quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

No rescaldo do debate de ontem



No rescaldo do debate de ontem, entre Cavaco Silva e Manuel Alegre, partilhamos dois textos certeiros sobre o actual presidente da república.

Luís Branco, no texto "Tudo bons rapazes" (publicado no blogue Minoria Relativa e também no Esquerda.net), retoma o tema, ainda por esclarecer, das acções da SLN adquiridas por Cavaco Silva:

No meio dum debate irritado com Manuel Alegre, Cavaco Silva responsabilizou a administração do BPN já nacionalizado pelo buraco gigantesco para que o banco foi conduzido. Mas não disse uma palavra sobre quem teve responsabilidades na administração de uma empresa que durante anos foi gerida como plataforma de operações criminosas para dar lucros milionários aos amigos da SLN, mesmo debaixo do nariz da supervisão bancária.

De facto, não se imagina o que poderia dizer Cavaco sem ser em abono de personalidades como Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Arlindo de Carvalho, Abdool Vakil, Miguel Cadilhe, entre tantos outros distintos apoiantes da recandidatura do homem que os reuniu na vida, na política e nos negócios.

Estamos a falar do mesmo Cavaco Silva que não desconfiou de nada quando a SLN lhe comprou em 2003 as acções que lhe tinha vendido dois anos antes, garantindo-lhe uma mais valia de 140%. Pelos vistos, Cavaco nunca soube que fez parte dum esquema que foi usado durante dez anos para beneficiar os amigos do BPN, que assim ganhavam muito dinheiro em pouco tempo e com risco zero.

Risco zero para eles, claro. Hoje é o país inteiro que está a pagar, graças ao PS, ao PSD e ao próprio Cavaco, que promulgou a lei para nacionalizar o que toda a gente sabia ser uma caixa de surpresas muito desagradáveis, cheia de negócios como o de Dias Loureiro em Porto Rico, com o dinheiro sempre a esfumar-se em triangulações entre off-shores de que ninguém conhece os proprietários.

Cavaco não pode fazer de conta que não sabia de nada disto. Mas conta com a "imprensa suave" que não o obriga a avivar a memória.


Manuel António Pina, no artigo de opinião "Fazer pela vidinha" (publicado no Jornal de Notícias), aborda a subserviência de Cavaco Silva à agiotagem dos mercados, como ficou bem patente nas posições defendidas durante o debate de ontem:

O "sensato" conselho de Cavaco Silva para comermos e calarmos de modo a que "os nossos credores" não se zanguem connosco e nos castiguem com juros cada vez mais altos espelha uma cultura salazarenta de conformismo que, sendo muito mais antiga que Cavaco, ele representa na perfeição, até nos seus, só na aparência contraditórios, repentes de arrogância.

Quando Cavaco nos recomenda que amouchemos pois "se nós lhes [aos 'nossos credores'] dirigirmos palavras de insulto, a consequência será mais desemprego para Portugal", tão só repete, adaptada à actual circunstância, a "sensata" e canónica fórmula do "Manda quem pode, obedece [ no caso, cala] quem deve".

Trata-se de uma atávica cultura em que a vida é vidinha, a crítica deve sempre ser "construtiva" e colaborante, os trabalhadores, por suave milagre linguístico, se tornam "colaboradores" (e se colaboracionistas melhor ainda) e servilismo e acriticismo são alcandorados a virtudes cívicas. Porque é assim que se faz pela vidinha, de joelhos.

Estejamos, portanto, gratos às "companhias de seguros, fundos de pensões, fundos soberanos, bancos internacionais e cidadãos espalhados por esse mundo fora" que nos emprestam dinheiro a juros usurários, pois eles apenas querem o nosso bem. E, como o bom Matateu numa famosa entrevista a Baptista Bastos, digamos tudo o que quisermos, excepto dizer mal, "porque [cito de cor] Matateu não diz mal de ninguém".


Cavaco Silva poderá insistir na velha táctica do silêncio, no gasto papel de virgem ofendida ou continuar a remeter todos os esclarecimentos para a página da presidência da república (como ontem voltou a fazer), mas não poderá esquivar-se ao confronto e ao escrutínio político (que faz questão em apodar sempre de ataques pessoais).

Apesar da colaboração dócil e cabisbaixa da comunicação social, Cavaco Silva não é para nós um vencedor antecipado das eleições do dia 23 de Janeiro.
Da nossa parte, insistiremos em não lhe dar tréguas e continuaremos a lutar pela sua derrota nas próximas eleições presidenciais.


(imagem retirada daqui)

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