As revoltas populares na Tunísia e no Egipto puseram a nu o apoio das democracias europeias aos regimes autoritários considerados "aliados do ocidente".
Sob o pretexto do combate ao radicalismo islâmico, quer a União Europeia quer os Estados Unidos caucionaram durante décadas os regimes de Ben Ali e de Hosni Mubarak, ignorando e ocultando os atropelos aos direitos humanos cometidos nos países por eles governados.
A evolução dos acontecimentos, com a queda de Ben Ali e a imparável onda de contestação a Mubarak, colocaram os líderes europeus na incómoda situação de terem de se afastar dos seus até então aliados. A necessidade de salvar a face perante a opinião pública fizeram com que os pedidos de reformas democráticas na Tunísia e no Egipto, tímidos é certo, passassem lentamente a fazer parte do discurso oficial dos principais chefes de estado da União Europeia.
Por cá, para além da habitual declaração provinciana sobre a situação dos portugueses que vivem no Egipto, desconhecemos o que pensa Cavaco Silva sobre os acontecimentos dos últimos dias. Possivelmente não pensa nada, como nunca pensou nada sobre coisa nenhuma.
Quanto ao governo, o ministro dos negócios estrangeiros limitou-se a repetir o mesmo discurso, tardio e pouco convicto, dos seus homólogos europeus.
Também por estes dias, e enquanto a Praça Tahrir se transformava num símbolo mundial, o parlamento português inexplicavelmente chumbava um voto de solidariedade com a luta pela democracia no Egipto.
O Partido Socialista, alegadamente incomodado por ter sido confrontado com o facto de só agora os partidos de Ben Ali e de Hosni Mubarak terem sido expulsos da Internacional Socialista, aliou-se ao PSD e inviabilizou a aprovação do voto de solidariedade proposto pelo Bloco de Esquerda...
Leia-se o texto proposto pelo grupo parlamentar do Bloco de Esquerda e retirem-se as devidas conclusões sobre o vergonhoso sentido de voto das bancadas do bloco central...
A posição dos líderes políticos europeus, incluindo os portugueses, revela a hipocrisia de quem passou as últimas décadas a "assobiar para o lado", caucionando e perpetuando no poder regimes autocráticos e ditatoriais.
A luta dos tunisinos e dos egípcios não permite mais ambiguidades aos líderes europeus: ou estão inequivocamente do lado dos que se batem pela democracia ou continuarão, como até aqui, do lado dos ditadores.
Diz-me com quem andas...
ResponderEliminarPublicado por Fabian Figueiredo
Today the Socialist International combines its traditional struggle for freedom, justice and solidarity with a deep commitment to peace, the protection of the environment, and the development of the South. All these issues require common answers. To this end, the Socialist International seeks the support of all those who share its values and commitment.
O debate na blogosfera tornou-se interessante, e por mais populista que seja o discurso do Jugular ou de qualquer porta-voz do Partido Socialista, tornou-se realmente difícil justificar o porquê de o PS ter inviabilizado o voto de solidariedade com o povo egípcio. Tentou-se instrumentalizar a luta do povo egípcio e atacar o PS e o governo, dizem eles.
Argumento velho e com os cânones do costume. Mas, afinal de contas, o que estava em causa nessa votação era isto: A Assembleia da República, reunida em plenário, solidariza‐se com os protestos pacíficos do povo egípcio e com as suas exigências de fim imediato da ditadura e de marcação de eleições livres.
Muito instrumentalizador e oportunista como se poder verificar.
Na verdade, o que mais os chateia no meio disto tudo, é que a sociedade portuguesa ficou a saber que por mais que o PS vomite a Coreia do Norte para cima do PCP, Mubarak e Ben-Ali eram seus camaradas até terem caído no desuso. Talvez se tenha que passar o mesmo para que Laurent Gbabo e José Eduardo dos Santos deixem de receber suporte dessa grande organização social-DEMOCRÁTICA que é a IS.
Para finalizar e a bem da memória histórica, convém relembrar que António Guterres foi presidente da Internacional entre 1999 e 2005, da qual Mário Soares é presidente honorário.
Se alguém conhecer algum esforço feito por estes para retirar partidos que suportam ditadores por esse mundo, façam o favor de me corrigirem.
A velha sabedoria em novas antenas
ResponderEliminarOs tempos modernos não começam de uma vez por todas.
O meu avô já vivia numa época nova.
O meu neto talvez ainda viva na antiga.
A carne nova come-se com velhos garfos.
Época nova não a fizeram os automóveis
nem os tanques
nem os aviões sobre os telhados
nem os bombardeiros.
As novas antenas continuaram a difundir as velhas asneiras
A sabedoria continuou a passar de boca em boca.
Bertolt Brecht, Os tempos modernos
Egipto: pergunto-me por quê...
ResponderEliminarPaíses europeus estão a apoiar Omar Suleiman, indicado para ser presidente interino do Egipto, que praticou a tortura, metendo nas prisões do Egipto cerca de 30 mil, incluindo pessoas sequestradas pela CIA
Artigo | 7 Fevereiro, 2011 - 17:36 | Por Juan Cole
Suleiman praticou a tortura, a mando de Bush. Foto DoD por Cherie A. Thurlby, wikimedia commons
Pergunto-me por quê...
– As autoridades de um país europeu, a Suíça, insistem na ideia de julgar George W. Bush, acusado de tortura, se aparecer para dar palestras no país?
Ora, pois se os países europeus estão a apoiar Omar Suleiman indicado para ser presidente interino do Egipto, e foi ele, Suleiman, quem praticou a tortura, a mando de Bush!
Suleiman meteu nas prisões do Egipto cerca de 30 mil acusados de associação com muçulmanos fundamentalistas, e aceitou prender também militantes suspeitos sequestrados pela CIA-EUA. E torturou todos. Muitos eram inocentes.
Um deles, Sheikh Libi, foi torturado para ‘informar’ que Saddam Hussein estava a treinar agentes da Al-Qaeda – ‘informação’ que saiu directamente das masmorras de tortura de Suleiman para o discurso de Colin Powell na ONU, para justificar a invasão e a Guerra do Iraque.
E pergunto-me por quê...
Se Frank Wisner, enviado informal do presidente Obama ao Egipto, é lobista pago pelo Egipto e diz coisas como “Mubarak deve ficar”, que, depois, Obama é obrigado a desdizer...
– Por que Obama não mandou ao Egipto, então, um enviado da ONG Human Rights Watch, em vez de mandar Wisner?
E pergunto-me por quê...
Se Bush e os neoconservadores implantaram uma democracia-ponte no Iraque...
– Por que o primeiro-ministro do Iraque, Nouri al-Maliki, teve de prometer que não concorrerá a eleições (rezando pela mesma cartilha dos ditadores do Iémene e do Egipto)?
– E por que al-Maliki mantém prisões secretas onde se torturam pessoas?
– E que comissões independentes está a inventar agora (como a comissão eleitoral)?
E pergunto-me por quê...
Se Hosni Mubarak, os seus generais e o seu partido governante (Partido Nacional Democrático) tornaram-se especialistas em fraude eleitoral e corrupção em todas as eleições nas quais participaram ao longo de várias décadas...
– Por que, de repente, se teriam convertido em parceiros confiáveis para levar o país até as próximas eleições presidenciais em Setembro?
E pergunto-me por quê...
Se o regime de Mubarak tem afinal a oportunidade de ouro para democratizar-se...
– Por que sua polícia secreta está dedicada a vasculhar contas do Facebook à caça de nomes para prender, matar, rebentar?
E onde está Wael Ghonim – o executivo da Google que criou a página Facebook para organizar as manifestações de 25 de Janeiro, actualmente desaparecido?
E pergunto-me por quê...
Se a renúncia do alto comando do partido de Mubarak e do próprio Mubarak é sincera e significa alguma coisa...
– Nesse caso... Por que não renunciam logo à presidência, uma vez que partido governante só é partido governante se governar e só serve se for uma escada que leve ao poder?
E pergunto-me por quê...
Se a Fraternidade Muçulmana é o partido radical que tantos dizem que seria...
Então, por quê
a) a Fraternidade Muçulmana, o maior partido de oposição, já está reunida com Suleiman, iniciando negociações? E
b) Por que a Fraternidade Muçulmana desautorizou a fala do ayatollah Ali Khamenei (que disse que a revolução egípcia seria revolução islâmica) e declarou que a revolução egípcia é nacional?!