Cavaquismo e SLNismo Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2011
Neste último dia de campanha, uma coisa parece certa relativamente a Cavaco Silva: foi igual a si mesmo em todo este processo. No fundo, apresentou na perfeição algumas das características mais claramente associadas ao estilo cavaquista de se estar na política. A primeira delas foi o sempre preocupante facto de Cavaco não se considerar um político. Ou seja, a figura política da nação que mais cargos de relevo e durante mais tempo ocupou na democracia portuguesa não pertence à classe política. Continua a considerar-se um “humilde professor”, um técnico especializado que coloca despretensiosamente os seus serviços ao dispor do Estado e do povo português. Enfim, a oeste nada de novo.
A segunda característica de destaque que não surpreendeu foi o seu difícil relacionamento com o confronto político e com o questionamento da comunicação social. Mais uma vez, optou pela figura reservada que prefere o silêncio ao confronto de ideias, prefere o caminho do tabu e da vitimização pessoal ao esclarecimento. A terceira característica igualmente preocupante que se destacou foi a ideia de que se pode prescindir da democracia se causas de força maior se impuserem. Foi o que o actual Presidente da República fez ao invocar o contexto de crise e os custos dos actos eleitorais para que uma 2ª volta não aconteça. No fundo, considerou deste modo que até na democracia se pode poupar, ideia que assenta na perfeição no tal estilo cavaquista.
Mas esta campanha eleitoral tornou clara para a generalidade da população uma característica do Cavaquismo até agora algo mitigada: o SLNismo. Com tantos factos por esclarecer, com tantas proximidades e ingenuidades muito mal explicadas por parte do actual presidente, muitas dúvidas ficaram no ar. O país ficou a perceber que o honestíssimo, incorruptível e ultra-sério Cavaco Silva afinal parece ter uma série de coisas a esconder. Não que qualquer responsabilidade criminal lhe possa ser atribuída por tais proximidades, mas sim inevitáveis responsabilidades políticas por estar tão perigosamente próximo das caras que estão na origem do maior rombo nas finanças públicas de que há memória.
O Cavaquismo já tinha muitas facetas. Mas parecem restar poucas dúvidas que o SLNismo foi a maior revelação desta campanha. Importa assim acreditar que, entre todas as outras dimensões, esta falta de transparência, estas relações duvidosas, estas promiscuidades que tanto lesam o erário público, não sejam esquecidas quando os portugueses votarem no próximo Domingo. Se tal esquecimento suceder, se se fingir que nada se passou, tal não será certamente um sinal de saúde democrática.
Não votar na hipocrisia Publicado por Adriano Campos
Cavaco Silva, no seu site oficial de campanha, cita Sofia de Mello Breyner ao referir-se a Salgueiro Maia como «aquele que deu tudo e não pediu a paga». Tem razão, Salgueiro Maia apenas pediu, em 1988, pouco tempo antes de adoecer, uma pensão por “serviços excepcionais ou relevantes prestados ao país”. O serviço excepcional de Salgueiro Maia para as nossas vidas é bem conhecido. O então Primeiro-Ministro Cavaco Silva não pensava assim e recusou o pedido. Mais tarde escolheu conceder a mesma pensão aos ex-agentes da PIDE, António Augusto Bernardo e Óscar Cardoso, sendo este último o conhecido organizador dos Flechas.
Há casas fantásticas, não há? Notícia da Visão online (Escritura de Cavaco omite vivenda em construção há nove meses):
No dia 9 de julho de 1998, a notária Maria do Carmo Santos deslocou-se ao escritório de Fernando Fantasia, na empresa industrial Sapec, Rua Vítor Cordon, em Lisboa, para registar uma escritura especial. O casal Cavaco Silva (cerimoniosamente identificados com os títulos académicos de "Prof. Dr." e "Dra") entregava a sua casa de férias em Montechoro, Albufeira, e recebia em troca da Constralmada - Sociedade de Construções Lda uma nova moradia no mesmo concelho. Ambas foram avaliadas pelas partes no mesmo valor: 135 mil euros. Este tipo de permutas, entre imóveis do mesmo valor, está isento do pagamento de sisa, o imposto que antecedeu o IMI, e vigorava à época.
Mas a escritura refere, na página 3, que Cavaco Silva recebe um "lote de terreno para construção", omitindo que a vivenda Gaivota Azul, no lote 18 da Urbanização da Coelha, já se encontrava em construção há cerca de nove meses. Segundo o "livro de obras" que faz parte do registo da Câmara Municipal de Albufeira, as obras iniciaram-se em 10 de Outubro do ano anterior à escritura, em 1997. Tal como confirma Fernando Fantasia, presente na escritura, e dono da Opi 92, que detinha 33% do capital da Constralmada, que afirmou, na quinta-feira, 20, à VISÃO que o negócio escriturado incluía a vivenda. Luís Branco 21.1.11
Há coisas que se mantêm tão actuais por Daniel Oliveira
O que fará o doutor Cavaco em Belém, segundo Paulo Portas (em Outubro de 1995): "A candidatura do doutor Cavaco destina-se, pura e simplesmente, a convocar novas eleições e a devolver o poder ao PSD". Diferença que explica a evolução de Portas: e a devolver o poder também ao CDS.
Os anos de chumbo do cavaquismo Recupero agora um texto com cinco anos, sem mexer nas datas. Faz agora em Novembro doze anos e parece que já ninguém se lembra. Em frente à Assembleia da República, uns milhares de estudantes do Ensino Superior manifestavam-se contra o aumento de propinas. Era uma manifestação legítima e, para 99% dos presentes, era totalmente pacífica. Ao menor pretexto, porém, a GNR efectuou uma descarga de bastonadas. Não se restringiu ao núcleo de potenciais agitadores - note-se que estava presente um número de agentes mais do que suficiente para isso - e, mesmo para esses potenciais agitadores - nunca ficou provado que o fossem -, não havia necessidade nenhuma de recorrer a bastonadas. Mas a partir do momento que a descarga começou foi esse o "tratamento" que levaram todos os estudantes que tiveram o azar de estar à frente dos agentes nessa altura, ou que não conseguiram fugir suficientemente depressa. Tive a sorte de não ser um dos estudantes feridos. Mas uma amiga minha de infância, estudante de Medicina, não pôde dizer o mesmo. Era uma rapariga magra, quase franzina. Uma miúda então com dezoito anos. Ficou com o corpo cheio de pisaduras. Sangue pisado. Pisado pelo cavaquismo. Dois colegas meus, do meu curso, do meu ano, da minha turma, foram presos. Passaram a noite numa esquadra de polícia. Não estavam a trancar nenhuma Universidade à chave e nem a ter comportamentos indignos. Limitavam-se a exercer o legítimo direito à manifestação (legal, autorizada) que qualquer cidadão tem. Felizmente houve testemunhas e documentos do ocorrido - registos fotográficos e em vídeo. Dos estudantes em fuga a tentar despistar a polícia pelas pequenas travessas perpendiculares à Rua de São Bento. Das bastonadas. Dos corpos feridos. As televisões e os jornais mostraram as imagens, e o país todo pôde julgar - e julgou da mesma maneira: o que estava em causa não era a manifestação ser ou não pacífica; o que estava em causa era o tamanho dessa mesma manifestação, e a má imagem que tal daria do governo. Ao menor pretexto, a manifestação tinha de ser dispersada, fosse de que maneira fosse. Foi o que sucedeu. A GNR está na dependência directa do Ministério da Administração Interna. Não houve por parte do Ministério nenhum inquérito aberto para averiguar a razão de tal procedimento por parte dos agentes. Não houve, por parte de nenhum membro do Governo, nenhuma condenação ou, sequer, lamento pelo sucedido. Tudo foi considerado perfeitamente natural, com o total apoio do Governo. A polícia tinha procedido como devia, de acordo com as ordens que lhe haviam sido dadas. O único responsável político que condenou o sucedido e censurou o procedimento da polícia foi o então Presidente da República, Mário Soares. O que se seguiu então foram greves académicas, universidades fechadas, e uma enorme sensação de que o país tinha regredido mais de vinte anos. Que as lutas que foram da geração dos meus pais estavam a ser as da minha geração. Só com uma diferença importante: a geração dos meus pais vivia em ditadura; a minha, supostamente, vivia em democracia. Foi graças a essa democracia que havia uma comunicação social livre (mesmo se, em parte, escandalosamente controlada pelo Governo - como nenhum outro a controlou) que soube documentar o que se passava. Foi graças a essa democracia que se organizaram exposições com registos fotográficos da brutalidade policial. E foi graças a essa democracia que mais tarde, em Janeiro de 1996, o país decidiu acordar deste pesadelo. Exorcizar este mal. Julgou-se que para sempre. Pelos vistos, ainda não. O líder do Governo de então era o mesmo homem que hoje se apresenta como candidato "acima dos partidos" à Presidência da República: Aníbal Cavaco Silva. Se já vimos como é ter a Guarda Nacional Repúblicana sob a tutela (mesmo que indirecta) deste homem, nem quero imaginar como seria tê-lo como Chefe de Estado. Um Chefe de Estado é uma garantia, e para tal este homem, digo eu, simplesmente não é digno da minha confiança.inkWithin Publicado por Filipe Moura
A estatística é uma ferramenta que nos possibilita ter um ideia de uma determinada população de valores, sem aferir cada elemento directamente. Assim, inerente aos métodos estatísticos é a diferença entre o valor exacto de uma grandeza relativa à totalidade da população e o valor a que conseguimos chegar usando ferramentas estatísticas sobre uma amostra representativa da população. Chama-se incerteza a essa diferença, que advém de vários factores: os sistemáticos e os que têm que ver apenas com o tamanho da amostra que se escolheu. As fontes sistemáticas de incerteza podem ser muitas e cada uma delas pode variar no tempo. Numa sondagem existem formas de controlar a amostra, para esta se possa considerar significativa. Essas formas têm que ver, por exemplo, com o método de recolha da amostra, com a selecção (ou não) dos elementos presentes na amostra. Apesar disso, existem muitos imponderáveis que não são fáceis de quantificar: por exemplo, qual é o grau de correlação (o efeito quantificado) entre o resultado da última sondagem e o resultado da próxima ? Variará esse efeito, e de quanto, de amostra para amostra, por exemplo conforme a região do país e o acesso que a nova amostra teve ao resultado da sondagem anterior? Variará conforme os jornais comprados, ou não, pelos elementos da nova amostra? Variará conforme os canais de cabo a que a amostra tem acesso? Em estatística, este tipo de incerteza, a sistemática, espreita sempre por cima do ombro.... Imaginemos agora que todos os eleitores do país são ... um bolo rei! Temos a massa do bolo, que corresponde à percentagem de abstenção, os outros frutos cristalizados, candidatos diversos, conforme a sua cor. Agora, imaginemos que cortamos uma fatia do bolo e que contamos quantos frutos de cada cor existem nessa fatia e qual é a sua percentagem em relação à quantidade de massa na fatia. O que é que isso quer dizer sobre o conteúdo total do bolo? Se o bolo estiver muito bem uniformizado, quer dizer que devemos ter uma amostra significativa desde que na nossa fatia haja espaço para que todos os tipos de fruta possam estar presentes numa quantidade estatisticamente significativa. Mas, se o bolo não for homogéneo, só nos aproximamos dos valores para as quantidade de cada tipo de fruta no bolo rei se amostramos uma parte maior do bolo. Fatia a fatia posso ir conhecendo melhor o que os pasteleiros lá foram deitando... A questão, é que os pasteleiros ainda não acabaram de confeccionar o bolo e a esta hora, ainda revolvem massa com as suas colheres de pau. Não sabemos se muitos ou poucos saboreiam a laranja e a encontram amarga, deixando-a de lado, ou se decidem acrescentar mais ou menos fruta, desta ou daquela cor. Amanhã, o bolo vai para o forno e coze. Só no domingo saberemos a quem vai calhar a fava! Poderá também gostar de: LinkWithin Publicado por Patrícia Gonçalves
Mais uma demonstração cabal de falta de cultura democrática, igual a tantas a que nos habituou nos últimos 25 anos: a (eventual) subida das taxas de juro é mais importante que a vontade soberana do povo. Manuela Ferreira Leite, seu delfim político e pessoa com quem mantém estreitas relações, falava em "suspender a democracia por seis meses". A democracia e a república para esta gente são secundárias. Só por isto, digo: domingo vamos todos votar! Para que haja uma segunda volta. Poderá também gostar de: LinkWithin Publicado por Filipe Moura
O candidato Cavaco tem de nascer outra vez 20 de Janeiro de 2011 Dizer que Cavaco é menos sério do que ele pensa parecer é falhar o alvo por baixo. Cavaco é, como revelado pelas últimas semanas, ainda menos sério do que aquilo que eu pensava que ele era — e Cavaco nunca me enganou. Os casos do BPN e da casa na Urbanização da Coelha já são suficientemente graves. Em qualquer país do mundo estes casos seriam escrutinados até ao fim. O BPN, em particular, arrisca-se a custar ao país aquilo que cada cidadãos tem de sacrificar através de dolorosos cortes nos salários e aumentos de impostos. Não me parece que se possa dispensar de explicações qualquer pessoa que tenha tido com este banco, sem pestanejar, lucros que estão para lá dos mais deliciosos sonhos dos clientes de Madoff. Continue reading ‘O candidato Cavaco tem de nascer outra vez’ Rui Tavares
Esclarecedor para quem observar 21 de Janeiro de 2011 As campanhas presidenciais portuguesas são sempre estranhas. Não se votando para um executivo, ou seja, para decisões, programas, medidas, a coisa toma um de dois caminhos: ou se fala do entendimento dos poderes presidenciais em termos vagos; ou se fala da história pessoal dos candidatos. Ou seja: ou é metafísica ou é não-gosto-deste-gajo.
Isto, curiosamente, faz sentido. Para presidente escolhemos quem saiba duas coisas: interpretar e representar. Escolhemos uma interpretação da separação dos poderes e da república, ou seja, uma interpretação da constituição. E escolhemos uma pessoa que nos represente a todos, e faz sentido avaliar o seu caráter e a sua história, coisas altamente subjetivas.
Foi a campanha esclarecedora? Sempre — para quem observar; para quem se informar.
Para mim foi esclarecedor rever Cavaco. Para mim, Cavaco é um mau interprete da democracia e da República com as suas desvalorizações da palavra e da diferença. E acho-o um símbolo da hipocrisia nacional, da sisudez travestida, do autoritarismo que eu não gostaria que nos representassem. Mas que se calhar representam, e eu democraticamente aceitarei.
Mas até lá é isto: não gosto da metafísica de Cavaco, se é que a tem. E não sou fã do homem. Direitos de um eleitor como qualquer outro.
Publicado no Jornal Público no dia 20 de Janeiro de 2011
claro que vai ser agrultor na Qinta da Coelha...
ResponderEliminarCavaquismo e SLNismo
ResponderEliminarSexta-feira, 21 de Janeiro de 2011
Neste último dia de campanha, uma coisa parece certa relativamente a Cavaco Silva: foi igual a si mesmo em todo este processo. No fundo, apresentou na perfeição algumas das características mais claramente associadas ao estilo cavaquista de se estar na política. A primeira delas foi o sempre preocupante facto de Cavaco não se considerar um político. Ou seja, a figura política da nação que mais cargos de relevo e durante mais tempo ocupou na democracia portuguesa não pertence à classe política. Continua a considerar-se um “humilde professor”, um técnico especializado que coloca despretensiosamente os seus serviços ao dispor do Estado e do povo português. Enfim, a oeste nada de novo.
A segunda característica de destaque que não surpreendeu foi o seu difícil relacionamento com o confronto político e com o questionamento da comunicação social. Mais uma vez, optou pela figura reservada que prefere o silêncio ao confronto de ideias, prefere o caminho do tabu e da vitimização pessoal ao esclarecimento. A terceira característica igualmente preocupante que se destacou foi a ideia de que se pode prescindir da democracia se causas de força maior se impuserem. Foi o que o actual Presidente da República fez ao invocar o contexto de crise e os custos dos actos eleitorais para que uma 2ª volta não aconteça. No fundo, considerou deste modo que até na democracia se pode poupar, ideia que assenta na perfeição no tal estilo cavaquista.
Mas esta campanha eleitoral tornou clara para a generalidade da população uma característica do Cavaquismo até agora algo mitigada: o SLNismo. Com tantos factos por esclarecer, com tantas proximidades e ingenuidades muito mal explicadas por parte do actual presidente, muitas dúvidas ficaram no ar. O país ficou a perceber que o honestíssimo, incorruptível e ultra-sério Cavaco Silva afinal parece ter uma série de coisas a esconder. Não que qualquer responsabilidade criminal lhe possa ser atribuída por tais proximidades, mas sim inevitáveis responsabilidades políticas por estar tão perigosamente próximo das caras que estão na origem do maior rombo nas finanças públicas de que há memória.
O Cavaquismo já tinha muitas facetas. Mas parecem restar poucas dúvidas que o SLNismo foi a maior revelação desta campanha. Importa assim acreditar que, entre todas as outras dimensões, esta falta de transparência, estas relações duvidosas, estas promiscuidades que tanto lesam o erário público, não sejam esquecidas quando os portugueses votarem no próximo Domingo. Se tal esquecimento suceder, se se fingir que nada se passou, tal não será certamente um sinal de saúde democrática.
Não votar na hipocrisia
ResponderEliminarPublicado por Adriano Campos
Cavaco Silva, no seu site oficial de campanha, cita Sofia de Mello Breyner ao referir-se a Salgueiro Maia como «aquele que deu tudo e não pediu a paga». Tem razão, Salgueiro Maia apenas pediu, em 1988, pouco tempo antes de adoecer, uma pensão por “serviços excepcionais ou relevantes prestados ao país”. O serviço excepcional de Salgueiro Maia para as nossas vidas é bem conhecido. O então Primeiro-Ministro Cavaco Silva não pensava assim e recusou o pedido. Mais tarde escolheu conceder a mesma pensão aos ex-agentes da PIDE, António Augusto Bernardo e Óscar Cardoso, sendo este último o conhecido organizador dos Flechas.
Eu cá escolho não votar na hipocrisia
Há casas fantásticas, não há?
ResponderEliminarNotícia da Visão online (Escritura de Cavaco omite vivenda em construção há nove meses):
No dia 9 de julho de 1998, a notária Maria do Carmo Santos deslocou-se ao escritório de Fernando Fantasia, na empresa industrial Sapec, Rua Vítor Cordon, em Lisboa, para registar uma escritura especial. O casal Cavaco Silva (cerimoniosamente identificados com os títulos académicos de "Prof. Dr." e "Dra") entregava a sua casa de férias em Montechoro, Albufeira, e recebia em troca da Constralmada - Sociedade de Construções Lda uma nova moradia no mesmo concelho. Ambas foram avaliadas pelas partes no mesmo valor: 135 mil euros. Este tipo de permutas, entre imóveis do mesmo valor, está isento do pagamento de sisa, o imposto que antecedeu o IMI, e vigorava à época.
Mas a escritura refere, na página 3, que Cavaco Silva recebe um "lote de terreno para construção", omitindo que a vivenda Gaivota Azul, no lote 18 da Urbanização da Coelha, já se encontrava em construção há cerca de nove meses. Segundo o "livro de obras" que faz parte do registo da Câmara Municipal de Albufeira, as obras iniciaram-se em 10 de Outubro do ano anterior à escritura, em 1997. Tal como confirma Fernando Fantasia, presente na escritura, e dono da Opi 92, que detinha 33% do capital da Constralmada, que afirmou, na quinta-feira, 20, à VISÃO que o negócio escriturado incluía a vivenda.
Luís Branco 21.1.11
Há coisas que se mantêm tão actuais
ResponderEliminarpor Daniel Oliveira
O que fará o doutor Cavaco em Belém, segundo Paulo Portas (em Outubro de 1995): "A candidatura do doutor Cavaco destina-se, pura e simplesmente, a convocar novas eleições e a devolver o poder ao PSD". Diferença que explica a evolução de Portas: e a devolver o poder também ao CDS.
Os anos de chumbo do cavaquismo
ResponderEliminarRecupero agora um texto com cinco anos, sem mexer nas datas.
Faz agora em Novembro doze anos e parece que já ninguém se lembra. Em frente à Assembleia da República, uns milhares de estudantes do Ensino Superior manifestavam-se contra o aumento de propinas. Era uma manifestação legítima e, para 99% dos presentes, era totalmente pacífica. Ao menor pretexto, porém, a GNR efectuou uma descarga de bastonadas. Não se restringiu ao núcleo de potenciais agitadores - note-se que estava presente um número de agentes mais do que suficiente para isso - e, mesmo para esses potenciais agitadores - nunca ficou provado que o fossem -, não havia necessidade nenhuma de recorrer a bastonadas. Mas a partir do momento que a descarga começou foi esse o "tratamento" que levaram todos os estudantes que tiveram o azar de estar à frente dos agentes nessa altura, ou que não conseguiram fugir suficientemente depressa.
Tive a sorte de não ser um dos estudantes feridos. Mas uma amiga minha de infância, estudante de Medicina, não pôde dizer o mesmo. Era uma rapariga magra, quase franzina. Uma miúda então com dezoito anos. Ficou com o corpo cheio de pisaduras. Sangue pisado. Pisado pelo cavaquismo.
Dois colegas meus, do meu curso, do meu ano, da minha turma, foram presos. Passaram a noite numa esquadra de polícia. Não estavam a trancar nenhuma Universidade à chave e nem a ter comportamentos indignos. Limitavam-se a exercer o legítimo direito à manifestação (legal, autorizada) que qualquer cidadão tem.
Felizmente houve testemunhas e documentos do ocorrido - registos fotográficos e em vídeo. Dos estudantes em fuga a tentar despistar a polícia pelas pequenas travessas perpendiculares à Rua de São Bento. Das bastonadas. Dos corpos feridos. As televisões e os jornais mostraram as imagens, e o país todo pôde julgar - e julgou da mesma maneira: o que estava em causa não era a manifestação ser ou não pacífica; o que estava em causa era o tamanho dessa mesma manifestação, e a má imagem que tal daria do governo. Ao menor pretexto, a manifestação tinha de ser dispersada, fosse de que maneira fosse. Foi o que sucedeu.
A GNR está na dependência directa do Ministério da Administração Interna. Não houve por parte do Ministério nenhum inquérito aberto para averiguar a razão de tal procedimento por parte dos agentes. Não houve, por parte de nenhum membro do Governo, nenhuma condenação ou, sequer, lamento pelo sucedido. Tudo foi considerado perfeitamente natural, com o total apoio do Governo. A polícia tinha procedido como devia, de acordo com as ordens que lhe haviam sido dadas.
O único responsável político que condenou o sucedido e censurou o procedimento da polícia foi o então Presidente da República, Mário Soares.
O que se seguiu então foram greves académicas, universidades fechadas, e uma enorme sensação de que o país tinha regredido mais de vinte anos. Que as lutas que foram da geração dos meus pais estavam a ser as da minha geração. Só com uma diferença importante: a geração dos meus pais vivia em ditadura; a minha, supostamente, vivia em democracia. Foi graças a essa democracia que havia uma comunicação social livre (mesmo se, em parte, escandalosamente controlada pelo Governo - como nenhum outro a controlou) que soube documentar o que se passava. Foi graças a essa democracia que se organizaram exposições com registos fotográficos da brutalidade policial. E foi graças a essa democracia que mais tarde, em Janeiro de 1996, o país decidiu acordar deste pesadelo. Exorcizar este mal. Julgou-se que para sempre. Pelos vistos, ainda não.
O líder do Governo de então era o mesmo homem que hoje se apresenta como candidato "acima dos partidos" à Presidência da República: Aníbal Cavaco Silva. Se já vimos como é ter a Guarda Nacional Repúblicana sob a tutela (mesmo que indirecta) deste homem, nem quero imaginar como seria tê-lo como Chefe de Estado. Um Chefe de Estado é uma garantia, e para tal este homem, digo eu, simplesmente não é digno da minha confiança.inkWithin
Publicado por Filipe Moura
A fava contada: estatística e bolo rei
ResponderEliminarA estatística é uma ferramenta que nos possibilita ter um ideia de uma determinada população de valores, sem aferir cada elemento directamente. Assim, inerente aos métodos estatísticos é a diferença entre o valor exacto de uma grandeza relativa à totalidade da população e o valor a que conseguimos chegar usando ferramentas estatísticas sobre uma amostra representativa da população. Chama-se incerteza a essa diferença, que advém de vários factores: os sistemáticos e os que têm que ver apenas com o tamanho da amostra que se escolheu.
As fontes sistemáticas de incerteza podem ser muitas e cada uma delas pode variar no tempo. Numa sondagem existem formas de controlar a amostra, para esta se possa considerar significativa. Essas formas têm que ver, por exemplo, com o método de recolha da amostra, com a selecção (ou não) dos elementos presentes na amostra. Apesar disso, existem muitos imponderáveis que não são fáceis de quantificar: por exemplo, qual é o grau de correlação (o efeito quantificado) entre o resultado da última sondagem e o resultado da próxima ? Variará esse efeito, e de quanto, de amostra para amostra, por exemplo conforme a região do país e o acesso que a nova amostra teve ao resultado da sondagem anterior? Variará conforme os jornais comprados, ou não, pelos elementos da nova amostra? Variará conforme os canais de cabo a que a amostra tem acesso?
Em estatística, este tipo de incerteza, a sistemática, espreita sempre por cima do ombro....
Imaginemos agora que todos os eleitores do país são ... um bolo rei! Temos a massa do bolo, que corresponde à percentagem de abstenção, os outros frutos cristalizados, candidatos diversos, conforme a sua cor. Agora, imaginemos que cortamos uma fatia do bolo e que contamos quantos frutos de cada cor existem nessa fatia e qual é a sua percentagem em relação à quantidade de massa na fatia. O que é que isso quer dizer sobre o conteúdo total do bolo? Se o bolo estiver muito bem uniformizado, quer dizer que devemos ter uma amostra significativa desde que na nossa fatia haja espaço para que todos os tipos de fruta possam estar presentes numa quantidade estatisticamente significativa. Mas, se o bolo não for homogéneo, só nos aproximamos dos valores para as quantidade de cada tipo de fruta no bolo rei se amostramos uma parte maior do bolo. Fatia a fatia posso ir conhecendo melhor o que os pasteleiros lá foram deitando...
A questão, é que os pasteleiros ainda não acabaram de confeccionar o bolo e a esta hora, ainda revolvem massa com as suas colheres de pau. Não sabemos se muitos ou poucos saboreiam a laranja e a encontram amarga, deixando-a de lado, ou se decidem acrescentar mais ou menos fruta, desta ou daquela cor.
Amanhã, o bolo vai para o forno e coze. Só no domingo saberemos a quem vai calhar a fava!
Poderá também gostar de:
LinkWithin
Publicado por Patrícia Gonçalves
Cavaco é sobretudo isto
ResponderEliminarMais uma demonstração cabal de falta de cultura democrática, igual a tantas a que nos habituou nos últimos 25 anos: a (eventual) subida das taxas de juro é mais importante que a vontade soberana do povo. Manuela Ferreira Leite, seu delfim político e pessoa com quem mantém estreitas relações, falava em "suspender a democracia por seis meses". A democracia e a república para esta gente são secundárias. Só por isto, digo: domingo vamos todos votar! Para que haja uma segunda volta.
Poderá também gostar de:
LinkWithin
Publicado por Filipe Moura
O candidato Cavaco tem de nascer outra vez
ResponderEliminar20 de Janeiro de 2011 Dizer que Cavaco é menos sério do que ele pensa parecer é falhar o alvo por baixo. Cavaco é, como revelado pelas últimas semanas, ainda menos sério do que aquilo que eu pensava que ele era — e Cavaco nunca me enganou.
Os casos do BPN e da casa na Urbanização da Coelha já são suficientemente graves. Em qualquer país do mundo estes casos seriam escrutinados até ao fim. O BPN, em particular, arrisca-se a custar ao país aquilo que cada cidadãos tem de sacrificar através de dolorosos cortes nos salários e aumentos de impostos. Não me parece que se possa dispensar de explicações qualquer pessoa que tenha tido com este banco, sem pestanejar, lucros que estão para lá dos mais deliciosos sonhos dos clientes de Madoff.
Continue reading ‘O candidato Cavaco tem de nascer outra vez’
Rui Tavares
Esclarecedor para quem observar
ResponderEliminar21 de Janeiro de 2011
As campanhas presidenciais portuguesas são sempre estranhas. Não se votando para um executivo, ou seja, para decisões, programas, medidas, a coisa toma um de dois caminhos: ou se fala do entendimento dos poderes presidenciais em termos vagos; ou se fala da história pessoal dos candidatos. Ou seja: ou é metafísica ou é não-gosto-deste-gajo.
Isto, curiosamente, faz sentido. Para presidente escolhemos quem saiba duas coisas: interpretar e representar. Escolhemos uma interpretação da separação dos poderes e da república, ou seja, uma interpretação da constituição. E escolhemos uma pessoa que nos represente a todos, e faz sentido avaliar o seu caráter e a sua história, coisas altamente subjetivas.
Foi a campanha esclarecedora? Sempre — para quem observar; para quem se informar.
Para mim foi esclarecedor rever Cavaco. Para mim, Cavaco é um mau interprete da democracia e da República com as suas desvalorizações da palavra e da diferença. E acho-o um símbolo da hipocrisia nacional, da sisudez travestida, do autoritarismo que eu não gostaria que nos representassem. Mas que se calhar representam, e eu democraticamente aceitarei.
Mas até lá é isto: não gosto da metafísica de Cavaco, se é que a tem. E não sou fã do homem. Direitos de um eleitor como qualquer outro.
Publicado no Jornal Público no dia 20 de Janeiro de 2011
[ Rui Tavares
SE O HÁBITO FAZ O MONGE
ResponderEliminarE O MUNDO QUER-SE ILUDIDO
QUE DIRÁ QUEM VÊ AO LONGE
UM GATUNO BEM VESTIDO ?
ANTÓNIO ALEIXO