sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Carlos Drummond de Andrade, no dia em que passam 25 anos sobre a sua morte


.



4 comentários:

  1. Poema de aniversário para o amigo:
    Num dia tão especial,
    só mesmo em forma de poesia
    Eu poderia expressar a minha felicidade
    Por tê-lo como meu amigo.
    Mesmo que palavras não consigam
    Demonstrar o meu carinho por você,
    Gostaria de dedicar-lhe hoje e por todo sempre
    A compreensão, o afeto fraterno, o sorriso acolhedor

    E sobre tudo, o meu coração amigo
    Para te amparar e amar todo o tempo.

    Que neste dia do seu aniversário,
    Você sinta o sabor de uma grande,
    Verdadeira e eterna amizade.

    Feliz Aniversário

    ResponderEliminar
  2. Resíduo (trecho)

    (…) Pois de tudo fica um pouco.
    Fica um pouco de teu queixo
    no queixo de tua filha.
    De teu áspero silêncio
    um pouco ficou, um pouco
    nos muros zangados,
    nas folhas, mudas, que sobem.
    Ficou um pouco de tudo
    no pires de porcelana,
    dragão partido, flor branca,
    ficou um pouco
    de ruga na vossa testa,
    retrato.
    (…) E de tudo fica um pouco.
    Oh abre os vidros de loção
    e abafa
    o insuportável mau cheiro da memória.

    As sem razões do amor

    Eu te amo porque te amo.
    Não precisas ser amante,
    e nem sempre sabes sê-lo.
    Eu te amo porque te amo.
    Amor é estado de graça
    e com amor não se paga.

    Amor é dado de graça,
    é semeado no vento,
    na cachoeira, no elipse.
    Amor foge a dicionários
    e a regulamentos vários.

    Eu te amo porque não amo
    bastante ou demais a mim.
    Porque amor não se troca,
    não se conjuga nem se ama.
    Porque amor é amor a nada,
    feliz e forte em si mesmo.

    Amor é primo da morte,
    e da morte vencedor,
    por mais que o matem (e matam)
    a cada instante de amor.


    powered by

    Carlos+Drummond+de+Andrade

    ResponderEliminar
  3. Vou-me Embora pra Pasárgada
    Vou-me embora pra Pasárgada
    Lá sou amigo do rei
    Lá tenho a mulher que eu quero
    Na cama que escolherei
    Vou-me embora pra Pasárgada
    Vou-me embora pra Pasárgada
    Aqui eu não sou feliz
    Lá a existência é uma aventura
    De tal modo inconseqüente
    Que Joana a Louca de Espanha
    Rainha falsa e demente
    Vem a ser contraparente
    Da nora que nunca tive
    E como farei ginástica
    Andarei de bicicleta
    Montarei em burro brabo
    Subirei no pau-de-sebo
    Tomarei banhos de mar!
    E quando estiver cansado
    Deito na beira do rio
    Mando chamar a mãe-d’água
    Pra me contar as histórias
    Que no tempo de eu menino
    Rosa vinha me contar
    Vou-me embora pra Pasárgada
    Em Pasárgada tem tudo
    É outra civilização
    Tem um processo seguro
    De impedir a concepção
    Tem telefone automático
    Tem alcalóide à vontade
    Tem prostitutas bonitas
    Para a gente namorar
    E quando eu estiver mais triste
    Mas triste de não ter jeito
    Quando de noite me der
    Vontade de me matar
    - Lá sou amigo do rei -
    Terei a mulher que eu quero
    Na cama que escolherei
    Vou-me embora pra Pasárgada
    ( Manuel Bandeira )

    ResponderEliminar
  4. A que morreu às portas de Madrid

    A que morreu às portas de Madrid,
    Com uma praga na boca
    E a espingarda na mão,
    Teve a sorte que quis,
    Teve o fim que escolheu.
    Nunca, passiva e aterrada, ela rezou.
    E antes de flor, foi, como tantas, pomo.
    Ninguém a virgindade lhe roubou
    Depois de um saque - antes a deu
    A quem lha desejou,
    Na lama dum reduto,
    Sem náusea mas sem cio,
    Sob a manta comum,
    A pretexto do frio.
    Não quis na retaguarda aligeirar,
    Entre «champanhe», aos generais senis,
    As horas de lazer.
    Não quis, activa e boa, tricotar
    Agasalhos pueris,
    No sossego dum lar.
    Não sonhou minorar,
    Num heroísmo branco,
    De bicho de hospital,
    A aflição dos aflitos.

    Uma noite, às portas de Madrid,
    Com uma praga na boca
    E a espingarda na mão,
    À hora tal, atacou e morreu.

    Teve a sorte que quis.
    Teve o fim que escolheu.

    Reinaldo Ferreira

    ResponderEliminar

Related Posts with Thumbnails