A Avaaz acaba de lançar uma petição denunciando a campanha de intimidação contra a WikiLeaks, perpretada por governos e empresas, considerando que a mesma constitui um ataque à liberdade de imprensa e à democracia.
A petição, que conta já com milhares de assinaturas de cidadãos de todo o mundo, poderá ser assinada aqui.
Argumentos de autoridade
ResponderEliminarpor Bruno Sena Martins
Os Estados Unidos espiaram a ONU e o seu Secretário-Geral sem pruridos de maior, mas estão muito indignados com as revelações feitas pela Wikileaks. O paradoxo é instrutivo: através da wikileaks acedemos à informação que retira aos Estados Unidos qualquer margem de autoridade moral para nos convencer da ilicitude da Wikileaks. Sob pena de curto-circuito de valores, vai ser muito difícil ao comum cidadão condenar a wikileaks enquanto o governo americano fizer questão continuar a participar na acusação.
Quinta-feira, 9 de Dezembro de 2010
ResponderEliminarWikileaks, e a campanha extra-judicial de intimidação
«We call on you to stop the crackdown on WikiLeaks and its partners immediately. We urge you to respect democratic principles and laws of freedom of expression and freedom of the press. If Wikileaks and the journalists it works with have violated any laws they should be pursued in the courts with due process. They should not be subjected to an extra-judicial campaign of intimidation.»
Publicado por João Vasco às 13:42
Coscuvilhices pouco diplomáticas
ResponderEliminarO embaixador português em França lamentou a publicação dos telegramas das embaixadas dos EUA pela Wikileaks e assinala o impacto que a quebra de confiança que permitiu esta fuga terá no trabalho diplomático futuro, sobretudo na "franqueza e discrição" com que os relatos das embaixadas são enviados.
Na verdade, este "Cablegate" diz respeito a documentos que já estavam antes acessíveis a cerca de 3 milhões de pessoas, e que agora passam pelo lento crivo de alguns dos maiores grupos de media mundiais, que ficaram com o exclusivo do embargo dos documentos e estão a negociar com o governo dos EUA sobre o que será ou não publicável.
Mas o que se sabe já vai muito para além de declarações mais pitorescas em reuniões à porta fechada ou relatórios sobre perfis de políticos e empresários recheados com muita "franqueza". Pelo contrário, permite entender como os EUA vão construindo a teia diplomática que tem como grande objectivo o ataque ao Irão no mais curto espaço de tempo possível. Se dúvidas houvesse, bastará ouvir Netanyahu, o primeiro a vir a público dizer que estes telegramas só vêm dar razão à crescente retórica belicista de Israel.
A futura divulgação dos telegramas da embaixada portuguesa poderá esclarecer melhor a influência dos EUA sobre o governo português a propósito dos voos ilegais da CIA, e o primeiro telegrama revela já o nervosismo com as pressões do Bloco e do Parlamento Europeu sobre o governo.
Saber a verdade sobre as intenções e as escolhas dum Império que invade e destrói países ao arrepio do Direito Internacional não é "voyeurisme pateta" nem pode ser comparado à "divulgação de escutas telefónicas de natureza privada", como diz Seixas da Costa. E creio que até o embaixador concordará que a ordem dada no ano passado pela Administração Obama para espiar o secretário-geral da ONU não é mero assunto das "modernas comadres da eterna coscuvilhice", mas sim o maior sinal da falta de respeito que as Nações Unidas ainda merecem por parte do país que acolhe a sua sede.
Luís Branco 2.12.10
(Via Passa Palavra)
ResponderEliminarEntretanto, e para além da avalanche de textos e notícias internacionais, três recomendações de leituras «caseiras»:
* Rui Tavares, O nosso teste
* Ana Gomes, Wikileaks - transparência é o remédio
* Sérgio Lavos, Assange e a desinformação nos media nacionais
..POSTED BY JOANA LOPES
09/12/10
ResponderEliminarLeio isto e pergunto: e se puséssemos aí a circular um documento em que devidamente identificados nos confessássemos todos ciber-atacantes pela causa que move este rapaz?
por Miguel Serras Pereira
Um adolescente de 16 anos foi interrogado na noite de quarta para quinta-feira em Haia, na Holanda, suspeito de ter participado nos ataques de activistas defensores da WikiLeaks contra sites de cartões pagamento que cortaram serviços à organização nos últimos dias, informaram as autoridades holandesas.
A Polícia Judiciária suspeita que o adolescente esteve envolvido nos ataques aos sites da Visa, da MasterCard (que estiveram inactivos) e da PayPal, disse à AFP o porta-voz da instituição, Wim de Bruin.
Desde ontem, os sites de várias empresas que anunciaram deixar de prestar serviços utilizados pela organização de Julian Assange ficaram indisponíveis, depois dos ataques de hackers não identificados do grupo Anonymous.
Não é, no entanto, certo que o adolescente faça parte desta iniciativa cujos membros dizem não ser organizada e que se têm ocupado com a Operação Vingança, em resposta às ameaças lançadas contra a WikiLeaks e depois da detenção de Assange por suspeitas de crimes sexuais.
Tudo o que Wim de Bruin diz é no campo das suspeições: “O adolescente faz, provavelmente, parte de um grande grupo mais alargado de hackers, a respeito do qual prossegue um inquérito”.
O suspeito deverá ser presente a tribunal amanhã, em Roterdão, segundo a CNN, que refere que o adolescente acabou por confessar os crimes às autoridades.
Wikileaks revela como os EUA chantagearam o mundo
ResponderEliminarOs telegramas das embaixadas dos EUA revelados pelo Wikileaks contém informações reveladoras de como o governo deste país tem usado o seu poder diplomático para manipular as negociações climáticas.
Artigo | 10 Dezembro, 2010 - 01:15 | Por Ricardo Coelho
Hillary Clinton e Todd Stern, chefe da delegação dos EUA para as alterações climáticas - Foto da wikipedia Desde o início deste ano que o governo de Obama se tem esforçado para que todo o mundo assine o Acordo de Copenhaga, um acordo voluntário que prevê modestos cortes nas emissões de gases com efeito de estufa, de forma a criar as condições necessárias para substituir Quioto por um acordo internacional ineficaz.
Um conjunto de telegramas divulgados no “Guardian” revela como os EUA usaram técnicas de chantagem e corrupção para convencer os países menos desenvolvidos a assinar um acordo que lhes é desvantajoso. Um telegrama mostra como os EUA usaram os seus diplomatas na ONU para espiar outros diplomatas e obter detalhes pessoais sobre eles, com o apoio da CIA, numa manobra digna dos livros de John Le Carré. Outras missivas mostram como os países pobres foram comprados. O governo das Maldivas, por exemplo, apesar de em Copenhaga ter exigido um acordo vinculativo e ambicioso para salvaguardar a sua sobrevivência, acabou por enviar um telegrama ao representante dos EUA nas negociações apenas duas semanas depois a expressar o seu desejo de aderir ao Acordo de Copenhaga, em troca de ajuda financeira. Outros países, como o Brasil e a Arábia Saudita, também fizeram questão de mencionar que o seu apoio ao acordo seria facilitado com a atribuição de ajudas externas pelos EUA.
A União Europeia foi cúmplice desta chantagem exercida sobre os países menos desenvolvidos. Connie Hedegaard, Comissária Europeia para a Acção Climática, disse a um embaixador dos EUA que os pequenos países insulares poderiam ser os melhores aliados do Acordo de Copenhaga, dado que necessitam de ajuda financeira dos países mais ricos. Hedegaard, ex-deputada do Partido Popular Conservador, foi a presidente das negociações climáticas de 2009, em Copenhaga.
A Comissária fez questão de salientar que a UE silenciaria as suas críticas ao processo negocial, de forma a permitir que decorra sem solavancos. O Presidente da UE, Herman van Rompuy, contudo, não se calou nas suas críticas, tendo-se referido à cimeira de Copenhaga como “um desastre completo”, prevendo igual destino para a cimeira de Cancún. Rompuy defendeu ainda que as negociações falharam porque tinham demasiados intervenientes e que tudo correria melhor se estivessem apenas presentes os EUA, a UE e a China.
Os telegramas denunciam também os esforços dos EUA e da UE para “neutralizar, co-optar ou marginalizar” países vistos como “um estorvo”, particularmente os países da ALBA, que se opuseram ao Acordo de Copenhaga e fazem hoje parte do reduzido grupo de países que se recusou a assiná-lo. Apenas dois meses depois, em Abril, a ajuda externa dos EUA à Bolívia e ao Equador foi cancelada, como forma de retaliação.
Nem o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, o órgão da ONU que sintetiza a ciência das alterações climáticas em relatórios para políticos, escapou à chantagem dos EUA. O governo de Obama usou a sua influência política junto deste órgão, de forma a impedir a nomeação de um cientista iraniano para co-presidente de um dos grupos de trabalho. A razão para tal pedido era o facto de o outro co-presidente do grupo de trabalho ser um cientista dos EUA, o que foi visto como uma ameaça para a política externa deste país. Rajendra Pachauri, presidente do painel, concordou com o pedido.
Wikileaks revela como os EUA chantagearam o mundo
ResponderEliminarOs telegramas das embaixadas dos EUA revelados pelo Wikileaks contém informações reveladoras de como o governo deste país tem usado o seu poder diplomático para manipular as negociações climáticas.
Artigo | 10 Dezembro, 2010 - 01:15 | Por Ricardo Coelho
Hillary Clinton e Todd Stern, chefe da delegação dos EUA para as alterações climáticas - Foto da wikipedia Desde o início deste ano que o governo de Obama se tem esforçado para que todo o mundo assine o Acordo de Copenhaga, um acordo voluntário que prevê modestos cortes nas emissões de gases com efeito de estufa, de forma a criar as condições necessárias para substituir Quioto por um acordo internacional ineficaz.
Um conjunto de telegramas divulgados no “Guardian” revela como os EUA usaram técnicas de chantagem e corrupção para convencer os países menos desenvolvidos a assinar um acordo que lhes é desvantajoso. Um telegrama mostra como os EUA usaram os seus diplomatas na ONU para espiar outros diplomatas e obter detalhes pessoais sobre eles, com o apoio da CIA, numa manobra digna dos livros de John Le Carré. Outras missivas mostram como os países pobres foram comprados. O governo das Maldivas, por exemplo, apesar de em Copenhaga ter exigido um acordo vinculativo e ambicioso para salvaguardar a sua sobrevivência, acabou por enviar um telegrama ao representante dos EUA nas negociações apenas duas semanas depois a expressar o seu desejo de aderir ao Acordo de Copenhaga, em troca de ajuda financeira. Outros países, como o Brasil e a Arábia Saudita, também fizeram questão de mencionar que o seu apoio ao acordo seria facilitado com a atribuição de ajudas externas pelos EUA.
A União Europeia foi cúmplice desta chantagem exercida sobre os países menos desenvolvidos. Connie Hedegaard, Comissária Europeia para a Acção Climática, disse a um embaixador dos EUA que os pequenos países insulares poderiam ser os melhores aliados do Acordo de Copenhaga, dado que necessitam de ajuda financeira dos países mais ricos. Hedegaard, ex-deputada do Partido Popular Conservador, foi a presidente das negociações climáticas de 2009, em Copenhaga.
A Comissária fez questão de salientar que a UE silenciaria as suas críticas ao processo negocial, de forma a permitir que decorra sem solavancos. O Presidente da UE, Herman van Rompuy, contudo, não se calou nas suas críticas, tendo-se referido à cimeira de Copenhaga como “um desastre completo”, prevendo igual destino para a cimeira de Cancún. Rompuy defendeu ainda que as negociações falharam porque tinham demasiados intervenientes e que tudo correria melhor se estivessem apenas presentes os EUA, a UE e a China.
Os telegramas denunciam também os esforços dos EUA e da UE para “neutralizar, co-optar ou marginalizar” países vistos como “um estorvo”, particularmente os países da ALBA, que se opuseram ao Acordo de Copenhaga e fazem hoje parte do reduzido grupo de países que se recusou a assiná-lo. Apenas dois meses depois, em Abril, a ajuda externa dos EUA à Bolívia e ao Equador foi cancelada, como forma de retaliação.
Nem o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas, o órgão da ONU que sintetiza a ciência das alterações climáticas em relatórios para políticos, escapou à chantagem dos EUA. O governo de Obama usou a sua influência política junto deste órgão, de forma a impedir a nomeação de um cientista iraniano para co-presidente de um dos grupos de trabalho. A razão para tal pedido era o facto de o outro co-presidente do grupo de trabalho ser um cientista dos EUA, o que foi visto como uma ameaça para a política externa deste país. Rajendra Pachauri, presidente do painel, concordou com o pedido.
Um inestimável serviço à democracia
ResponderEliminar2 de Dezembro de 2010 Os EUA desenvolveram pressões junto dos governos, em particular do alemão, para que estes “controlassem” os seus eurodeputados. É uma pena, aliás, que as fugas de informação se fiquem por fevereiro; é que em maio um acordo levemente diferente foi a votos e passou.
Que foi agora? Quando a wikileaks publicou documentos das guerras do Iraque, — incluindo um vídeo que mostrava assassinatos cruéis e gratuitos por parte das tropas americanas — a resposta foi que “era verdade mas não era notícia”. O Pentágono, com a ajuda de um jornal preterido na divulgação, tentou alegar que a wikileaks estava a pôr vidas em risco e não a salvá-las (recuaram meses depois, quando já não era notícia). Agora, a divulgação de 250 mil de documentos diplomáticos também tem sido alvo de tentativas de desvalorização, desde os que dizem que “isto tudo já se sabia” até àqueles que acham que “há segredos importantes que é preciso guardar”.
Reparem como estes argumentos são contraditórios: se “isto tudo já se sabia” é porque não são “segredos importantes”, sacou?
Ora, por mais que “achemos que sabemos” o que pensam os sauditas acham iranianos, não conheço nenhum jornalista que não ficasse doido por uma citação do rei saudita chamando ao Irão “a cabeça da serpente”. E quanto à falta de interesse público, vejamos o príncipe André de Inglaterra justificando subornos no Cazaquistão — país de onde, uns meses mais tarde, saiu o homem que lhe comprou uma mansão por quinze milhões de libras, mais três milhões do que o pedido —; será que o contribuinte inglês e o cidadão cazaque, pelo menos, não têm interesse em saber como se faz uma “diplomacia económica” que tresanda a corrupção?
Como nota futura, duas coisas só aparentemente menores chamaram a minha atenção. Continue reading ‘Um inestimável serviço à democracia’
[ Rui Tavares |
O nosso teste
ResponderEliminar7 de Dezembro de 2010 O problema é quando o segredo se torna a regra e não a exceção, como demonstram os documentos até agora divulgados pela wikileaks.
“Vastos ataques por parte de uma China que tem medo da internet”. Este era o título do New York Times na passada sexta-feira.
No seu contexto, vale tudo o que se tem dito nos últimos dias sobre a wikileaks, cujos documentos — ironicamente — o New York Times usava para narrar a repressão chinesa, em 2009, contra o google.
Nesse mesmo dia um poderoso senador americano exigia que todas as companhias do seu país cessassem contactos com a wikileaks. Extraordinariamente, elas obedeceram. A Amazon tirou a página da wikileaks da rede. Outra empresa abateu-lhe o endereço. Outra ainda apagou “as visualizações de dados” — gráficos e não documentos classificados — que se encontravam no site. Seguiram-se ataques informáticos em massa. A wikileaks desapareceu. Umas horas depois reapareceu na Suiça, depois sumiu, apareceu de novo, e continua intermitente.
O Departamento de Estado dos EUA proibiu os seus funcionários de consultarem o site, mesmo que a partir de casa. Segundo a Universidade de Columbia, notificou estudantes para que não citassem a wikileaks nas suas páginas de twitter ou facebook, se quisessem preservar as hipóteses de um dia conseguirem emprego na administração. A Biblioteca do Congresso impediu o acesso à wikileaks a partir dos seus computadores.
(Na Europa, um ministro francês declarou inaceitável que a wikileaks pudesse alojar-se na França. Ao menos neste caso, a empresa francesa a que ele se referia respondeu de forma digna: senhor ministro, queixe-se a um juiz.)
Em poucos dias passámos da desvalorização — “isto não tem nada de novo” — ao mais vasto ataque por parte de governos que têm medo da internet. A China é aqui? Esse é o nosso teste. Continue reading ‘O nosso teste’
[ Rui Tavares
Tudo se desconjunta
ResponderEliminar9 de Dezembro de 2010 É pena que, no momento em que se revela a nossa verdadeira face, eu não tenha razão.
Um banco suíço decidiu congelar a conta de Julian Assange, o rosto da wikileaks, por este não residir no país.
Ou, por outras palavras: está o mundo para acabar.
Um banco suíço (suíço!) não aceita dinheiro de residentes no estrangeiro. Por amor de Zeus, a banca helvética é extraordinariamente cuidadosa com os seus clientes. Se ao menos Assange tivesse — como Isaltino — um sobrinho na Suíça, a coisa ainda poderia ser conversada.
Assim sendo, o banco suíço teve de recusar. E, por uma questão de decoro, foi forçado a publicitar essa recusa.
Ou, por outras palavras, anda aqui um gajo a cansar-se. Mas mas mas afinal o sigilo bancário — mas mas mas afinal os paraísos fiscais. Mas mas mas afinal as contas do Pinochet, mas mas mas afinal o branqueamento de capitais, mas mas mas mas afinal isto era tudo tão difícil. Anda um gajo a preocupar-se pensando que os bancos suíços guardam a sete chaves os dinheiros de ditadores e barões da droga, genocidas e senhores-da-guerra, milhares de milhões de dólares roubados a chilenos e filipinos e indonésios e angolanos e zairenses ou congoleses — e afinal uma porcaria de 31 mil euros guardados para reagir a um caso de assédio sexual mal amanhado podem ser cativados de um momento para o outro e objeto de um bom comunicado de imprensa para o mundo inteiro.
Aí Suíça, Suíça. Continue reading ‘Tudo se desconjunta’
[ Rui Tavares |