Selvagens, como cães famintos
trincharemos o velho mundo.
Selvagens, trincharemos o velho mundo
até o sangue,
até o sangue, até o osso.
Faremos um belo enterro.
Como formigas seguiremos o ataúde
(haverá muito trabalho então)
e com terra
com terra
taparemos
este nosso bom
e velho mundo.
Karel Destovnik Kajuh - "Selvagens, Como Cães Famintos"
(Tradução: Aleksandar Jovanovic)
(Fotografia: Paulo Nozolino)
Redução das indemnizações por despedimento vai valer para todos
ResponderEliminarNo rol de novas medidas de austeridade anunciadas por Teixeira dos Santos consta a redução das indemnizações aos trabalhadores em caso de despedimento não só para os futuros contratos de trabalho, mas também para os actuais.
Artigo | 11 Março, 2011 - 13:04
Teixeira dos Santos anunciou a redução das pensões acima de 1.500 euros, numa lógica semelhante à dos cortes salariais. O ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, anunciou esta sexta-feira o reforço das medidas da chamada consolidação orçamental ainda em 2011, justificadas como “medida de precaução” para assegurar o objectivo do défice este ano.
Haverá também medidas adicionais em 2012 e 2013, cortando custos na ordem dos 2,4% do PIB na despesa e obtendo 1,3% de aumento da receita.
As medidas anunciadas incluem o congelamento das pensões e a sua redução acima de 1.500 euros, com a aplicação da contribuição especial, numa lógica semelhante à dos cortes salariais.
Redução das indemnizações por despedimento é para todos
No documento divulgado, o governo reconhece aquilo que até agora negara: a redução das indemnizações aos trabalhadores em caso de despedimento não irá aplicar-se apenas aos futuros contratos de trabalho, mas também aos actuais. Todos os trabalhadores serão afectados por estes cortes.
Teixeira dos Santos anunciou ainda uma nova redução dos custos com medicamentos e subsistemas públicos de saúde, aprofundamento da “racionalização” da rede escolar, aumento da eficiência no aprovisionamento e outras medidas de controlo de custos operacionais.
Serão ainda diminuídas as transferências para as autarquias e regiões autónomas e reduzidas as despesas de capital.
Novo aumento de impostos
Para aumentar a receita, será feita uma revisão e limitação dos benefícios e deduções fiscais, em IRS e IRC, racionalização da estrutura de taxas do IVA, actualização dos impostos específicos sobre o consumo, conclusão da convergência do regime de IRS de pensões e rendimentos de trabalho.
Para isso, o governo vai voltar a propor a limitação dos benefícios e deduções fiscais e a revisão da estrutura das taxas de IVA, que não foram aplicadas este ano devido ao acordo com o PSD, disse o ministro das Finanças.
“O que está aqui em cima da mesa é de facto a mesma proposta que já esteve em discussão e nós precisamos de prosseguir com este esforço quer do lado da despesa, quer do lado da receita”, confirmou o ministro, que considerou que “será importante haver um entendimento político” nesta matéria. Teixeira dos Santos anunciou que o governo irá trabalhar para encontrar consensos para estas medidas.
Descoberto um buraco nas finanças públicas?
O jornal alemão Financial Times Deutschland afirma na sua edição de sexta-feira que a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu terão descoberto um buraco nas finanças públicas portuguesas durante a sua missão técnica em Lisboa há duas semanas.
Esta sexta-feira reúne-se também o Conselho Europeu para discutir novas normas de funcionamento do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, quando aumentam as pressões para Portugal recorrer ao fundo. O ministro austríaco das Finanças, Josep Pröll, disse ao Financial Times britânico que Portugal deverá ponderar rapidamente a apresentação de um pedido de ajuda do fundo de socorro do euro. “O meu sinal para Portugal é para olhar para a Grécia e para a Irlanda: não reajam tarde demais, tomem a vossa decisão brevemente: sim ou não”, afirmou.
Administradores da EDP Renováveis ganharam mais 53%
ResponderEliminarAna Maria Fernandes, CEO da subsidiária da EDP para as energias renováveis, ganhou mais 140% em relação ao ano anterior. A empresa lucrou menos 30% e não distribuiu dividendos aos accionistas.
Artigo | 11 Março, 2011 - 02:31
Ana Maria Fernandes recebeu um prémio de 208.939 euros, que se somou aos 384.000 euros em remunerações fixas.
A EDP Renováveis pagou no ano passado 1.158 milhões de euros ao seu conselho de administração e comissão de auditoria. Este valor representa um crescimento de mais de 50% em relação a 2009.
O Relatório e Contas de 2010 da subsidiária da EDP para as energias renováveis revela que a CEO da empresa, Ana Maria Fernandes, recebeu um prémio de 208.939 euros, que se somou aos 384.000 euros em remunerações fixas. Teve assim um aumento de 140% em relação ao recebido em 2009.
Os membros da Comissão Executiva têm ainda um plano de poupança de reforma que funciona como complemento de reforma e corresponde a 5% do valor do respectivo vencimento anual.
Em 2010, a EDP Renováveis teve um lucro de 80 milhões de euros, menos 30% face ao ano anterior.
A empresa optou por não distribuir dividendos pelos resultados de 2010, uma decisão que suscitou um pedido de esclarecimento da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários por contrariar as indicações dadas no prospecto da oferta pública de venda.
Américo Amorim está ainda mais rico
ResponderEliminarHomem mais rico de Portugal viu aumentar a sua fortuna pessoal em 1.100 milhões no último ano e subiu 12 lugares no ranking da revista Forbes, ocupando agora a posição 200.
Artigo | 11 Março, 2011 - 01:30
O empresário da cortiça e do petróleo subiu 12 lugares no ranking elaborado pela revista Forbes em 2011. Apesar da crise financeira que o país atravessa, Américo Amorim está ainda mais rico. O empresário da cortiça e do petróleo continua a ser o mais rico de Portugal, segundo a revista norte-americana Forbes, e subiu 12 lugares no ranking elaborado pela revista em 2011. Está agora na 200ª posição a nível mundial, com uma riqueza individual avaliada pela Forbes em 5,1 mil milhões de dólares. Ganhou 1.100 milhões no último ano.
O 2º português mais rico é Alexandre Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins, aparece pela primeira vez na lista de 1210 pessoas com fortuna superior a mil milhões de dólares, ocupando a 512ª posição a nível mundial, com uma fortuna avaliada em 2,3 mil milhões de dólares.
Belmiro de Azevedo, líder da Sonae, é o 3º português da lista e o único que perdeu lugares no ranking, caindo da 655ª posição em 2010 para o 833.º lugar este ano.
A lista é liderada pelo mexicano Carlos Slim, seguido pelos americanos Bill Gates e Warren Buffett. Nos dez primeiros, há 4 norte-americanos, um mexicano, um francês, um espanhol, dois indianos e um brasileiro (Eike Batista).
Contratos a prazo: Portugal leva a prata
ResponderEliminarDe acordo com um estudo do European Company Survey, Portugal é já o segundo país da Europa com maior número de contratados a prazo, sendo apenas ultrapassada pela Polónia,com 20% de contratados a prazo, e estando na mesma situação que a Holanda e a Madedónia.
Os dados do Eurofond referem ainda que em Portugal, na Polónia e na Grécia 3 em cada 10 empresas têm funcionários a trabalhar em regime independente, que o Diário Económico compara, erradamente, com os recibos verdes portugueses, visto que as especificidades dos recibos verdes não encontram paralelo na Europa.
Assim, caem por terra as ideias que todos os dias nos querem vender de que existe pouca flexibilidade no mercado de trabalho em Portugal. Na verdade, temos contratos a prazo e falsos recibos verdes ilegais e a isso não correspondeu a prometida inflexão das taxas de desemprego, antes pelo contrário, o aumento destas formas de contratação facilitou o aumento do desemprego.
Publicada por Precários Inflexíveis em 10:53
O PEC4 está na rua :: Vamos juntar-nos para o derrotar na rua
ResponderEliminarComo sempre afirmámos, a proposta de precariedade global está aí para todos, de todas as idades. Apesar do governo não ter a coragem de explicar os novos cortes no Subsídio de Desemprego que já não chega à metade dos desempregados, os cortes generalizados nos apoios sociais ou salário indirecto, sabemos que o PEC4 aí está.
As fortunas dos 3 mais ricos do país aumentaram no último ano 1,4 mil milhões de euros. No país da exploração legal e ilegal, dizemos-lhes que não aceitaremos nunca a proposta de precariedade como inevitável porque sabemos que o problema centra-se na injusta e predatória distribuição da riqueza produzida. Vamos exigir na rua os nossos direitos, o salário directo e indirecto pelos quais os nossos pais e avós lutaram, porque são dignos e devidos. Não aceitaremos vidas a prazo ou a recibo verde para que alguns tirem daí todas as vantagens.
No país em que a precariedade atinge quase 2 milhões de pessoas, tantas quantas a pobreza atinge, Américo Amorim retira todas as vantagens dos favores da Galp oferecidos pelo governo, sempre e de cada vez que colocamos uma gota de gasolina ou gasóleo. No país em que temos de trocar a democracia no local de trabalho pelo falso recibo verde ou falso trabalho a prazo, Alexandre Soares dos Santos ou Belmiro de Azevedo exploram milhares de trabalhadores no Pingo Doce, Feira Nova, Continente... Exploram-nos também a todos através de margens de lucros grotescas. Os banqueiros ganham mais, e pagam menos do que qualquer cidadão.
O regime e a economia em que se baseia o modelo social actual estão em crise. Perante essa crise, o governo, com ajuda do maior partido da oposição, concretiza mudanças profundas que nos fazem regredir dezenas de anos do ponto de vista civilizacional. Esta crise de regime marcará a mudança profunda das relações sociais em Portugal, da relação entre trabalhadores e patrões também.
A mudança persistirá, para bem da maioria, ou para muito mal da maioria. Nós, já fizemos a nossa escolha. Achamos que os milhões de Amorim, de Belmiro de Azevedo, António Mexia, família Mello, família Espírito Santo ou Soares dos Santos, têm desde já de ser remetidos para financiamento da Segurança Social e em benefício da economia como garantia dos postos de trabalho. Esse tem de ser o papel da economia.
Amanhã estaremos em Lisboa e em todos os lugares do país onde a força sair à rua. Daremos tudo o que pudermos e inventaremos força onde ela não existir. Publicada por Precários Inflexíveis em 12:39
Sexta-feira, 11 de Março de 2011
ResponderEliminarProtesto da Geração "à rasca " :: 12 de Março :: Sábado(15h) :: É amanhã!
É já amanhã às 15h que vamos estar todo juntos na Av. Da Liberdade (Lisboa) e na Praça da Batalha (Porto) no Protesto da Geração à Rasca.
Tentaram dizer-nos que esta era uma guerra entre pais e filhos, mas todos sabemos que a guerra é contra a precariedade e contra o desemprego que nos rouba direitos e nos congela a vida.
Amanhã, às 15h, vamos ter a hipótese de reclamar e construir a nossa vida, de dizermos como vai ser o nosso futuro.
Os Precári@s Inflexíveis lá estarão de braços dados com todos os que não se deixam pisar!
Publicada por Precários Inflexíveis em 14:22
A Grécia ao fundo do túnel
ResponderEliminarQuem ainda não percebeu que a austeridade no contexto de uma recessão pode aumentar o défice público, e não diminui-lo, olhe para a Grécia. Como noticia o Jornal de Negócios, o défice Grego em finais de Fevereiro deste ano foi de 1.028 milhões de euros. No mesmo período do ano passado (antes da austeridade) era inferior (944 milhões). As receitas caíram 9% e as despesas aumentaram 3,3%.
Em 2010 a economia grega encolheu 4% sobre uma contracção de 2,3% em 2009. E nos dois primeiros meses deste ano tem continuado a recuar. As receitas fiscais diminuíram 9% e as despesas aumentaram 3%.
Como é possível um défice aumentar com tanta austeridade? É simples: uma economia nacional não é a economia de uma família. Uma família que chega ao fim do mês com mais despesas que receitas pode reduzir o défice cortando as despesas (se não poder aumentar as receitas). Mas a redução das despesas de um estado (e o aumento das receitas com mais impostos) tem como efeito, em contexto de recessão, a contracção da procura, das vendas de bens e serviços, do emprego e do rendimento. A sua capacidade de cobrar impostos diminui e algumas despesas (nomeadamente prestações sociais) aumentam automaticamente.
Isto poderia não ser assim se as exportações aumentassem muito, ao mesmo tempo que diminuiam as importações. Mas numa Europa em que todos praticam a austeridade (inclusive os que dela não precisam) e que cresce pouco, as exportações não podem aumentar tanto quanto o necessário.
Faz de facto todo o sentido dizer que quando se quer reduzir o défice, nem sempre é uma boa ideia cortar o gasto público. Assim como me parece fazer sentido voltar a lembrar, em dia de PEC IV, que no fim do nosso túnel está a Grécia.
Postado por José M. Castro Caldas às 11.3.11
De que lado está quem protesta amanhã?
ResponderEliminarpor Daniel Oliveira
Amanhã, muitos, alguns ou poucos (não sabemos) jovens e menos jovens irão manifestar-se em várias cidades do País, naquele que é o primeiro protesto de alguma dimensão que nasce nas redes sociais e acaba na rua. Com a fragilidade de manifestações sem organização centralizada, esta poderá ser facilmente aproveitada.
O aproveitamento já começou, aliás. Gente que andava há uns meses a tentar marcar um desfile pela demissão de todos os políticos (ou não quer dizer nada ou é contra a democracia) aproveitou a boleia e marcou o seu "rendez-vous" para o mesmo lugar, em Lisboa, e para a mesma hora. Quem quis apoucar a manifestação dos precários aproveitou a deixa, fez-se de desentido e fingiu que um e outro protesto eram o mesmo.
Esta manifestação - a verdadeira, não a que aproveitou a boleia - é clara no seu tema: a precariedade nas relações laborais. Menos clara nos seus objetivos. Pode ser por mais direitos laborais para os mais jovens, exigindo responsabilidades a quem aproveita a crise e o desemprego para não assumir responsabilidades com os seus "colaboradores" (o próprio termo é todo um programa). Ou pode ser por menos direitos para os mais velhos, comprando a teoria de que são os supostos "direitos adquiridos" que impedem os mais novos de entrar no mercado de trabalho. Só os manifestantes poderão, com a sua participação, determinar quem é o seu alvo. E, já agora, quem são eles próprios: jovens contra os seus pais ou trabalhadores contra quem os explora.
A manifestação é, por si só, positiva, porque corresponde a um ato de cidadania que troca o resmungo derrotista pela participação democrática. Ela apresenta-se como "apartidária e laica". Ainda bem, porque há política (sim, esta é uma manifestação política) para além dos partidos. Mas ela não é, não pode ser, neutra. Quem protesta quer qualquer coisa. Esperemos que os manifestantes digam ao que vêm. Para que no dia seguinte não sejam usados por quem quer tirar ainda mais direitos laborais a quem ainda os tem.
Estou seguro que a esmagadora maioria dos que vão protestar sabe de que lado está na luta que se trava nestes tempos difíceis. Que não se esqueçam de o dizer. Se no dia seguinte todos aplaudirem a manifestação, saberá quem lá foi que falhou o seu objetivo. Só é consensual o que é inútil. Ou o que é reciclavel para todas as agendas.
Geração à rasca: a rajada de vento para pôr os cínicos no lugar
ResponderEliminarBruno Sena Martins
10:32 Sexta feira, 11 de Março de 2011
"Ora, um excêntrico, na maioria dos casos, é um caso particular e isolado. Não é verdade? (..) Não só um excêntrico "nem sempre" e um caso particular e isolado, mas, pelo contrário, acontece às vezes ser precisamente ele que transporta em si o cerne do comum, enquanto o resto das pessoas da sua época, por qualquer razão, foram arrancadas dele temporariamente, todas elas, por uma rajada de vento qualquer..." Fiódor Dostoiévski, Os irmãos Karamázov
A procissão dos cínicos tem-se afadigado em nos mostrar o absurdo das pretensões que movem o protesto da geração à rasca. Lembram-nos que o tempo dos garantismos acabou. Asseguram que os garantismos do passado semearam a precariedade do presente (esquecem-se que, bem ao contrário, que são as conquistas dos proletários precários das gerações passadas que inspiram a geração jovem do presente). Assumem inevitável que Portugal seja o país mais desigual da Europa. Explicam-nos que em tempos de competitividade global trabalho com segurança e direitos é um sonho anacrónico. Asseguram que a desregulação económica veio para ficar.
Excentricidade, pelos vistos, é achar que nenhuma economia, por muito fluida que seja, pode dispensar trabalhadores. Excentricidade, pelos vistos, é achar que esses trabalhadores têm direito a um projecto de vida que passe pela segurança do trabalho remunerado. Excentricidade, pelos vistos, é achar que os precários deixam de ser descartáveis quando se unirem para perceber que são imprescindíveis. Excentricidade, pelos vistos, é achar que podemos ter uma vida digna enquanto houver no mundo gente demasiado desesperada a ponto de perceber a exploração como dádiva capitalista. Excentricidade, pelos vistos, é achar que o desemprego dos mais velhos, que a exploração do trabalho não qualificado, que as reformas míseras são tão indignos como a vala comum em que caem muitos jovens licenciados. Excentricidade, pelos vistos, é querer mudar um estado de coisas que todos nos dizem inevitável e produto dos insondáveis desígnios do mercado.
Talvez, como diria Dostoiévski, que uma portentosa rajada de vento tenha mudado as coisas do lugar fazendo do bom senso uma excentricidade, talvez que o absurdo esteja no capitalismo especulativo das crises, nas empresas nacionais cujos lucros astronómicos não as impedem de fazer os trabalhadores dos seus call centers viverem em permanente tortura psicológica, talvez que o absurdo esteja no desejo de querer sair de casa dos pais, em ter um filho antes da meia-idade.
Por muito que agiotem o contrário, o "cerne do comum" está na geração à rasca, e quando as coisas estão fora do sítio, dizia o inglês, nada como desejar ter nascido para as pôr no lugar.
Os "rosa" e os "laranja" só merecem censura e repúdio!
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