Por vezes dás contigo desanimado Por vezes dás contigo a desconfiar Por vezes dás contigo sobressaltado Por vezes dás contigo a desesperar
De noite ou de dia, a luta é alegria E o povo avança é na rua a gritar
De pouco vale o cinto sempre apertado De pouco vale andar a lamuriar De pouco vale o ar sempre carregado De pouco vale a raiva para te ajudar
De noite ou de dia, a luta é alegria E o povo avança é na rua a gritar
E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho E vem o velho e vem o novo e o menino E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho E vem o velho e vem o novo e o menino Vem celebrar esta situação e vamos cantar contra a reacção»
Não falta quem te avise «toma cuidado» Não falta quem te queira manter calado Não falta quem te deixe ressabiado Não falta quem te venda o próprio ar
De noite ou de dia, a luta é alegria E o povo avança é na rua a gritar
E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho E vem o velho e vem o novo e o menino E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho E vem o velho e vem o novo e o menino Vem celebrar esta situação e vamos cantar contra a reacção
Domingo, 6 de Março de 2011 E o povo, pá? E foi assim que a representação da revolta dos comuns irrompeu portas adentro de um acomodado e medíocre festival da canção que se preparava para ser mais do mesmo, supondo destinar a Jel & Cª tão só o lugar de peninha no chapéu para introduzir algum picante na apagada e vil tristeza do costume. Só que os "Homens da Luta" deram a volta por cima, viraram o feitiço contra o feiticeiro, ganharam com o voto do público contra a maioria dos júris regionais convenientemente seleccionados e instalados, e não se esqueceram até de lembrar a manifestação da "Geração à Rasca" do próximo dia 12 de Março. Uma agradável surpresa. Ou como, nestes tempos de chumbo e servidão, faíscas irrompem do ventre das artes e do espectáculo, primeiro com os Deolinda, agora com Jel & Falâncio, para animar a malta e a mobilização dos comuns contra o egoísmo e a ganância corrupta dos poderosos. Afinal, como diz a canção, a luta (também) é alegria. Sem nos levarmos demasiado a sério. Aceitando, como os "Homens da Luta", confrontar com humor os nossos próprios estereótipos do combate social e político.
Fez-se história. Dezenas de anos depois, uma música com suficiente interesse ganhou o Festival da Canção e irá representar a pátria - ah, que gozo dá escrever isto - lá fora. Para cúmulo, no país de Merkel, o foco de todas as desgraças lusas. Para mais, a vitória foi conseguida graças ao voto dos espectadores, que contrariou o voto dos "especialistas" que tinham escolhido mais mais uma canção abaixo de cão, a caminho dos últimos lugares do Festival da Eurovisão (sim, eu de vez em quando espreito o festival). Poder-se-à dizer que o Festival da Eurovisão é o grau zero da música. Certo, e a realidade não desmente esta impressão. Mas entre a mediocridade enfatuada dos habituais, a parvoíce das péssimas letras - sempre à volta da ideia do "amor", ou da "alma lusa", ou do "fado" - e a pobreza mais do que franciscana das composições, e a mediania irónica da canção dos Homens da Luta, como não escolher a segunda? O maior feito desta dupla de humoristas foi ter dinamitado uma instituição da incompetência pátria, o nacional-cançonetismo, instituição muito mais do que simbólica (em tanta participação, o melhor que conseguimos foi para aí um 8.º lugar), no seu próprio terreno; a música dos Homens da Luta é primeiro um pastiche da música de intervenção - e por isto há muita gente de esquerda que não gosta deles -, mas o happening em que se tornou a sua participação no festival - as referências ao castiço nacional, as caricaturas do "povo", e depois a reacção do público à sua vitória, devidamente enfatizada pelo discurso de Jel - fez com que o acontecimento fosse uma inteligente desconstrução de algo perfeitamente anacrónico. Como não preferir a caricatura voluntária à involuntária? Os trabalhadores postiços às mulheres das sete saias da primeira canção?
Outro feito dos Homens da Luta foi terem conseguido que gente que poderia sentir-se ofendida com a caricatura se tenha de imediato colado a esta pequena vitória; na hora em que se contam espingardas contra o Governo, tudo conta (é espreitar o 5 Dias, para se confirmar). Por outro lado, a caixa de ressonância do Governo na blogosfera rapidamente veio anunciar o nojo que sente perante tal ofensa - ao Governo, presumo. Ah! Ah! Não me divertia tanto há algum tempo, confesso. E a procissão ainda vai no adro, a caminho da Alemanha. A luta é mesmo alegria.
... e agora, os que já estão fartos de bater na Deolinda vão tentar bater nos Homens da Luta, concerteza. Deixem-me adivinhar o argumentário: 'a música é má' ou 'isto é ridicularizar a esquerda' (ou 'a política' ou 'o festival da canção', o que vier à cabeça primeiro) ou aiai, a 'vergonha nacional', a imagem do país etcetcetc. já há grupos no facebook para pedir para eles não irem à final, na Alemanha. ...bom, eerr.... é o festival da canção - nunca foi um símbolo de bom gosto e já ninguém via aquilo há que anos... e agora não se fala noutra coisa, que o voto do público/povo (pago e via telefone) virou o resultado. e a audiência fina vaiou e saiu da sala. como assim, não se podem dizer coisas sérias a brincar? como assim, não valem caricaturas? é carnaval, ainda por cima. estamos em crise mas ainda temos sentido de humor, graçaadeus - e imaginar a cara do sócrates quando lhe contaram não-tem-preço. é o maior manguito ao sistema dos últimos tempos. 'a luta é alegria' - vamos para a rua, dia 12, e levamos música - que se não nos deixarem dançar isto não é uma revolução a sério. prime-time-artivism. . gui castro felga em 11:00 AM
Homens da Luta vencem Festival da Canção Dupla de humoristas derrotou 'São os Barcos de Lisboa', do cantor Nuno Norte, graças ao voto telefónico e vai representar Portugal na Alemanha com a canção 'Luta é Alegria'. Artigo | 7 Março, 2011 - 02:47
Falâncio anunciou a presença dos Homens da Luta na manifestação da Geração à Rasca do próximo dia 12 Os Homens da Luta perderam na votação dos júris distritais – só Viseu e Bragança lhes deram a pontuação máxima – mas acabaram poro vencer devido à votação por telefone. Por isso, depois de receber a taça de vencedor, o humorista Jel agradeceu a "todos os que pagaram 60 cêntimos mais IVA" para garantir a sua vitória. “Camaradas, pá, a todos aqueles que gostam muito obrigado, a todos aqueles que não gostam mais obrigado ainda, camaradas, pá! A luta é alegria, pá! É alegria, camaradas, pá! E nós vamos à Alemanha mostrar isso, que Portugal não é só fado, pá”, disse Jel, que dá voz aos Homens da Luta com o personagem Neto.
A letra da canção vencedora foi escrita por Vasco Duarte, o Falâncio, que respondeu à plateia descontente com a reviravolta no resultado: “O que nos interessa sempre, camaradas, é o voto do público. E povo sabe que os Homens da Luta estão sempre com ele. Viva o povo! Vivam os Homens da Luta! Viva a luta em Portugal, camaradas!”
Falâncio anunciou a presença dos Homens da Luta na manifestação da Geração à Rasca do próximo dia 12 e disse que a “a música dos Homens da Luta é dedicada ao povo. E àqueles que estão desempregados e passam mal no nosso país.”
Os Homens da Luta vão representar Portugal em Dusseldorf a 5 de Maio, garantindo que o Festival da Eurovisão irá ouvir cantar "contra a reacção".
Emoção de censura Deolindando de barato isso da geração e da educação, aconteceu que uma música permitiu identificações colectivas e soltou uma emoção que andava entalada em muitas gargantas. Uma sonora emoção de censura.
Não vale a pena fazer muitos exercícios à sua volta para procurar as suas limitações estéticas ou políticas. Sabemos que, como chapéus, gerações há muitas, e parvos ou palermas, encontraremos à sombra da mesma condição gente de muitas idades, encontraremos muitas resignações e resistências diferentes. Para além do mais, muitos/as dos verdes estão afinal já mais que maduros. E, sim, isso do canudo não é privilégio nem via rápida para o emprego, é direito. Sim, o que é parvo de facto, apenas e tão só, é ser escravo/a numa sociedade de abundância.
Deolindando de barato isso da geração e da educação, dia 12 será dia de emoção de censura. Uma estridente emoção de censura. Precários/as, já nos identificámos, já nos encontrámos, já nos fizemos ouvir. Falta desconstruir profundamente a ideia que isto tem mesmo de ser assim. E impor a possibilidade de mudar tudo.
Sabe bem mandar o Sócrates e a Merkel à ...Merkel!
ResponderEliminarA LUTA É ALEGRIA
ResponderEliminarPor vezes dás contigo desanimado
Por vezes dás contigo a desconfiar
Por vezes dás contigo sobressaltado
Por vezes dás contigo a desesperar
De noite ou de dia, a luta é alegria
E o povo avança é na rua a gritar
De pouco vale o cinto sempre apertado
De pouco vale andar a lamuriar
De pouco vale o ar sempre carregado
De pouco vale a raiva para te ajudar
De noite ou de dia, a luta é alegria
E o povo avança é na rua a gritar
E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho
E vem o velho e vem o novo e o menino
E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho
E vem o velho e vem o novo e o menino
Vem celebrar esta situação e vamos cantar contra a reacção»
Não falta quem te avise «toma cuidado»
Não falta quem te queira manter calado
Não falta quem te deixe ressabiado
Não falta quem te venda o próprio ar
De noite ou de dia, a luta é alegria
E o povo avança é na rua a gritar
E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho
E vem o velho e vem o novo e o menino
E tráz o pão e tráz o queijo e tráz o vinho
E vem o velho e vem o novo e o menino
Vem celebrar esta situação e vamos cantar contra a reacção
A luta continua quando o povo sai à rua!»
Domingo, 6 de Março de 2011
ResponderEliminarE o povo, pá?
E foi assim que a representação da revolta dos comuns irrompeu portas adentro de um acomodado e medíocre festival da canção que se preparava para ser mais do mesmo, supondo destinar a Jel & Cª tão só o lugar de peninha no chapéu para introduzir algum picante na apagada e vil tristeza do costume. Só que os "Homens da Luta" deram a volta por cima, viraram o feitiço contra o feiticeiro, ganharam com o voto do público contra a maioria dos júris regionais convenientemente seleccionados e instalados, e não se esqueceram até de lembrar a manifestação da "Geração à Rasca" do próximo dia 12 de Março. Uma agradável surpresa. Ou como, nestes tempos de chumbo e servidão, faíscas irrompem do ventre das artes e do espectáculo, primeiro com os Deolinda, agora com Jel & Falâncio, para animar a malta e a mobilização dos comuns contra o egoísmo e a ganância corrupta dos poderosos. Afinal, como diz a canção, a luta (também) é alegria. Sem nos levarmos demasiado a sério. Aceitando, como os "Homens da Luta", confrontar com humor os nossos próprios estereótipos do combate social e político.
Henrique Sousa, da Direcção da ATTAC Portugal
Contra a reacção
ResponderEliminarpor Sérgio Lavos
Fez-se história. Dezenas de anos depois, uma música com suficiente interesse ganhou o Festival da Canção e irá representar a pátria - ah, que gozo dá escrever isto - lá fora. Para cúmulo, no país de Merkel, o foco de todas as desgraças lusas. Para mais, a vitória foi conseguida graças ao voto dos espectadores, que contrariou o voto dos "especialistas" que tinham escolhido mais mais uma canção abaixo de cão, a caminho dos últimos lugares do Festival da Eurovisão (sim, eu de vez em quando espreito o festival). Poder-se-à dizer que o Festival da Eurovisão é o grau zero da música. Certo, e a realidade não desmente esta impressão. Mas entre a mediocridade enfatuada dos habituais, a parvoíce das péssimas letras - sempre à volta da ideia do "amor", ou da "alma lusa", ou do "fado" - e a pobreza mais do que franciscana das composições, e a mediania irónica da canção dos Homens da Luta, como não escolher a segunda? O maior feito desta dupla de humoristas foi ter dinamitado uma instituição da incompetência pátria, o nacional-cançonetismo, instituição muito mais do que simbólica (em tanta participação, o melhor que conseguimos foi para aí um 8.º lugar), no seu próprio terreno; a música dos Homens da Luta é primeiro um pastiche da música de intervenção - e por isto há muita gente de esquerda que não gosta deles -, mas o happening em que se tornou a sua participação no festival - as referências ao castiço nacional, as caricaturas do "povo", e depois a reacção do público à sua vitória, devidamente enfatizada pelo discurso de Jel - fez com que o acontecimento fosse uma inteligente desconstrução de algo perfeitamente anacrónico. Como não preferir a caricatura voluntária à involuntária? Os trabalhadores postiços às mulheres das sete saias da primeira canção?
Outro feito dos Homens da Luta foi terem conseguido que gente que poderia sentir-se ofendida com a caricatura se tenha de imediato colado a esta pequena vitória; na hora em que se contam espingardas contra o Governo, tudo conta (é espreitar o 5 Dias, para se confirmar). Por outro lado, a caixa de ressonância do Governo na blogosfera rapidamente veio anunciar o nojo que sente perante tal ofensa - ao Governo, presumo. Ah! Ah! Não me divertia tanto há algum tempo, confesso. E a procissão ainda vai no adro, a caminho da Alemanha. A luta é mesmo alegria.
e o povo, pá?
ResponderEliminar... e agora, os que já estão fartos de bater na Deolinda vão tentar bater nos Homens da Luta, concerteza. Deixem-me adivinhar o argumentário: 'a música é má' ou 'isto é ridicularizar a esquerda' (ou 'a política' ou 'o festival da canção', o que vier à cabeça primeiro) ou aiai, a 'vergonha nacional', a imagem do país etcetcetc. já há grupos no facebook para pedir para eles não irem à final, na Alemanha.
...bom, eerr.... é o festival da canção - nunca foi um símbolo de bom gosto e já ninguém via aquilo há que anos... e agora não se fala noutra coisa, que o voto do público/povo (pago e via telefone) virou o resultado. e a audiência fina vaiou e saiu da sala.
como assim, não se podem dizer coisas sérias a brincar? como assim, não valem caricaturas? é carnaval, ainda por cima. estamos em crise mas ainda temos sentido de humor, graçaadeus - e imaginar a cara do sócrates quando lhe contaram não-tem-preço. é o maior manguito ao sistema dos últimos tempos.
'a luta é alegria' - vamos para a rua, dia 12, e levamos música - que se não nos deixarem dançar isto não é uma revolução a sério. prime-time-artivism.
. gui castro felga em 11:00 AM
Homens da Luta vencem Festival da Canção
ResponderEliminarDupla de humoristas derrotou 'São os Barcos de Lisboa', do cantor Nuno Norte, graças ao voto telefónico e vai representar Portugal na Alemanha com a canção 'Luta é Alegria'.
Artigo | 7 Março, 2011 - 02:47
Falâncio anunciou a presença dos Homens da Luta na manifestação da Geração à Rasca do próximo dia 12
Os Homens da Luta perderam na votação dos júris distritais – só Viseu e Bragança lhes deram a pontuação máxima – mas acabaram poro vencer devido à votação por telefone. Por isso, depois de receber a taça de vencedor, o humorista Jel agradeceu a "todos os que pagaram 60 cêntimos mais IVA" para garantir a sua vitória. “Camaradas, pá, a todos aqueles que gostam muito obrigado, a todos aqueles que não gostam mais obrigado ainda, camaradas, pá! A luta é alegria, pá! É alegria, camaradas, pá! E nós vamos à Alemanha mostrar isso, que Portugal não é só fado, pá”, disse Jel, que dá voz aos Homens da Luta com o personagem Neto.
A letra da canção vencedora foi escrita por Vasco Duarte, o Falâncio, que respondeu à plateia descontente com a reviravolta no resultado: “O que nos interessa sempre, camaradas, é o voto do público. E povo sabe que os Homens da Luta estão sempre com ele. Viva o povo! Vivam os Homens da Luta! Viva a luta em Portugal, camaradas!”
Falâncio anunciou a presença dos Homens da Luta na manifestação da Geração à Rasca do próximo dia 12 e disse que a “a música dos Homens da Luta é dedicada ao povo. E àqueles que estão desempregados e passam mal no nosso país.”
Os Homens da Luta vão representar Portugal em Dusseldorf a 5 de Maio, garantindo que o Festival da Eurovisão irá ouvir cantar "contra a reacção".
Porque não mandar o Mário Soares e o Miguel Sousa Tavares também à Merkel!
ResponderEliminarO Miguel Sousa Tavares não é um precário como o Vicente Jorge Silva?
ResponderEliminarO chato, mesmo chato é que a nós ninguém nos paga as conversas de café, nem nos pagam como comentadores ou "opinion makers"...
ResponderEliminarEmoção de censura
ResponderEliminarDeolindando de barato isso da geração e da educação, aconteceu que uma música permitiu identificações colectivas e soltou uma emoção que andava entalada em muitas gargantas. Uma sonora emoção de censura.
Não vale a pena fazer muitos exercícios à sua volta para procurar as suas limitações estéticas ou políticas. Sabemos que, como chapéus, gerações há muitas, e parvos ou palermas, encontraremos à sombra da mesma condição gente de muitas idades, encontraremos muitas resignações e resistências diferentes. Para além do mais, muitos/as dos verdes estão afinal já mais que maduros. E, sim, isso do canudo não é privilégio nem via rápida para o emprego, é direito. Sim, o que é parvo de facto, apenas e tão só, é ser escravo/a numa sociedade de abundância.
Deolindando de barato isso da geração e da educação, dia 12 será dia de emoção de censura. Uma estridente emoção de censura. Precários/as, já nos identificámos, já nos encontrámos, já nos fizemos ouvir. Falta desconstruir profundamente a ideia que isto tem mesmo de ser assim. E impor a possibilidade de mudar tudo.
Carlos Carujo 7.3.11