segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Entre nós e as palavras # 12



Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso de Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena

vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo à voz de mando
do director fatal que lhes ordena

essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena

mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena

Fernando Assis Pacheco - "As Putas da Avenida"



(Fotografia: Brassaï - “Prostitute at angle of Rue de la Reynie and Rue Quincampoix”, 1933) 



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