornalistas chamam à atenção para a abstenção. Pedem comentários aos comentadores e os comentadores comentam: isto demonstra o descrédito da democracia. Pedem frases bonitas aos políticos e os políticos tentam não desagradar: esta abstenção deve servir de aviso para uma profunda reflexão. Pedem ciência aos politólogos e os politólogos debitam frases feitas: há um desinteresse geral por este ato eleitoral.



    E isto, a mim, enerva-me. Que metade do País que se deu ao trabalho de ir votar gaste tanto tempo a falar da metade do País que se esteve nas tintas. Que fritemos a cabeça a tentar descortinar as motivações da inação de quem preferiu ficar em casa. Que os cidadãos que levam a sério essa sua condição e querem ter autoridade para criticar os eleitos se sintam na obrigação de fazer o papel de ama-seca de quem não quer saber.



    Posso dicordar do voto de muitas pessoas. De quem vota em candidatos absurdos para protestar. De quem vota em branco ou nulo porque acha que quem se candidata é sempre oportunista ou idiota. De quem vota em autarcas corruptos ou políticos incompetentes. De quem decide o seu voto em frente ao boletim, como se estivesse a jogar no totobola. Mas sairam de casa, foram à mesa de voto, e cumpriram a sua obrigação de cidadão. Merecem-me respeito. Como opinador, reflito sempre sobre a sua decisão. Como democrata, aceito sempre a sua escolha soberana. Para os abstencionistas estou-me nas tintas. Porque eles, ao não participarem no mais básico e simples dos atos desta nossa democracia, se estão nas tintas para mim. E amor com amor se paga.



    Se se abstêm porque têm mais que fazer eu abstenho-me de lhes dar atenção. Se se abstêm porque não acreditam em nada e em ninguém, eu abstenho-me de acreditar no seu empenho neste País. Se se abstêm porque não acreditam na democracia, eu abstenho-me de incluir o seu gesto (ou a sua ausência de gesto) no debate democrático.



    Sou contra o voto obrigatório. Exatamente porque não gosto da ideia de que quem não quer decidir seja determinante nas nossas grandes escolhas. Acho que a abstenção, num país livre, é um direito. Mas, por favor, não peçam a quem se preocupa, pensa e escolhe para perder tanto tempo com quem não o faz.



    Se podem votar têm mais de 18 anos. Se têm mais de 18 anos são maiores e vacinados. Preferem ficar em casa? Problema deles. Nós, os cidadãos que o querem ser, tratamos de escolher.



    Dar, em cada ato eleitoral, tanto tempo de antena à abstenção é um insulto a quem se levantou do sofá e participou na vida coletiva deste País. Metade dos portugueses foi votar no último domingo. É pena, mas é a metade com a qual podemos contar. Só a escolha deles me interessa. Querem um número que merece reflexão? 277.835 cidadãos saíram de casa, foram à mesa de voto e votaram branco ou nulo. Esses sim, quiseram dizer alguma coisa. Os outros ficaram calados. E quem cala consente.



    Publicado no Expresso Online

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  10. As escolhas de Cavaco

    "Cavaco Silva prescindiu do vencimento atribuído ao PR e escolheu manter as reformas a que tem direito. Há algo de errado nisto. Mas o quê?" (José Medeiros Ferreira, Córtex Frontal)

    Tem razão Medeiros Ferreira, isto faz comichão na cabeça. Será a sobreposição do homo economicus (stricto senso), ao homo politicus? A transcendência das escolhas simbólicas e coerentes ultrapassada pelo pragmatismo individualista? O merceeiro Aníbal (reformado) a impor-se ao presidente Cavaco (em exercício)?
    Postado por Nuno Serra

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