quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Entre nós e as palavras # 10



Entre nós e a palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte     violar-nos     tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e a palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas     portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e a palavras, surdamente,
As mãos e as paredes de Elsenor

E há palavras e nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem elegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violino
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os abraços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e a palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever de falar

Mário Cesariny - "You Are Welcome To Elsinore"


(Fotografia de Adriana Oliveira)



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